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Mercado Interno

Sem abate na hora

Frango abatido na hora pode estar com dias contados em Sergipe. Abatedouros devem fazer adequações.

Sem abate na hora

Apenas quatro empresas trabalham com a produção de frangos congelados em Sergipe. O restante oferece o tradicional frango abatido na hora. Acredita-se que o número de abatedouros irregulares já chegue ao patamar de 200 somente em Aracaju. Uma Instrução Normativa do Ministério da Agricultura pode fazer com que o comércio de frango abatido na hora esteja com os dias contados. Empresas de outros estados especializadas em frangos congelados começam a dominar o mercado sergipano, o que vem preocupando os avicultores.

No Estado de Sergipe, a industrialização não passa de oito mil aves por dia, quando na Bahia, esse número sobe para 260 mil frangos congelados por dia. De um lado, avicultores que trabalham com frangos abatidos em frigoríficos, afirmam estar 
“Empresas de outros estados começam a dominar mercado sergipano”
preocupados com a situação, principalmente por conta das empresas de outros estados que começam a ocupar o mercado aberto em Sergipe. Isso além da falta de cuidados higiênico-sanitários, comuns na produção totalmente artesanal, com baixa utilização de tecnologia.

Do outro, pequenos empresários que defendem a prática do frango abatido na hora, alegam atender à preferência da população sergipana, que possui uma cultura de que o frango congelado não tem saber e que apresenta 20% de água, o que acaba prejudicando o bolso dos consumidores que pagam por um peso e levam outro pra casa. Outra preocupação desses avicultores é com o dinheiro que terão de desembolsar para as adequações, o que pode levar as empresas à fecharem as portas e com isso, dispensar centenas de trabalhadores.

Setor dependente

Um dos avicultores que já se adequaram e estão preocupados com a situação é o empresário Ricardo Ribeiro. Segundo ele, a avicultura sergipana está dependente da venda do frango vivo a pequenos abatedouros que comercializam o frango abatido na hora. “Isso muitas vezes sem obedecer a maiores cuidados sanitários, trazendo riscos à saúde dos consumidores, por conta da contaminação e proliferação de doenças”, lamenta Ricardo Ribeiro.

Ele fez um comparativo com outros estados mostrando o comércio do frango vivo [quando o abate geralmente é feito sem inspeção] e o comércio do frango congelado ou resfriado [quando existe inspeção federal ou estadual]. ”Em Sergipe, 90% do abate é de frango vivo, enquanto que na Bahia, é de 20%. O  abate de frango congelado ou resfriado é de apenas 10% aqui no Estado, enquanto na Bahia, de 80%”, destaca o avicultor.

Dias contados

O empresário Ricardo Ribeiro informou que em Sergipe, o frango abatido na hora está com os dias contados, principalmente por conta de empresas de outros estados que já estão ocupando o mercado. “Para se ter uma idéia, o Estado de Pernambuco que não é auto-suficiente em milho ou soja é o maior produtor de frango do Norte/Nordeste, exportando para vários estados, inclusive para Sergipe”, enfatiza lembrando que os feirantes podem comercializar a ave resfriada ou congelada, como é feito nos supermercados.

Custo de produção

Ricardo Ribeiro disse ainda que os avicultores que trabalham no sistema de parceria com as grandes granjas são os mais prejudicados. Isso porque a exigência de peso no mercado de frango vivo obriga que a ave fique mais tempo no aviário, aumentando o custo de produção em 30% [gasto com eletricidade e mão-de-obra]. “Os avicultores locais recebem bem menos, ou seja, cerca de R$ 0,30 por ave, do que em outros estados cuja produção é voltada ao comércio do frango congelado que gira em torno de R$ 0,45”, diz.

Instrução Normativa

As exigências da Instrução Normativa 56 do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento, que deverá entrar em vigor agora em 2010, determina que somente poderão continuar exercendo a atividade, as granjas que se adéqüem às novas medidas de biossegurança e manejo.

Com isso, o risco de extinção do mercado de frango abatido na hora aumenta, já que nem todos os avicultores possuem condições de investir em aviários modernos, com tecnologias avançadas, mas precisam cumprir a Instrução Normativa.

Risco do desemprego

O gerente administrativo de uma granja que ainda não se adequou às novas tecnologias, acredita que as exigências visando o aumento da produção de frangos congelados em Sergipe, vai fazer com que o desemprego no setor cresça. “Um aspecto que preocupa é o desemprego, até porque o milho produzido aqui no estado não é exportado, o que prejudicará os produtores, sem contar com as centenas de pessoas que trabalham nos abatedouros e ficarão sem emprego”, afirma Reginaldo Batista.

Ele disse ainda que não se pode negar a preferência dos sergipanos pelo frango abatido na hora. “A procura aqui na comunidade é grande, apesar de que nosso forte é fornecer o frango vivo para os abatedouros. Seria bom que todas as granjas já tivessem se adequado, mas grande parte do consumidor sergipano não gosta do frango congelado. Acredita que perde o sabor, sem contar com a grande quantidade de água”, enfatiza Reginaldo Batista.

Selo de Qualidade

Apesar de não ter o papel de fiscalizar os abatedouros, a Empresa de Desenvolvimento Agropecuário de Sergipe (Emdagro), realiza um trabalho voltado para auxiliar donos de granjas e abatedouros na aquisição do Selo de Qualidade que garanta a higiene. Visando contribuir com a adequação dos abatedouros, a empresa realiza cursos voltados para os avicultores.

A diretora de Defesa Animal e Vegetal da Emdagro, Salete Dezen defende a comercialização de frangos pelo menos resfriados. “Nós lutamos para que se tenha em Sergipe abatedouros adequados e que os frangos sejam vendidos resfriados e com garantias de higiene. E isso nós estamos discutindo junto ao Pronese (Projeto Nordeste) ao Ministério do Desenvolvimento Agrário”, afirma Salete Dezen informando que para o abatedouro se adequar no sentido de resfriar os frangos, deve-se gastar em torno de R$ 15 mil.

Pólo de abatedouros

Somente em Aracaju existem 200 abatedouros irregulares. A avicultura sergipana emprega mais de 7 mil pessoas diretamente e a preocupação com o desemprego aumenta à medida em que se fala na extinção do mercado de frango abatido na hora.

“Se nós não conseguirmos que esses abatedouros funcionem de forma regular, seria viável a solicitação de uma área em que se construísse um pólo de abatedouros mais próximo para que os frangos possam chegar ao consumidor, resfriados podendo assim concorrer com os congelados. Não queremos acabar com  a avicultura, mas melhorar o setor, colocando num patamar de concorrência”, entende Salete Dezen.