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Mercado Interno

Avicultores paranaenses reclamam de preços recebidos

Em Cascavel (PR) e região, os preços pagos aos produtores pelas aves estão abaixo ao de custo, o que tem gerado muita reclamação e até desistência da atividade.

Sobreviver do campo está cada vez mais difícil. Na agricultura, quando as condições climáticas permitem grande produtividade, os preços dos grãos desagradam aos agricultores. Já na produção animal, entre muitos fatores, os preços pagos pela produção estão desanimando os produtores, principalmente os avicultores, que desde o ano passado enfrentam dificuldades. Em Cascavel e região, os preços pagos aos produtores pelas aves estão abaixo ao de custo, o que tem gerado muita reclamação e até desistência da atividade.

Pelas cotações do Departamento de Economia Rural da Secretaria de Agricultura do Paraná (Deral/Seab), dia 30 de abril a região de Cascavel apresentava o segundo menor preço médio do quilo do frango de corte do Estado. Com preço médio de R$ 1,37, a região perde apenas para a região de Umuarama, com R$ 1,35 e apresenta valor muito abaixo do preço médio do Paraná, que está em R$ 1,48.

Embora este não seja o valor real pago para a maioria dos avicultores, pois trabalham integrados com empresas, que possuem outras tarifas de acordo com os contratos firmados, mostra que na região os produtores rurais estão com dificuldades. Telmo Venite e Gessi de Lima Venite possuem três aviários em Sede Alvorada, distrito de Cascavel e os preços baixos que resultam em pouco ou praticamente nenhum lucro, fizeram com que o casal pense em vender a propriedade a abandonar a avicultura.

Gessi conta que há 20 anos trabalham com produção de frangos, antes com dois barracões e recentemente fizeram mais um barracão financiado, mas que atualmente os valores pagos por lote não compensa o trabalho. “O avicultor está trabalhando de graça, pagando pra trabalhar”, avisa ao contar que estão querendo colocar a propriedade à venda porque não estão conseguindo arcar com os gastos. Com dívida em banco pelo financiamento do barracão, a produtora relata que o valor pago pelos lotes no final não pagam o custo de produção.

Sem condições de pagar as prestações do financiamento do barracão de frango com a renda da produção, Gessi ressalta que estão tirando o lucro da agricultura para arcar com dívidas que a avicultura não dá condições. “Os outros barracões fizemos e conseguimos pagar fácil e agora este está mais difícil, tem mais cobrança da empresa e menos lucro para nós”, revela ao citar que a empresa a qual a família é integrada está exigente com as instalações, o que gera custo de produção, mas não remunera o suficiente.

Sem lucros

Loreci Dias do Prado Gomes, avicultora da Colônia Barretos em Cascavel, também está desestimulada com a avicultura. Agora trabalha sozinha no aviário com 13,7 mil aves, pois como a atividade não tem gerado lucros, o marido, que antes também trabalhava na produção, precisou trabalhar fora para conseguir arcar com os custos da casa. “No começo falaram que ia dar, mas a gente foi vendo que o lucro não dava nem para pagar a prestação do barracão, água, luz e mercado, ele teve que ajudar trabalhando fora”, relata.

Agora, com cinco anos investindo na avicultura, Loreci avalia que não compensou, pois até agora não tiveram lucros e até pagar o empréstimo para a construção do aviário está complicado. “A cada três meses temos que pagar R$ 4 mil para o banco, mas somente daqui da produção não tira”, comenta ao explicar que parte deste investimento vem da soja e também do salário do marido. “Sobreviver da avicultura não dá mais”, garante.

Integrada de uma empresa da região, Loreci explica que começaram na atividade porque antes o setor era lucrativo, mas que agora os investimentos são altos e o valor pago pelos frangos baixo. “Não cobre nossos custos, pois temos o barracão, R$ 400,00 para os carregadores, em média R$ 350,00 de luz e fora mão-de-obra, que nós que fazemos”, avisa ao mostrar que ainda tem maravalha, lenha e outros custos fixos. A avicultora relembra que em contrapartida o trabalho na atividade é intenso, diário e cansativo. “Não compensa financeiramente”, assegura.

Sem ter lucros, Loreci avalia que continua com o aviário porque fez o investimento e empréstimo no banco e precisa arcar com o compromisso. “Foram R$ 150 mil de investimento e ainda agora tem mais, precisou fazer cerca, escritório e outras exigências”, pontua ao contabilizar mais de R$ 200 mil no aviário. No fundo a produtora possui esperança de que as condições pra a avicultura melhorem. “A empresa falou que agora vai pagar uns R$ 0,09 a mais por frango, a gente espera, porque se não subir não temos mais como continuar insistindo”, ressalta.

