A partir da próxima semana começa no Brasil um dos maiores eventos da indústria veterinária. Não apenas pelo tamanho que a campanha de vacinação contra febre aftosa tem em todo País, já que cerca de 200 milhões de cabeças serão vacinadas, mas também – e sobretudo – pelo fato de o segmento ser o mais relevante do ponto de vista financeiro para os laboratórios que nele atuam. Dos R$ 2,8 bilhões movimentados por essa indústria no Brasil, apenas a venda de vacinas contra a doença em suas duas etapas da campanha (maio e novembro) representa, sozinha, cerca de 20%.
Mais do que toda a movimentação das vacinas, a novidade da etapa de novembro é a entrada de dois novos laboratórios brasileiros na disputa do mercado. Inova Biotecnologia e Ourofino Agronegócios conseguiram em outubro a autorização do Ministério da Agricultura para iniciarem suas vendas e farão companhia a Merial, Intervet e Vallée, que produzem suas vacinas no Brasil e a Biogénesis-Bagó, que fabrica as vacinas na argentina e comercializa parte no mercado brasileiro. O brasileiro Biovet, que também prepara sua fábrica de vacinas, adiou o início de sua fabricação para 2011.
Os dois novos players disputarão uma fatia num mercado que consome anualmente cerca de 365 milhões de doses, está estável nos últimos anos e onde a capacidade das empresas já instaladas supera a demanda. Os três grupos que já produzem a vacina no Brasil têm capacidade para 400 milhões de doses – 140 milhões da Intervet, 180 milhões da Merial e 80 milhões da Vallée. Com o potencial de 100 milhões de doses da Inova e outros 80 milhões da Ourofino, a oferta brasileira de vacinas é quase 60% maior do que a necessidade do País.
Nos bastidores da indústria, analistas consideram que existe uma chance de uma guerra de preços. Isso, no entanto, é limitado pelos aumentos de custos gerados pelas mudanças feitas dos últimos três anos para adaptação dos laboratórios às novas exigências do governo brasileiro.
Desde 2008 as vacinas comercializadas no País precisam ser livres de proteínas não-estruturais. Essa nova tecnologia permite diferenciar se o vírus encontrado nos testes soroepidemiológicos é resultado da circulação viral da doença ou apenas da vacinação.
“Teremos uma nova dinâmica no mercado em 2011. Os novos laboratórios beneficiam o pecuarista”, diz Vilson Simon, diretor-presidente da Intervet. Ele lembra que nos últimos três anos a empresa aplicou US$ 10 milhões para modernizar e ampliar a capacidade de produção de sua fábrica instalada em Fortaleza.
“A Merial investiu três anos no desenvolvimento da tecnologia da vacina livre de proteínas não-estruturais, hoje uma realidade que contribui para o eficiente controle da febre aftosa no Brasil”, diz Alfredo Ihde, presidente da empresa, que investiu R$ 6 milhões para fazer as adaptações necessárias.
Na unidade localizada em Juatuba (MG) a Inova – joint venture entre a Eurofarma e a Hertape Calier – investiu R$ 120 milhões. Apesar de disponibilizar para a campanha de novembro apenas 6 milhões de doses, a empresa espera comercializar em 2011 um volume próximo a 60 milhões de doses, das quais 15 milhões serão destinadas ao mercado externo.
“Vamos buscar nosso espaço ao sol em um mercado que é extremamente competitivo. Acreditamos que ter uma das mais modernas tecnologias do mundo instalada em nossa fábrica será um diferencial”, afirma Hugo Zanocchi, presidente da Inova.
Com a fábrica em Cravinhos (SP), a Ourofino pretende atender não apenas o mercado interno, mas também o externo. “Estamos em negociação para exportar o antígeno da vacina para que o produto seja desenvolvido em outros países, além da vacina pronta”, afirma Fausto Terra, diretor de biológicos da empresa.