A economia brasileira corre risco “expressivo” de crescer abaixo de 3% neste e no próximo ano. Se isso ocorrer, terá desempenho bem pior que o esperado pelo governo e mesmo pelo mercado. O alerta é do economista-chefe do banco Credit Suisse, Nilson Teixeira, que prevê expansão do Produto Interno Bruto (PIB) em 2011 de 2,9%. Se não houver retomada expressiva da atividade econômica neste trimestre e no primeiro de 2012, probabilidade que ele considera baixa, o PIB pode avançar apenas 2,2% no ano que vem.
Tanto o Banco Central (BC) quanto a mediana do mercado, capturada pelo boletim Focus, estão projetando crescimento de 3,5% para este ano. Já o Ministério da Fazenda espera alta de 3,8% em 2011, embora oficialmente ainda mantenha a previsão de 4%. Para 2012, o mercado projeta expansão de 3,7%.
Teixeira acredita que os analistas serão obrigados a rever as projeções nas próximas semanas. “Em função do cenário atual de elevada incerteza externa e de desaceleração de alguns indicadores menos voláteis de atividade doméstica (por exemplo, mercado de trabalho), uma aceleração muito expressiva no quarto trimestre parece bastante improvável”, sustenta o economista em estudo divulgado com exclusividade ao Valor.
O IBC-Br, índice de atividade do Banco Central que funciona como uma indicação do PIB calculado pelo IBGE, mostrou contração de 0,54% em agosto, quando comparado a julho (já retirados os efeitos sazonais). O resultado, além da perspectiva desfavorável dos indicadores de atividade econômica em setembro, reforçou, na avaliação de Teixeira, a crença de que, no terceiro trimestre, o PIB pode ter sofrido contração de 0,1% em relação ao trimestre anterior.
Teixeira acredita que a produção industrial recuou 1,5% em setembro (com ajuste sazonal), quando comparada a agosto. Na comparação com o mesmo mês do ano passado, também houve contração de 1,5%. “Essa redução expressiva do crescimento da produção industrial ante o mesmo período do ano anterior é sugerida pela desaceleração da produção de veículos (de 5,5% em agosto para -6,2% em setembro) e das importações de bens intermediários – de 14,9% para 0,4% “, explicou.
Diante disso, o economista do Credit Suisse aposta que o IBC-Br de setembro terá alta de 0,1% em relação a agosto, resultando em contração no trimestre julho-agosto-setembro de 0,3% (com ajuste sazonal). As projeções do BC e do mercado para o PIB em 2011 embutem crescimento médio do PIB em relação ao trimestre anterior de 0,8% no terceiro e no quarto trimestres. Como Teixeira acredita que houve contração de 0,1% no terceiro trimestre, para a economia crescer os 3,5% esperados pelo mercado e o BC, a atividade econômica teria que avançar 2,7% no último trimestre do ano.
O país não tem esse nível de crescimento desde o terceiro trimestre de 1996 e o de 2009. Teixeira e sua equipe destacam seis razões para acreditar que o período entre outubro e dezembro será novamente de baixo crescimento. A primeira é o recuo expressivo da produção de veículos – de 325,3 mil unidades em agosto para 261,2 mil em setembro. Houve uma pequena redução no volume de estoques – 398,8 para 378,9 mil no período. “Os elevados estoques tendem a manter baixo o crescimento da produção nos próximos meses”, destaca Teixeira.
A segunda razão é que a Sondagem Industrial da Fundação Getulio Vargas revelou que a diferença entre o percentual de empresários industriais que informou seus estoques como excessivos e o que apontou a presença de estoques insuficientes diminuiu de 8,0 para 7,9 pontos em setembro, o que indica que é pouco provável uma forte recuperação na atividade industrial nos próximos meses.
Além disso, os indicadores de confiança dos empresários industriais continuaram a recuar em setembro, o que também reduz a probabilidade de recuperação do setor no curto prazo. O Índice dos Gerentes de Compra (PMI) do setor manufatureiro diminuiu de 46,0 para 45,5 pontos de agosto para setembro, o menor nível desde abril de 2009 (44,8) e compatível com uma contração da atividade industrial.
As quantidades importadas pelo país, por sua vez, também recuaram em setembro (-1,8%). “O crescimento das compras de bens de capital diminuiu de 5,9% em agosto para -17,1% em setembro e o de bens intermediários de 14,9% para 0,4% no mesmo período. Esse resultado nos sugere, respectivamente, uma sinalização desfavorável para os investimentos e para a produção industrial”, comentou Teixeira.
Para completar, o crescimento do varejo diminuiu de forma expressiva nos últimos meses, com destaque para a redução do crescimento trimestral do varejo ampliado de 2,2% em junho para 0,1% em agosto. Já a geração de empregos formais no setor de serviços se reduziu de forma expressiva em julho e em agosto, ao contrário do que ocorria até o primeiro semestre de 2011. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho, a geração de emprego formal nos serviços no acumulado de julho e agosto diminuiu de 190 mil em 2010 para 140 mil em 2011.
A equipe do Credit Suisse chama a atenção para outro fato. Antes, acreditava que o PIB cresceria 2,9% em 2011 e 3,3% em 2012, desde que houvesse uma recuperação significativa da atividade a partir deste trimestre e expansão de 0,9% do PIB a cada trimestre, sobre o anterior, daqui até o fim do próximo ano. O baixo crescimento da economia no trimestre atual, entretanto, terá impacto “bastante relevante” em 2012, em função da possibilidade de haver um carry-over (carregamento estatístico) nulo.
“Nesse cenário, mesmo que o PIB cresça 0,9% por trimestre ao longo de 2012, a expansão da economia no próximo ano seria de apenas 2,2%”, adverte Teixeira.