A reclamação da avicultora é que no início do contrato a empresa prometeu determinadas condições, como prazo mínimo para o intervalo sem frangos, capacidade máxima do barracão, valor mais alto por frango. “Mas depois de um ano fizeram outro contrato e começaram a exigir um monte de coisa”, exemplifica com o seu primo, que possui três barracões que somente dão despesa, mas já chegou a faturar R$ 10 mil por lote de frango no passado. “Agora ele quer vender a propriedade porque só dá prejuízo”, finaliza.

Produtor vem ‘somando’ perdas

O cenário da avicultura, que vinha crescendo até outubro de 2008 a um ritmo de 10% depende este ano do mercado externo, segundo a União Brasileira de Avicultura (UBA). Dados mostram que a exportação vem aos poucos recuperando, aumentando inclusive a receita em 12% em abril. Porém, para o produtor rural a situação ainda não começou a melhorar. O produtor é responsável por receber o pintainho de um dia e depois de aproximadamente 40 dias entregar para as empresas o frango pronto para o abate.

De acordo com estudo da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (FAEP), mostra que o produtor que possui seu aviário dentro das normas exigidas pelas empresas integradoras, não tem condições de sobreviver na atividade. Com custos de produção mais elevados do que os pagos aos produtores, os intervalos de lotes maiores, período que ficam sem remuneração, e os prazos fixos dos financiamentos são dificuldades enfrentadas mensalmente.

Márcio Bernartt, secretário executivo da Associação dos Avicultores do Oeste do Paraná (AAVIOPAR), revela que em Cascavel e região o preço médio do frango é aproximadamente R$ 0,38, o que seria uma média de R$ 0,15 por quilo pago ao produtor, mas que o custo gira em torno de R$ 0,22 o quilo. “Hoje o produtor está com preço abaixo do de custo de produção, é inviável”, salienta ao pontuar que o avicultor precisa necessariamente ter outras atividades para sobreviver do campo.

Mas, a realidade, segundo Bernartt, é que os produtores estão se endividando, porque fazem empréstimos para investir na atividade, mas os lucros não estão permitindo o pagamento das prestações. “A cada lote o produtor soma mais dívidas, ficando sem condições de sobreviver da avicultura”, avalia. Os investimentos para que o aviário fique de acordo com as exigências das empresas integradoras, segundo o secretário, fica na média de R$ 220 mil por aviário, com oito anos para pagar a juros de 6,75% ao ano. “Na realidade de hoje o avicultor não consegue pagar”, garante.

Como a crise no setor começou em outubro de 2008, quando as empresas começaram a diminuir o preço pago, dar mais prazos de vazio, muitos produtores realmente não conseguiram sustentar a atividade. “Temos vários pedidos de venda de galpões e propriedade”, explica ao afirmar que a expectativa é que para a partir de julho as empresas comecem a repassar os ganhos que aumentaram este ano para os produtores, porém, muitos preferiram não esperar a “tendência de melhora”.

Enquanto esperam a perspectiva se concretizar, Bernartt revela que os produtores estão tentando alongar o financiamento para 12 anos ao invés de oito e com juros mais baixos, até 5% ao ano, para terem condições financeiras de arcar com as dívidas, que hoje a produção não cobre.

Roberto André da Silva, técnico do Deral-Seab explica que os preços estão baixos em todo mercado avícola, mas que cada realidade local, as políticas das empresas integradoras definem o pagamento ao produtor. “Muitas empresas quando a situação está ruim, viabilizam a parceria, mas quando melhora mantém a média paga”, explica uma das possibilidades dos valores pagos aos avicultores, mas ressalta que há vários outros fatores que interferem no pagamento entre empresa e integrados, como os índices técnicos.

Mas, segundo o técnico, a expectativa do mercado é boa, pois está melhorando a exportarão, o que diminuiu a oferta do produto interferindo de maneira direta nos preços. O assessor de imprensa de duas empresas integradoras da região, Caio Gottilieb, revela que esta situação está presente em toda cadeia do mercado, não somente na produção. “A avicultura brasileira está em momento difícil”, relata ao citar que a indústria teve recessões assim como os avicultores.

O assessor relata que cada integração possui um contrato e necessita de análise minuciosa sobre o pagamento e exigências, mas de maneira geral houve uma redução nos preços porque os mercados internacionais não estão respondendo como antes, havendo excesso do produto no mercado. “Toda cadeia teve que se adequar. O preço está achatado para o avicultor, indústria, e assim vai”, revela. Gottilieb assegura que as empresas sabem das dificuldades dos produtores, mas que é preciso a recuperação do setor. “Imagina que isto vai voltar em médio e longo prazo a reequilibrar”, defende.