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Economia

Inflação no 1º bimestre surpreende e fica acima do esperado

Porém, IPCA já dá sinais de queda nos preços.

A alta de preços nos primeiros dois meses do ano foi acima do que esperava o mercado e mesmo do que estimava o Banco Central (BC). Mas a surpresa se deu sobre fatores sazonais – que vieram acima do que se supunha – e sobre choques externos em itens básicos, como o açúcar. No entanto, os dados de alta relativos a fevereiro, mais que acirrarem os ânimos, sinalizam que o arrefecimento pode ocorrer já neste mês.

Em fevereiro, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) sofreu elevação de 0,78%, um pouco superior aos 0,75% apurados em janeiro. No relatório de inflação divulgado em dezembro do ano passado, o BC estimava que a inflação medida pelo IPCA iria alcançar 1,5% no primeiro trimestre de 2010. Apenas nos primeiros dois meses, no entanto, a inflação acumulada já alcançou 1,52%. Da mesma forma, o mercado trabalhava com duas altas próximas a 0,5% em janeiro e fevereiro. “O mercado e o BC trabalhavam com a sazonalidade do período, mas foram surpreendidos com altas superiores ao estimado”, diz Tatiana Pinheiro, analista do Santander.

Os principais responsáveis pela alta foram os preços de alimentos e bebidas, transportes e educação. Enquanto alimentos e transportes registraram desaceleração em fevereiro frente ao mês anterior, os custos com material escolar deram um salto: saíram de 0,26% em janeiro para 4,52%. “A alta no item educação, no entanto, é puramente sazonal. Só acontece em fevereiro”, afirma Fábio Ramos, economista da Quest Investimentos. Mesmo forte, diz Ramos, os custos com educação foram menores neste ano que em 2009, quando, nos primeiros dois meses, acumularam 5,3% e 5,6%, respectivamente.

Outros fatores sazonais, como as altas em tarifas de transporte público, também ficam mais fracos a partir de março. O reajuste de 14,1% no bilhete de ônibus em São Paulo, que representa mais de um terço do item transporte, serviu para puxar o item já em janeiro, quando variou 1,45%, sendo o principal componente da elevação do IPCA verificada naquele mês. Em fevereiro, quando outras capitais, como Salvador, promoveram seus reajustes em tarifas de transporte público, o item ainda veio em alta – 0,79% -, mas, para os analistas, a queda na margem indica que as próximas leituras mensais do IPCA virão com folga em preços relacionados a transportes.

Além de fatores sazonais, contribuiu para a alta da inflação nos primeiros meses do ano o choque nos preços de alguns itens alimentícios, como açúcar e produtos in natura. Problemas climáticos afetaram safras internacionais da cana-de-açúcar, e isso ocorreu “no pior momento possível para o Brasil, uma vez que estávamos na entressafra da cana”, avalia Ramos.

Em fevereiro, açúcar e derivados ficaram 7,4% mais caros, em aceleração após alta forte também em janeiro, quando alcançaram 5%. A alta da cana, analisa Ramos, “além de afetar o açúcar, atinge toda a cadeia, alcançando o álcool combustível e mesmo a gasolina”. O álcool chegou a subir 11% no IPCA de janeiro e, ainda que tenha diminuído o ritmo em fevereiro, alcançando 3,9%, ainda pressionou o índice geral no mês.

Os preços de produtos in natura, avaliam os economistas, foram afetados pelo excesso de chuvas verificado desde o início do ano. Para Ramos, a tendência é que ambos os choques, no açúcar e nos itens in natura, serão diluídos já a partir deste mês.

Para José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Fator, a alta no IPCA verificada nos primeiros meses do ano não corrobora um aumento nas taxas de juros, por parte do BC, para controlar a inflação. Ao contrário. Segundo avalia Gonçalves, aumenta a probabilidade de que o BC possa esperar mais tempo antes de iniciar o ciclo de alta dos juros. “A alta de educação só acontece em fevereiro. Os preços de transportes não darão o mesmo salto. Os itens administrados não estão pressionando e a queda na leitura do IPCA já virá em março”, avalia.

Para o economista, que previa 0,78% para o IPCA de fevereiro, o índice de março deve variar entre 0,3% e 0,4%. Além disso, ressalta Gonçalves, os dados referentes à variação do Produto Interno Bruto (PIB) no ano passado podem alterar as projeções do analistas quanto a uma inflação de preços que seria acelerada por um crescimento da atividade acima do potencial. Na quinta-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga os dados do PIB relativos ao quarto trimestre do ano passado. “Se vierem abaixo do que espera o mercado, que trabalha com expansão de 2,5% no trimestre, na margem, os modelos para inflação e crescimento em 2010 serão afetados”.