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Agroindústrias

BRF negocia compra de unidade da Doux

Unidade de Caxias do Sul abate cerca de 3,2 mil suínos por dia e produz industrializados de carne suína. Se for concretizada, a aquisição da unidade será um dos primeiros passos na estratégia recente da empresa.

A BRF Brasil Foods negocia a aquisição de ativos relacionados à operação de produção e abate de suínos da francesa Doux Frangosul, localizada no distrito de Ana Rech, em Caxias do Sul (RS). A informação foi confirmada ontem pela empresa ao mercado depois de ter sido antecipada pelo Valor Online. A unidade de Caxias do Sul abate cerca de 3,2 mil suínos por dia e produz industrializados de carne suína.

Antes da divulgação do comunicado da BRF, a Doux dissera, por meio de sua assessoria, que não se pronunciaria sobre especulações.

Se for concretizada, a aquisição da unidade de suínos da Doux pela BRF será um dos primeiros passos na estratégia recente da empresa resultante da união de Perdigão e Sadia. Para que sua criação fosse aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), a BRF teve de aceitar vender um bloco de unidades e marcas. Além disso, terá de suspender o uso da marca Perdigão (por três a cinco anos em algumas categorias) e Batavo, por quatro anos.

Essa alienação de ativos e a suspensão de marcas levará à perda de receita, que precisará ser reposta, disse em recente entrevista ao Valor o presidente da BRF, José Antônio do Prado Fay. A recomposição do faturamento poderá ocorrer via compra de outros ativos no Brasil ou no exterior, segundo ele.

Na ocasião, Fay disse, ainda, que os opções de aquisição dentro do país ficaram mais restritas. Marcas, por exemplo, não podem ser adquiridas. No entanto, caso a compra da unidade de suínos da Doux seja concretizada, a BRF estará investindo em capacidade instalada, e não em marcas. No comunicado enviado ao mercado, a BRF enfatizou que a negociação não envolve a aquisição de qualquer marca.

A operação com a BRF pode aliviar a situação da Doux, que enfrenta dificuldades desde o início de 2009, quando começou a atrasar os pagamentos aos criadores integrados de aves e suínos. Desde lá a multinacional já apresentou sete cronogramas para eliminar os atrasos, que em alguns momentos chegaram a 120 dias além do prazo normal de 45 dias para liquidação dos lotes de animais entregues para abate.

O último cronograma foi apresentado na segunda-feira, quando a Doux prometeu colocar os pagamentos em dia até dezembro. Antes, a promessa era liquidar 50% dos débitos até o fim de agosto, mas só na semana passada os atrasos foram reduzidos de cerca de 110 para 60 dias, conforme a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag-RS).

Com cerca de 2,2 mil criadores integrados no Rio Grande do Sul, a Doux Frangosul tem dois frigoríficos de aves no Estado, em Montenegro e Passo Fundo, além do abatedouro de suínos em Caxias do Sul. A empresa também tem incubatórios, fabricas de rações e de industrializados de frangos.

Quando os atrasos nos pagamentos começaram, a companhia atribuiu o problema à retração das exportações em função da queda do consumo global decorrente da crise de 2008. Em 2009, o faturamento recuou 12% ante o ano anterior, para R$ 1,727 bilhão

Em junho de 2009, a Doux vendeu por R$ 65 milhões a unidade de perus, também em Caxias do Sul, para a Marfrig. Mas mesmo com a entrada do dinheiro as dificuldades continuaram. Em novembro de 2010, ainda tomou um empréstimo de R$ 20 milhões no Banrisul para pagar os integrados, mas os atrasos persistiram.

Em julho, a empresa enfrentou outro problema. Desta vez foi uma greve de mais da metade dos 1,2 mil funcionários do frigorífico de aves de Passo Fundo, que durou pouco mais de uma semana.

Em 2010 a Doux Frangosul obteve receita bruta de R$ 1,521 bilhão, novamente com queda de 12% em comparação com o ano anterior. Só as exportações caíram 14,5%, para R$ 1,142 bilhão, enquanto o lucro líquido encolheu de R$ 83,2 milhões para R$ 27,1 milhões influenciado negativamente pelo aumento das despesas financeiras. Mesmo assim, a empresa provisionou R$ 2,4 milhões para pagamento de dividendos à matriz francesa Doux, ao contrário de 2009, quando todo o resultado havia sido destinado à compensação de prejuízos registrados.