Em meio ao recrudescimento das preocupações com a crise econômica global, as commodities agrícolas acentuaram seu ritmo de queda e atingiram novas mínimas nas bolsas americanas na quinta-feira. Em Chicago, os contratos futuros de segunda posição de entrega (normalmente os de maior liquidez) do milho sofreram o maior tombo em quase um ano. Em Nova York, o açúcar atingiu mínimas em três meses. O cacau despencou ao menor nível em mais de um ano, e o café praticamente zerou os ganhos que tinha em 2011.
Todos os mercados foram castigados pelo surto de aversão ao risco, exacerbado pela decepção dos investidores com as medidas anunciadas na quarta-feira pelo Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) e pelo impasse criado pela Grécia na União Europeia. Investidores liquidaram posições em ativos sensíveis ao crescimento econômico, como é o caso das commodities, e buscaram segurança no dólar, que voltou a se fortalecer – o índice dólar, que mede o desempenho da moeda americana em relação a uma cesta de divisas importantes, subiu 1,41%.
Na bolsa de Chicago, os contratos de segunda posição da soja em grão (janeiro) fecharam em queda de 37,25 centavos de dólar, a US$ 12,9425 por bushel. Os de milho (março) recuaram 35,75 centavos, para US$ 6,63 por bushel. Na bolsa de Nova York, os contratos do cacau para março sofreram perda de US$ 45, cotados a US$ 2.725 por tonelada – menor cotação desde 15 de setembro do ano passado.
O café recuou 1.275 pontos, para US$ 2,4230 por libra-peso, enquanto o açúcar fechou a 24,81 centavos de dólar por libra-peso, uma queda de 110 pontos. Finalmente, o algodão perdeu mais 354 pontos e fechou a 99,29 centavos de dólar por libra-peso (abaixo do patamar psicológico de US$ 1).
Apesar da corrida contra as commodities, investidores veem limites para a uma queda mais sustentada. Em relatório, o banco de investimento Barclays Capital divulgou que os sinais de desaceleração da demanda ainda são insuficientes para eliminar os riscos de alta nas cotações do petróleo, dos grãos e de alguns metais industriais. Para a instituição, as dificuldades no lado da oferta devem manter os mercados voláteis e sensíveis a políticas de estímulo ao crescimento econômico, “tornando ainda mais difícil se encontrar o equilíbrio adequado entre crescimento e inflação”.
O relatório pondera, ainda, que uma eventual queda na demanda global por matérias-primas precisa ser enxergada à luz do desempenho “excepcional” dos últimos 12 meses. “Se a demanda começar a se retrair, será a partir de níveis extremamente elevados”, pontua.
O Barclays minimiza ainda o potencial de queda na demanda da China e sugere que o país esteja encerrando um período de queima de estoques de produtos como cobre, petróleo, açúcar, soja e milho, o que deve se traduzir em uma retomada mais acentuada das importações nos próximos meses. De acordo com o banco, os chineses começaram a consumir estoques em função do aperto no crédito, dos preços voláteis e das incertezas em relação ao futuro, “mas esse processo não pode durar muito”.