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Economia

Câmbio emerge como o grande desafio

Competitividade da indústria, baixa poupança interna e educação são outros problemas listados.

O ortodoxo Samuel Pessôa e o desenvolvimentista Fernando Cardim de Carvalho apontam o câmbio como o maior desafio do próximo governo, mas nem de longe o único. E, se concordam que a questão cambial precisa ser enfrentada com urgência, divergem bastante quanto ao receituário adequado.

Professor do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV), Pessôa defende uma tese polêmica: parar a compra de dólares – “é enxugar gelo e tem alto custo fiscal” -, deixando o câmbio se valorizar mais, o que levaria à maior absorção de poupança externa, com aumento de importações. A inflação cairia “ao chão” e surgiria espaço para uma queda mais forte dos juros.

Ao mesmo tempo, diz Pessôa é necessário ajudar a competitividade da indústria de transformação, que sofreria muito com o tombo do dólar. Para ele, o melhor é agir por meio de medidas tributárias. “É necessário tributar os outros setores e subsidiar a indústria. Acho mais eficiente recriar a CPMF e, como contrapartida, desonerar integralmente a folha de salários da indústria de transformação.”

Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Cardim diz que o ideal para enfrentar a questão do câmbio é obter uma coordenação internacional no âmbito do FMI ou do G-20, mas não tem grande expectativa de que isso seja possível. Nesse cenário, “o país deve considerar o emprego de medidas mais eficientes de autoproteção”, afirma ele, que defende a imposição de instrumentos de controle de entrada de capitais externos. Segundo Cardim, o melhor sistema seria o chileno, com o estabelecimento de um tempo de permanência mínima no país, para desencorajar fluxos de curto prazo. O efeito do câmbio sobre a indústria e as exportações já são bastante preocupantes, diz ele.

Além do câmbio, Cardim destaca outros grandes desafios para o próximo governo. “O Brasil conseguiu sair da estagnação que caracterizou o comportamento de sua economia até muito recentemente, mas ainda há muitos problemas a resolver, na infraestrutura produtiva, na educação para aumentar a produtividade do trabalho no país, na saúde, no uso de novos instrumentos para redistribuição de renda e riqueza, como a estrutura tributária.” Já Pessôa vê como principal desafio estrutural do país o problema da baixa poupança doméstica – que, para ele, agrava a questão conjuntural do câmbio.