Apesar do aumento dos custos de produção, as perspectivas de ganhos dos agricultores gaúchos são favoráveis tanto para as lavouras de trigo – cultura de inverno em fase final de colheita – quanto para a safra 2011/12 de soja e milho. De acordo com levantamento anual da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul (Fecoagro), o resultado tende a ser positivo graças aos melhores preços pagos aos produtores até agora e ao aumento da produtividade média estimada das plantações.
Segundo o responsável técnico da Fecoagro, Tarcísio Minetto, o desempenho deve confirmar a tendência de alta verificada há pelo menos duas safras. Desta vez, conforme o presidente Rui Polidoro Pinto, o destaque ficará por conta do milho, que deve gerar um lucro de 88,1% por saca de 60 quilos, ante 54% em 2010/11. Na soja, o ganho deve chegar a 100,7%, inferior aos 107,5% do ciclo passado, mas ainda assim bastante expressivo. No trigo, a expectativa é de um ganho de 3,5%, ante o prejuízo de 6,7% em 2010.
As margens consideram os custos variáveis e financeiros de implantação das lavouras, os preços médios aos produtores em outubro de 2010 e 2011 e a evolução da produtividade média de cada cultura. Se forem incluídos custos fixos referentes à depreciação das terras, construções, máquinas e implementos, os níveis de rentabilidade caem para 30,1% no caso do milho e para 26,8% na soja, ante 6,8% e 27,2% em 2010/11, respectivamente. No trigo, o prejuízo recuaria de 33,4% para 27,3%.
Os agricultores com patamares de produtividade superiores à média e aqueles que anteciparam a compra de fertilizantes também deverão obter margens ainda mais robustas, porque conseguiram reduzir em pouco mais de 6% os custos variáveis das lavouras de soja e milho, estima Minetto. De acordo com ele, os custos dos fertilizantes começaram a subir com força no início do segundo semestre e em outubro chegaram a acumular alta de 36% sobre o mesmo mês de 2010, como no caso da ureia.
Na média, os custos variáveis e financeiros das lavouras de milho cresceram de R$ 1.123 para R$ 1.242 por hectare (alta de 10,6%). Mas, descontando o aumento da produtividade média esperada de 85 para 90 sacas por hectare, o custo por saca subiu menos (4,5%), para R$ 13,80, enquanto o preço médio ao produtor em outubro chegou a R$ 25,96, com expansão de 27% em 12 meses. A Fecoagro estima que o plantio de milho já ultrapassa 75% da área prevista em 1,1 milhão de hectares em 2011/12.
Na soja, a alta dos custos variáveis e financeiros por hectare foi de 12,5% desde a safra passada, para R$ 868, mas com o aumento da produtividade de 40 para 42 sacas/ha a despesa por saca subiu 7,2%, para R$ 20,68. Ao mesmo tempo o preço ao produtor avançou 4%, para R$ 41,50, o equivalente ao dobro dos custos. De acordo com a federação, quase 50% da área de 4,1 milhões de hectares de soja já foi plantada.
Segundo Minetto, agora a expectativa dos produtores é em relação à manutenção das boas condições de clima – o Estado costuma sofrer com estiagens, mas o problema neste ciclo pode ser o excesso de chuvas por causa do fenômeno La Niña -, e dos patamares elevados de preços dos grãos, apesar da tendência de queda a partir do início da colheita de verão. De acordo com ele, os agricultores já venderam antecipadamente cerca de 20% da produção de soja no Estado, ante 15% neste mesmo período de 2010, em busca de proteção contra eventual recuo dos preços.
No caso do milho o Estado não tem tradição de fazer vendas antecipadas e o percentual é pouco representativo, explicou Pinto. De acordo com ele, o movimento começa a ganhar força em regiões como Passo Fundo e Não Me Toque.
Nas lavouras de trigo do Estado, que já colheu mais de 60% da área de 850 mil hectares, os custos variáveis e financeiros tiveram altas de 9,7%, para R$ 1.038 por hectare, e de 2,1%, para R$ 24,15 por saca, desde o ano passado. Em compensação, a produtividade média avançou de 40 para 43 sacas por hectare e o preço ao produtor, de R$ 22,08 para R$ 25, conforme a Fecoagro.