A estagnação do crescimento da economia brasileira no terceiro trimestre, revelada ontem na divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi acompanhada de uma queda de 0,2% na demanda doméstica. Foi a primeira vez, desde o auge do impacto da crise financeira mundial na virada de 2008 para 2009, em que houve retração em todos os componentes do consumo interno – famílias, governo e investimento. Para analistas, o resultado do terceiro trimestre confirma 3% como teto para o crescimento do PIB neste ano e torna mais difícil reacelerar o ritmo de crescimento em 2012.
A queda na demanda doméstica foi o dado não esperado dentro do resultado do PIB. Pelo lado da demanda, recuaram o consumo das famílias (menos 0,1%) e do setor público (menos 0,7%), formação bruta de capital fixo (menos 0,2%) e as importações (menos 0,4%), sempre na comparação do terceiro trimestre com o segundo, descontados os efeitos sazonais. Apenas as exportações cresceram, com alta de 1,8% na mesma comparação. Com base no comportamento dos componentes do consumo no PIB, o Departamento Econômico do Bradesco calcula uma série de demanda doméstica total, que apontou a queda trimestral de 0,2% sobre o segundo trimestre, a primeira desde a virada de 2008/2009.
Pelo lado da oferta, a indústria recuou 0,9% (dado esperado), mas sua retração foi acompanhada pelo setor de serviços, que caiu 0,3% em relação ao segundo trimestre, na série com ajuste sazonal. Com exceção da retração registrada no quarto trimestre de 2008 (quando a economia como um todo se retraiu após a quebra do Lehman Brothers em setembro), a última vez em que o setor de serviços registrou queda no PIB foi no início de 2005. A exceção entre os três grandes componentes do PIB foi a alta de 3,2% na agropecuária.
O aumento da incerteza gerada pela crise externa pode explicar parte do resultado ruim da demanda doméstica, dizem economistas ouvidos pelo Valor. A maioria, contudo, aponta a política contracionista adotada a partir do fim de 2010 como principal razão da forte desaceleração do consumo e da oferta de bens e serviços da economia brasileira no terceiro trimestre. Essa é a avaliação da gerente de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis. A reversão das medidas – iniciadas com o corte de juros no fim de agosto -, contudo, ainda não está refletida nesse resultado, explicou ela.
“A política econômica fez mais efeito do que esperavam os economistas. Não me parece lógico explicar o comportamento doméstico com o cenário internacional”, afirma Carlos Kawall, economista-chefe do Banco J. Safra. Ele explica que o ambiente internacional passou a ficar mais preocupante a partir de agosto, mês em que o Banco Central reverteu o ciclo de aperto monetário e iniciou o afrouxamento dos juros básicos. Desde então, a Selic caiu 1,5 ponto percentual, para 11% ao ano. Aliado ao ajuste da taxa de juros, o governo começou a desmontar as medidas de contenção ao crédito tomadas no fim de 2010 e, na semana passada, reduziu o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para parte da linha branca.
Na avaliação de Fabio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores, os estímulos à economia chegaram atrasados e devem ajudar a atividade somente a partir do segundo trimestre de 2012, na melhor das hipóteses. “Houve um excesso de preocupação com relação à inflação e agora mergulharemos num crescimento negativo desnecessário no quarto trimestre por conta disso”, diz Silveira. A perspectiva de queda do PIB no quarto trimestre, porém, não é consenso.
As previsões para o PIB do últimos trimestre em relação ao terceiro variam de 0,2% a 0,8%, na série com ajuste. Para 2012, se o governo quiser garantir o crescimento desejado pela presidente Dilma Rousseff – entre 4% e 5% – o PIB precisará se expandir de 1,4% a 1,8% a cada trimestre – e a zona do euro não entrar em recessão.