Diversos são os títulos e subtítulos que podem ser dados aos embargos da Rússia às carnes brasileiras – capítulos de uma novela interminável. Basta abrir qualquer site de notícias, jornal ou outro meio de comunicação que facilmente encontraremos informações referentes a este tema que já virou brincadeiras ou histórias infantis.
Se recapitularmos cada episódio, precisaríamos de longo texto. Mas lembro me da grande conquista de mercado quando da abertura da Rússia para a carne suína brasileira – mérito e competência dos que negociaram. Porém, na verdade, não os conheciam (russos). Nosso potencial produtivo e nossa capacidade de exportação é algo que confronta com os interesses produtivos e sociais daquele país. Por outro lado e igualmente equivocado, estava o posicionamento público político brasileiro de que ali estava a salvação do campo ou do agronegócio suinicola.
Daquele momento em diante nunca mais tivemos paz, ou melhor, ganhos equilibrados. Não tivemos paz financeira em nossa atividade, não pelo volume de importação ou pela valorização do produto brasileiro exportado, mas pelas freqüentes notícias negativas que se espalham como fogo na palha em nosso universo de produção. Penso que se vivêssemos em terra de mudos, as crises não tomariam tamanha proporção.
Imaginem que chegamos ao ridículo de – segundo eles – encontrar irregularidades e marcar data para fechar as importações! Parece atitude de nossa infância, que ao fazer qualquer coisa que desapontasse nosso pai e ele nos dizia a distância – “espera que mais tarde nós conversamos” – Já começava a tortura psicológica. Assim esta com este importador: está marcando data para deixar de importar de algum estado e o preço do suíno cai em todo o Brasil, fruto de todos os comentários feitos relação a esta noticia. Os números totais de exportação brasileira para aquele país não tiveram variações negativas nos últimos anos – apenas um reajuste de estado exportador – e aí, a soma das notícias negativas com a realocação dos produtos oriundos dos estados que por hora perdem a condição de exportador fazem uma verdadeira tempestade negativa neste mercado. Até quando vamos ficar submissos a esta realidade, sendo vitimas de um importador que nos leva menos de 10% de nossa produção e deixando de priorizar o mercado interno que consome mais de 80%?
Como está evidenciado, a grande vitima destes desequilíbrios são os produtores independentes e as pequenas e médias agroindústrias – que na verdade não exportam ou o fazem de maneira muito pequena. Está na hora de proclamar nossa real independência e criarmos nossa própria identidade, fruto da soma destes atores e ajustando seu foco no cliente principal vendendo qualidade, dividindo tarefas e lucros ,divulgando produtos e sonhos. Esta é a bandeira do INCS, aguardem para breve.
Wolmir de Souza, presidente do Instituto Nacional da Carne Suína (INCS)