Depois de uma safra em que o lucro chegou a R$ 500 por hectare de soja, Mato Grosso registra novo aumento na área destinada ao cultivo da oleaginosa. Conforme dados do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) da safra em andamento, devem ser incorporados à área de grãos 380 mil hectares. Trata-se de um avanço de 5,8%, que pode fazer a soja atingir 6,78 milhões de hectares nesta safra de verão.
Os produtores estão colocando em prática um plano estadual de expansão da produção. O estado calcula que tem 9 milhões de hectares disponíveis para a soja. Em 2009/10, a expansão anual chegou a 9%, segundo o Imea.
“Passamos hoje por um momento extremamente favorável, com bons preços para os grãos, o que se refletiu nessa euforia observada no plantio. Daqui para a frente, o crescimento será mais lento, da ordem de 2,5% ao ano”, projeta o gestor do Imea, Daniel Latorraca.
A ampliação da soja tem ocorrido em áreas isoladas de Mato Grosso, onde a pecuária se tornou menos rentável que o grão.
Depois de percorrer as regiões Sul, Oeste e Médio-Norte do estado, a Expedição Safra verificou ainda que a cana-de-açúcar também ganha espaço de pastagens, porém em menor escala que a soja.
Donos de 9 mil hectares de terras cultivadas com soja, milho e girassol, os irmãos Sérgio e Marta Stefanelo estão entre os produtores que pretendem abandonar a criação bovina. Além de grãos, eles vão cultiva cana-de-açúcar.
“A cana vai tirar 3 mil hectares da pecuária nos próximos anos e chegar a 35 mil hectares na região. Hoje, ocupa 27 mil hectares”, calcula Stefanelo, que monitora a implantação de uma usina no município. Ele explica que a rentabilidade prometida pela cana é parecida com a da soja, mas perde para a da pecuária. “É mais tranquilo plantar cana do que criar boi”, acrescenta.
Mesmo com a perda de pastagens, Mato Grosso se mantém na liderança da pecuária nacional. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), em 2010, o estado tinha 1 milhão de bovinos a mais do que em 2009, alcançando 28 milhões de cabeças de gado. A expectativa de aumento da produção de carne está sustentada na adesão dos bovinocultores a sistemas alternativos de cria e engorda de animal.
“Os criadores devem investir cada vez mais na integração lavoura-pecuária e semi-confinamento. Além disso, tecnologias alternativas devem ganhar espaço, como o sistema em que o animal recebe alimentação suplementar quando está no pasto”, diz o gestor do Imea.
O avanço da soja tem se concentrado nas regiões Norte e Nordeste de Mato Grosso, que abrangem os municípios de Canarana, Água Boa e Querência do Norte. Para transformar um hectare de pasto em lavoura, porém, o investimento é alto. Os produtores estão desembolsando entre R$ 4 mil e R$ 6 mil por hectare para compra da terra e mais R$ 1,7 mil por hectare para o preparo do solo.
Só o investimento em calagem (aplicação de calcário) é de 6 toneladas por hectare, em média. Depois de corrigir o solo, o setor vem plantando diretamente soja, e não mais arroz, cultura que tradicionalmente inaugurava as novas áreas de grãos.