A expectativa por uma safra superlativa à soja mato-grossense está frustrada segundo os sojicultores. O Céu de brigadeiro vislumbrado, ainda no decorrer dos trabalhos de semeadura, não se confirmou. Muito pelo contrário, Mato Grosso está contabilizando uma temporada cara e de baixa produtividade e rentabilidade. A justificativa para o diagnóstico de um ciclo que não terminou ainda leva em consideração fatores que vão do clima, às doenças, passando pelo comportamento do consumo mundial e volatilidade do dólar.
Esta junção de fatores aponta para uma das piores safras da década, a pior desde 2003. Plantio antecipado da safra, péssima qualidade dos adubos, falta de assistência técnica, carência de chuvas e excesso de umidade em determinados períodos do cultivo, forte incidência da ferrugem asiática nas lavouras e maior gastos com fungicidas, aliados à queda da produtividade, baixos preços da soja e defasagem cambial, são as causas desta turbulência que abala o produtor em pleno período de colheita.
“Se vamos ter a maior safra da história, esta será também uma das piores safras para o produtor. Não adianta produzirmos muito, o que importa é a produtividade”, afirma o diretor administrativo da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja), Carlos Fávaro. Segundo ele, a produtividade será uma das piores dos últimos anos, perdas de 15%. “Tivemos um aumento de 7,3% na área plantada e também vamos crescer em produção. Mas, com a produtividade em queda o prejuízo é certo”.
O cenário, de acordo com Fávaro, é agravado pela baixa cotação da soja. “Temos os piores preços dos últimos quatro anos”, diz. Fávaro cita outros fatores negativos para os produtores nesta safra, como o plantio antecipado da soja. “Muitos produtores apostaram no plantio mais cedo, na segunda quinzena de setembro, mas em outubro tivemos veranico e as lavouras sofreram atraso. A janela de plantio adiantada nesta safra, para muitos produtores, não foi boa. A luminosidade não foi a ideal também em alguns períodos do ciclo da lavoura”.
Outro problema que impactou no resultado da safra, na avaliação do diretor da Aprosoja/MT, foi o forte ataque da ferrugem asiática da soja. Devido ao excesso de chuvas, intensa umidade e forte calor, a doença se manifestou mais cedo nas lavouras, obrigando os produtores a fazer mais aplicações de fungicidas. “A média do ano passado foi de 2,5 aplicações e este ano teremos lavouras com até cinco aplicações. Será um desastre para os agricultores”.
Produtividade – Para o presidente da Aprosoja/MT, Glauber Silveira, a queda da produtividade será a principal perda para o produtor na safra atual. “[A queda da produtividade] é conseqüência de uma série de fatores, como condições climáticas desfavoráveis, doenças na lavoura, desembolsos extras com aplicação de fungicidas, péssima qualidade dos fertilizantes e falta de assistência técnica ao produtor”, disse. Este ano, segundo ele, a produtividade deverá despencar de 50 sacas para 47 sacas por hectare. “A situação está muito ruim para os produtores, muitos estão desesperados”, contou.
Os custos de produção também aumentaram nesta safra. “Nossos cálculos apontam custo médio de 50 sacas de soja por hectare. Se vamos colher 47, teremos prejuízo de três sacas por hectare. O produtor terá de absorver esta perda”.
Outro problema foi a péssima qualidade dos adubos fornecidos pelas indústrias. “As empresas estão vendendo químicos sem prestar assistência técnica ao produtor e sem dar a receita correta da aplicação, o que não tem dado resultado para o produtor”. Entre as principais reclamações, está relacionada à pulverização. “Ela não ocorreu de maneira uniforme. Talhões ficavam prontos para colher e outros não. Como entrar com máquinas sob uma condição dessas? E quando de esperava a maturação de uma talhão, o que já estava pronto para colher apodrecia”, relata Silveira.
Segundo Glauber, os preços da soja estão muito baixos. Atualmente, a saca está cotada a preços entre R$ 23 e R$ 26 em algumas regiões, “os piores das últimas safras”. No ano passado, nesta mesma época do ano, o produto estava sendo vendido por preços entre R$ 37 e R$ 39.
Ainda segundo Silveira, na safra 08/09, a maior parte dos produtores abriu mão de pacotes tecnológicos, ou seja, de investimentos em adubos e químicos em geral. “Nesta safra houve investimentos em massa do produtor, por isso, já consideramos esta safra uma frustração”.
Recomendações– Ele informou que durante o circuito da soja e um seminário a ser realizado pela Aprosoja/MT, a entidade fará recomendações para a próxima safra. “Vamos debater o que fazer no próximo ano, bem como discutir estratégias de plantio e comercialização. Este ano perdemos muito. Precisamos ter calma e ver o que fazer”, afirmou Silveira. (Colaborou Marianna Peres/Mais na C2)