Mesmo com novas medidas para controlar a entrada de capital e minimizar o impacto no crédito interno, os países emergentes mais dinâmicos vão importar inflação com o afrouxamento monetário dos Estados Unidos, avaliam analistas. Para eles, os Estados Unidos adotaram a máxima de ‘a política é minha, o problema é seu’, deixando pouca margem de manobra para os emergentes.
Com taxas de juros extremamente baixas e crescimento econômico anêmico nos países desenvolvidos, a injeção pelo Federal Reserve de US$ 600 bilhões de liquidez adicional, por doses de US$ 75 bilhões por mês, inevitavelmente ‘vazará’ para os ‘bons frutos’, incluindo ativos dos emergentes e moedas selecionadas de desenvolvidos ligadas a commodities, diz Philip Poole, do HSBC, em Londres. “Isso vai criar dificuldades para autoridades dos emergentes tentarem evitar a formação de bolhas e alta na volatilidade dos mercados financeiros”, acrescenta Maria-Laura Lanzeni, do Deutsche Bank.
Essa situação vai fomentar mais risco de inflação nos emergentes e restará aos bancos centrais endurecer a política monetária. O problema, diz Poole, é que aumentar juros quando o Fed e outros bancos centrais de países desenvolvidos mantém taxas extremamente baixas apenas aumenta o diferencial nos juros e a atração por ‘carry trade’ nessas moedas.
Isso e o alto custo da esterilização é a razão pela qual vários emergentes estão fazendo um ‘mix’ de controle de capital e mais requerimento de compulsório no sistema bancário, para frear o fluxo de capital e minimizar o crescimento da base monetária que se traduz em mais criação de moeda via extensão do crédito.
“Acho que vamos ver as duas medidas, num esforço para repelir o afrouxamento monetário nos desenvolvidos”, diz Poole. “Apesar disso, maior inflação nos emergentes ainda é o resultado mais provável.”
Thomas Mayer, economista-chefe do Deutsche Bank, acha que ‘no médio e longo prazo’ o afrouxamento monetário nos EUA provocará mais inflação primeiro nos emergentes, e depois nos países industrializados.
Para Tony Volpon, do Nomura Securities, a evidência é que nem é pelo efeito liquidez, mas sim pela crença que vai funcionar, o afrouxamento monetário nos EUA está tendo um efeito positivo em todos os mercados. “O governo brasileiro tem que parar de tratar isso como um jogo ‘soma-zero’, uma ‘guerra’ e perceber que a eventual recuperação dos EUA é importante para a economia mundial’, diz ele.