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Exportação de milho patina

Apesar de safrinha recorde, produtores têm dúvidas se podem manter o mesmo volume de exportações do grão.

Exportação de milho patina

Uma safrinha de milho recorde no horizonte, graças sobretudo ao Mato Grosso, está gerando incertezas entre os produtores e dúvidas quanto à capacidade do País de manter o volume de exportações do grão visto nos últimos anos.

Já é praticamente consenso no mercado que, sem ajuda do governo, será impossível repetir em 2010 as exportações de milho registradas no ano passado, acreditam analistas. Em 2009, foram embarcadas 7,765 milhões de toneladas, 21,9% acima das 6,370 milhões de toneladas do ano anterior, segundo o Ministério da Agricultura.

Boa parte desse desempenho foi possível graças aos leilões de PEP (prêmio para escoamento da produção), um instrumento que embute subsídio ao frete, criado para viabilizar a comercialização de áreas com logística mais difícil como o Centro-Oeste. Este ano, o governo deve ajudar novamente e já estima um apoio de R$ 800 milhões para escoar o milho.

O atual cenário de preços baixos para o cereal por causa da oferta elevada – principalmente com a expectativa de safrinha recorde no ciclo 2009/10 se o clima se mantiver favorável -, estoques altos nos EUA, recuperação da safra argentina e dólar fraco têm feito as exportações patinarem. No primeiro bimestre do ano, os embarques somaram 1,429 milhão de toneladas, 31,2% abaixo das 2,076 milhões dos dois primeiros meses de 2009.

Nos cálculos de Paulo Molinari, da Safras&Mercado, há entre sete e oito milhões de toneladas de milho que precisam ser escoadas por meio da exportação, já que o mercado interno não absorve. Da safra total de 52 milhões de toneladas (safra de verão mais safrinha), 45 milhões devem ser destinados ao consumo doméstico, estima a Safras.

Mas escoar essa diferença, sem apoio oficial, é hoje um desafio. Atualmente, o preço de venda na exportação está abaixo da cotação no mercado interno, o que acaba desestimulado a venda ao exterior. De acordo com Molinari, a saca no porto de Paranaguá está entre R$ 16,50 e R$ 17,00. Descontado o frete de R$ 4,00 entre o porto e a região oeste do Estado, por exemplo, a saca sairia entre R$ 12,50 e R$ 13,00. Ocorre que o mercado disponível paga mais do que isso hoje, entre R$ 15 e R$ 16 por saca.

A razão para esse cenário são os preços deprimidos no mercado internacional por conta da oferta elevada. Há ainda a concorrência da Argentina, que tem 14 milhões de toneladas de milho para exportar e consegue vender a preços mais competitivos que o Brasil porque tem custos menores e peso desvalorizado em relação ao dólar.

Assim, enquanto o milho brasileiro era ofertado no começo da semana por US$ 175 a tonelada, o argentino saía por US$ 155, de acordo com a Safras.

“Para abril, não há novos negócios, nem programação de embarques”, afirma Molinari, referindo-se ao quadro desfavorável para a exportação de milho. “No ano passado, o dólar estava na casa dos R$ 2,30 [nesta época] e o preço em Chicago, em US$ 4 por bushel”, acrescenta.

Boa parte do que vai “sobrar” de milho no mercado está no Centro-Oeste do Brasil, especialmente no Mato Grosso, onde a área de safrinha está estimada em 1,811 milhão de hectares (8% mais do que em 2008/09), segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). A expectativa de analistas, porém, é de que os números sejam revistos para cima, o que pode levar a uma produção de 9 milhões de toneladas no Estado ante 8,5 milhões na safra passada.

“Este ano não parou de chover em Mato Grosso e enquanto chove o produtor vai plantando”, diz Seneri Paludo, superintendente do Imea. Ele acrescenta que neste ciclo o plantio de milho safrinha no Estado começou antes por causa do cultivo de soja precoce – a safrinha é semeada nas áreas onde se plantou soja no verão.

“O governo precisa fazer algo para escoar o milho de Mato Grosso”, afirma Paludo. Além da oferta elevada, o Estado tem desvantagem logística, pois fica distante dos principais portos exportadores. Com isso, o preço do frete quase sempre supera o do próprio produto. Segundo Leonardo Sologuren, da Céleres, o preço médio em Mato Grosso está em R$ 9,50 por saca enquanto o frete sai a R$ 10,20 por saca.

Na safra passada, com o apoio do governo, o Mato Grosso conseguiu exportar 5 milhões de toneladas, informa Seneri Paludo. O volume corresponde a quase 65% de tudo o que o Brasil exportou.

A oferta do cereal da safrinha também deve ser maior em Goiás, onde, pela primeira vez na história a área de segunda safra será superior à cultivada com milho no verão. Segundo a Conab, o Estado vai plantar 401,1 mil hectares, a maior área desde 1976. No verão, foram 357,1 mi hectares, queda de 34% em comparação ao ciclo anterior.

Pedro Arantes, assessor econômico da Federação de Agricultura de Goiás (Faeg), diz que os baixos preços do milho no plantio fizeram os agricultores goianos plantar mais soja no verão. “A safrinha cresceu, mas foi em um ritmo inferior à retração da safra de verão. Isso vai representar um milhão de toneladas a menos na oferta total de Goiás neste ano”, afirma Arantes. A expectativa é de que a produção das duas safras seja um pouco superior a 4 milhões de toneladas.

Também se estima produção maior na safrinha do Paraná, apesar da queda da área plantada, de 1,524 milhão de hectares para 1,363 milhão. De acordo com o Departamento de Economia Rural (Deral), a produção deve crescer 32%, para 5,920 milhões de toneladas, Flávio Turra, da área econômica da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), lembra que em 2008/09, a safrinha do Estado sofreu com seca no desenvolvimento e chuva na colheita. Na atual temporada, o clima tem ajudado até agora por isso a produtividade deve se recuperar.

O governo, que já tem 6 milhões de milho em seus estoques por causa dos contratos de opção feitos na safra passada, vai abrir os cofres de novo na atual temporada. Sílvio Farnese, coordenador-geral da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, estima que será necessário exportar entre 8 milhões e 10 milhões de toneladas de milho diante da safrinha recorde. “Só se não houver demanda, não conseguimos exportar”, diz.

Segundo ele, o governo deve apoiar a comercialização de 15 milhões de toneladas de milho, com operações de PEP e Pepro (Prêmio Equalizador Pago ao Produtor). Em 2009, retirou do mercado, 10 milhões de toneladas com operações de PEP, opções e aquisições (AGFs).