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Economia

PIB entre a recuperação e a expansão

Especialistas vão refazer suas projeções para o ano com base nos indicadores divulgados ontem (1103) pelo IBGE.

O crescimento de 2,0% no Produto Interno Bruto (PIB) do último trimestre de 2009, que representa expansão anualizada de 8,4%, é uma taxa forte e insustentável do ponto de vista da inflação. A questão que se coloca, no entanto, não é mais esta. Já houve uma certa desaceleração desse ritmo. O que não está claro é se a perda de ímpeto é suficiente para trazer o PIB para algo próximo de 5% no ano ou se ele ainda estará rodando na faixa dos 6% a 6,5%.

Associados aos primeiros indicadores de 2010 da produção industrial (cujo crescimento está aquém do período pré-crise) e das vendas do comércio (o aumento de 10,4% sobre janeiro de 2009 pode ser efeito do fim das isenções do IPI), os dados de 2009 ainda deixam dúvidas entre os técnicos do governo sobre qual a intensidade do crescimento econômico agora. A gradação não é irrelevante. A diferença entre o PIB estar em processo de recuperação ou já estar em franca expansão vai determinar a administração da política monetária.

Os técnicos do Ministério da Fazenda e do Banco Central vão refazer suas projeções para o ano com base nos indicadores divulgados ontem pelo IBGE, que mostram uma contração de 0,2% da economia em 2009.

A Fazenda, que até agora estimava o crescimento em 5,2% para 2010, apresentará seu novo número, que vai referenciar o decreto de programação orçamentária, até o dia 20, e o BC, que trabalhava com 5,8%, anunciará a revisão de suas projeções no Relatório de Inflação, até 31 de março. O primeiro classifica a conjuntura como de “recuperação moderada”, o segundo enxerga um quadro de “expansão vigorosa”, como qualificou Henrique Meirelles, presidente do BC, ao comentar, em nota oficial as informações do IBGE. Não necessariamente os modelos, que serão atualizados com os novos números, vão apontar resultados muito diferentes.

Estudo da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), com base no indicador composto avançado (CLI, na sigla em inglês), que marca os pontos de inflexão no andamento da conjuntura econômica, coloca o Brasil e a Índia em fase de recuperação. Os Estados Unidos, Zona do Euro e China, segundo esse indicador, que confronta janeiro contra dezembro, já estão em acentuada expansão, segundo dados divulgados no início do mês. A análise da OCDE corrobora a visão do Ministério da Fazenda. Expansão é quando o CLI cresce acima da linha 100; na recuperação, o crescimento ainda ocorre abaixo dessa linha, que indica a tendência de longo prazo da produção industrial com base numa série histórica.

Na reunião da próxima semana, o Comitê de Política Monetária (Copom) examinará o futuro da inflação levando em conta o novo leque de dados sobre o passado e a forte deterioração das expectativas inflacionárias, que indicam um IPCA de 4,99% este ano, segundo o último boletim Focus, do Banco Central. A mediana do grupo Top 5 aponta para 5,12% (a meta é de de 4,5%). Essa piora continuou ocorrendo mesmo depois da decisão do Banco Central de aumentar os compulsórios, medida que poderia adiar o aumento da taxa Selic.

O ritmo de crescimento da economia, pelos dados do IBGE, voltou ao padrão do terceiro trimestre de 2008, antes do início da crise global. A elevação de 2,0% no último trimestre de 2009 em comparação ao terceiro trimestre, superou a expansão de 1,4% do terceiro trimestre de 2008 em relação ao trimestre anterior. O produto cresce acima do PIB potencial estimado hoje pelos economistas do governo em cerca de 4%.

No primeiro semestre de 2008 as expectativas de inflação esbarravam no teto superior da banda (6,5%) e o Banco Central, entre abril e setembro, aumentou os juros de 11,25% para 13,75% ao ano. As taxas só começaram a cair para os atuais 8,75% ao ano em janeiro de 2009, quando os estragos da crise global já eram evidentes.

O hiato do produto – diferença entre o PIB potencial e o PIB efetivo – está se estreitando e deve consumir toda a folga gerada pela crise em meados do primeiro semestre. O Copom não costuma aguardar que o crescimento da demanda esbarre nos limites da oferta para começar a agir.

Em suma, encontra-se, segundo argumentos de economistas do governo, elementos para se adiar o aumento da Selic, assim como há razões para que o Copom comece a elevar os juros já na próxima semana.

Diante dessa realidade, duas possibilidades podem ser consideradas: a manutenção da taxa em 8,75% com a diretoria do Banco Central dividida, indicando que os juros sobem em abril; ou Meirelles, que deixa a presidência do banco no fim do mês, sela sua última participação no Copom, na reunião dos dias 16 e 17, cumprindo a tarefa final, que se mostra inexorável, de aumentar os juros.

Até por que, quanto mais cedo começar o ciclo de aperto monetário, mais cedo ele terminará, não coincidindo com o auge da campanha eleitoral.