A criação de suínos é uma atividade que exige investimentos, manejo adequado e empenho diário dos técnicos para que a granja prospere e dê resultados. É preciso também que o proprietário se engaje e encare a atividade agropecuária de forma comercial, consiga manter a produção e sobreviva em épocas de crise. Foi em busca do melhor exemplo desse setor em Alagoas que nossa reportagem viajou até São Brás (AL) com os Estados Unidos sobre as restrições impostas para importação de frango norte-americano, às margens do Rio São Francisco, para conhecer a Fazenda Santa Fé, do criador Sílvio Menezes, a maior do Estado.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção de suínos em Alagoas no ano de 2007 foi de 144.652 cabeças. Boa parte dessa produção saiu da Fazenda Santa Fé, onde existe uma granja com cerca de 6,7 mil animais. A cada mês, saem de lá para o abate algo em torno de 900 animais. Os nascimentos também são constantes e, toda semana, pelo menos 20 matrizes se reproduzem.
De acordo com o proprietário, o promotor público aposentado e advogado Sílvio Menezes, de 82 anos, a dedicação e o trabalho diário fizeram o negócio se expandir. Em breve, ele vai inaugurar o Frigorífico Santa Fé, o único do Estado em condições adequadas para o abate de suínos, ovinos e caprinos e com capacidade para abater 200 animais por dia. O frigorífico também vai possuir o selo que permite a comercialização além das fronteiras de Alagoas. “Eu sou um lutador e sempre fui atencioso com os negócios, bem como durante meus 34 anos no Ministério Público”, conta.
Além de um “lutador”, ele é também um polivalente. E essa mesma filosofia ele aplicou à Fazenda Santa Fé, que tem 48 funcionários, onde se produz, além de suínos, gado para corte e peixes, principalmente da espécie tilápia. A barragem onde os peixes são criados tem cerca de 35 hectares de espelho d’água e fica a poucos metros do Rio São Francisco.
Manejo correto — A suinocultura dá mais trabalho do que a bovinocultura de corte e o investimento por animal também é maior, afinal, o boi pode ficar solto comendo pasto. A afirmação é de Sílvio Menezes, mas poderia ser de qualquer um dos outros grandes criadores do Estado, ou mesmo de fora dele.
Segundo o zootecnista Mauro Nunes Assis, que trabalha na Fazenda Santa Fé, onde as principais raças das matrizes são Landrace e Large White e dos reprodutores é Tricoss Comercial, dez dias antes do parto, as fêmeas são levadas para o setor chamado de maternidade. Lá, elas amamentam os filhotes durante 28 dias.
“Quando nascem frágeis, os filhotes são recolhidos e colocados junto de um único animal – geralmente o melhor produtor de leite – para que tenham um desenvolvimento semelhante e mais chances de sobreviver, além de competir de igual para igual”, explica o técnico. “As matrizes se reproduzem em média durante 2,5 anos e nesse período elas têm sete gestações”, conta o zootecnista.
A granja também faz inseminação artificial e os cuidados com a questão sanitária dos animais são constantes. “Os animais só se alimentam de ração à base de milho, soja e um composto com nutrientes e sais minerais para reforçar a imunidade”, diz Mauro Assis. Em cinco meses, os animais atingem o peso e as condições para o abate.
Alimento saudável — “Hoje em dia há uma grande diferença no conceito de ‘porco’ e ‘suíno’. O primeiro é entendido como o animal criado no quintal de casa, geralmente pelas famílias do interior para obtenção de renda extra, e nesse caso a alimentação do animal é oriunda de restos da alimentação humana. Nesse caso, os animais têm grande concentração de gordura e a higiene é precária. Já no caso das granjas, a atenção é completa, a alimentação é balanceada e o resultado é uma carne saudável, com alta concentração de músculo e com menos gordura”, explica o engenheiro agrônomo Edson Maruta, superintendente de Desenvolvimento Agropecuário da Secretaria de Estado da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário (Seagri). “Nos bovinos, existe gordura intramuscular, que é difícil de separar. No caso dos suínos, a gordura fica em uma camada separada da carne, podendo ser selecionada antes do consumo”, continua Maruta.
Em 2009, um surto de “gripe A”, causada pelo vírus H1N1, provocou uma queda no consumo de carne suína em todo o mundo e os criadores de Alagoas também sentiram os efeitos da crise. Segundo Edson Maruta, não havia motivo algum para se deixar de consumir carne suína. “O vírus só é transmitido do animal vivo que esteja contaminado para o ser humano ou de um ser humano para outro. No Brasil, a contaminação da população ocorreu através de pessoas infectadas. Não foi diagnosticado o vírus nos animais comerciais”, detalha o superintendente.
“Nesse período, os criadores de outros estados, principalmente de Pernambuco, mandavam seus animais para Alagoas a um preço abaixo do custo, o que dava ainda mais prejuízos aos produtores locais”, narra Sílvio Menezes.
Além dos cuidados com a nutrição e o desenvolvimento dos animais, o criador Sílvio Menezes se diz preocupado com as condições de higiene no abate. Por isso, vai inaugurar dentro de sua própria fazenda o Frigorífico Santa Fé, onde a carne será processada e transformada em salsicha, linguiça e bisteca.
“De início, serão empregadas cerca de 20 pessoas e a unidade também vai contar com câmaras frias e caminhões refrigerados para o transporte”, ressalta. Outros criadores também poderão abater seus animais lá, pois o local também tem o Selo de Inspeção Federal (SIF) e foi construído totalmente de acordo com as normas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).