A americana ADM, uma das maiores empresas de agronegócios do mundo, com faturamento global superior a US$ 80 bilhões no exercício 2011, prepara-se para conquistar no Brasil a liderança que obteve no mercado de biodiesel da Europa nos últimos anos.
Dona da maior unidade de produção do biocombustível do país, em Rondonópolis, Mato Grosso, a multinacional tem mais dois projetos em curso, em Santa Catarina e no Pará, e confia na tendência de aumento da demanda doméstica para elevar a rentabilidade das operações e estreitar laços com a agricultura familiar, sobretudo na região Norte.
“O biodiesel será um produto cada vez mais importante no agronegócio brasileiro. Beneficia indústrias [de processamento de grão], que capturam uma parte pequena das margens da cadeia, e mais ainda os produtores, que passam a ter uma fonte alternativa de renda. Na nossa estratégia, cujo foco está na rentabilidade, vem muito bem”, afirma Valmor Schaffer, presidente da ADM para a América do Sul.
Nesta época, auge da entressafra de grãos no Centro-Oeste, o movimento no complexo de processamento de soja da empresa em Rondonópolis é pequeno. O fluxo de caminhões, que em meses de colheita como janeiro chega a 1 mil por dia, é escasso, e são poucos os motoristas que procuram uma sombra para se proteger do sol escaldante.
Composto por duas linhas de esmagamento de soja, com capacidade conjunta para 6,5 mil toneladas por dia, e plantas de refino e envase de óleo de soja, o complexo – que também abriga uma misturadora de adubos – recebe grãos para exportação e fabrica farelo e óleo, para consumo humano ou biodiesel.
Na planta de biodiesel, a maior do país, em operação desde 2007, a capacidade de processamento é de 1,2 mil toneladas por dia, ou 486,7 mil metros cúbicos por ano. Atualmente, é essa planta que pode responder a qualquer tranco positivo da demanda. Como quase todo o parque fabril de biodiesel instalado no país, a capacidade ociosa em Rondonópolis é grande, à espera de uma nova elevação da mistura obrigatória de biodiesel no diesel.
Hoje o percentual de mistura obrigatória é de 5% (B5), mas o segmento faz gestões políticas para acelerar a elevação para 7% (B7) e muitos de seus representantes afirmam que estão preparados para uma mistura de até 20% (B20). Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), no fim de outubro 65 plantas de biodiesel tinham autorização para operar no Brasil, com capacidade total de 17,9 mil metros cúbicos diários.
Se tem alguma expectativa em relação ao aumento do percentual de mistura, Valmor Schaffer não demonstra. “É difícil prever se teremos o B20 até 2020 [plano inicial do governo brasileiro]. Mas a ADM é otimista em relação ao crescimento do mercado”, afirma ele.
Para o executivo, o segmento ainda ganhará novos players no país antes de passar por uma eventual concentração. “O biodiesel ainda ganhará mais expressão nas cadeias produtivas das empresas. O biocombustível crescerá em importância, mas a cadeia de alimentos em geral continuará crescendo”.
Na unidade de biodiesel de Rondonópolis, que emprega 21 funcionários – no complexo todo o número chega a 800, incluindo temporários -, a matéria-prima utilizada é a soja, matéria-prima de quase 80% do biodiesel produzido no Brasil. O óleo passa por três fases de decantação, além de filtragens e análises, antes de ser liberado para tanques de destilação. Daí o produto vai para os tanques de armazenagem e, finalmente, para o mercado.
Trata-se de uma descrição extremamente superficial, mas os detalhes do processo de produção desenvolvido e patenteado pela empresa a partir da experiência na Europa são mantidos em sigilo. A capacidade de armazenagem em Rondonópolis é para 6 mil toneladas.
A ADM não divulga quanto investiu na planta de biodiesel de Rondonópolis, que já passou por duas ampliações, mas estima-se no mercado que uma unidade como essa, nova, custe cerca de R$ 200 milhões.
No projeto em andamento em Santa Catarina, no município de Joaçaba, a soja também será a principal matéria-prima. A unidade, que terá capacidade de produção da ordem de 500 toneladas por dia (184 mil metros cúbicos por ano), deverá começar a rodar em 2012.
Apesar de ser a matéria-prima para biodiesel economicamente mais competitiva do país, a soja não é a única aposta da ADM no Brasil. Tratado com especial atenção por Schaffer, é a palma que abastecerá o projeto em curso no Pará que atrai as maiores expectativas da multinacional americana.
“É um dos melhores projetos em andamento no país. Contempla a produção de biodiesel a partir do óleo de palma e envolverá, na fase inicial, 300 famílias de pequenos agricultores”, afirma o executivo.
A companhia, que aderiu à Mesa Redonda da Palma Sustentável, um acordo global, não revela a capacidade inicial da unidade que será erguida no município de São Domingos do Capim e deverá começar a funcionar em 2016. Informa, porém, que o número de produtores familiares envolvidos subirá para 600 em uma segunda etapa, e que a área total a ser ocupada chega a 12 mil hectares. Schaffer também sinalizou que outras plantas poderão ser construídas na região, a depender do avanço da demanda nacional.