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Milho

Mais lenha na fogueira

Os acontecimentos deste mês somente acrescentaram mais elementos para sustentar a alta dos preços do milho nos mercados internacionais.

Mais lenha na fogueira

Situação Mundial

Os acontecimentos deste mês somente acrescentaram mais elementos para sustentar a alta dos preços do milho nos mercados internacionais. Para começar, o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) reviu negativamente a produtividade esperada para as lavouras de milho na presente safra, transformando o que seria uma safra recorde em uma safra que é apenas a terceira maior da história. Isto em uma época onde a crescente demanda para a produção de etanol exige quebras anuais de recordes atingidos anteriormente. Como a produção de etanol a partir de milho não para de aumentar (neste ano agrícola serão consumidas 119 milhões de toneladas, duas safras brasileiras, para esta finalidade), a luz amarela, representada pelos estoques em queda, tende a tornar-se vermelha. Esta revisão indica estoques de milho no fim do ano agrícola de 2010/2011 no nível de 7% do consumo americano, o que é muito pouco. Embora isto signifique que o abastecimento até meados do ano de 2011 está garantido, as reservas para cobrir qualquer acidente de percurso na safra a ser implantada no próximo ano se tornam cada vez menores e esta conjuntura abre espaço para a especulação.

Ainda nos Estados Unidos, a autorização para o acréscimo do teor de etanol na gasolina, de 10% (E10) para 15% (E15), introduz um novo componente no mercado do milho. Esta autorização ainda é limitada, pois, por decisão da EPA (Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos), esta concessão está limitada para uso do E15 em veículos fabricados a partir de 2007. A permissão para uso em veículos fabricados entre 2001 e 2006 somente será avaliada a partir de resultados de testes que estão sendo realizados e serão liberados em novembro. Os veículos fabricados a partir de 2001 constituem cerca de 60% da frota dos EUA e a maioria das empresas produtoras de combustíveis informou que somente disponibilizarão o E15 (há necessidade de instalação de uma bomba de abastecimento específica para este combustível nos postos) após a liberação para uso nestes veículos. Entretanto, a mensagem implícita nesta autorização é a manutenção do propósito de incremento do uso de etanol (seja de milho ou do chamado etanol de segunda geração) para mistura de combustível nos Estados Unidos.

Por outro lado, a China continua dando sinais de que passará a importar milho em maiores quantidades. Existem indícios de que as estimativas de produção deste ano neste país estão superestimadas e que alguma importação líquida será necessária.

Na Europa, a Ucrânia também estabeleceu um limite às exportações de milho, válidos para o resto do ano de 2010. Em se tratando de um tradicional abastecedor da Europa, é de se esperar que a demanda europeia se volte para os países exportadores da América. Especificamente neste ano de 2010, a Espanha, Portugal e Holanda (que, na verdade, funciona como uma porta de entrada para outros países da Europa) já retornaram importações do Brasil com quantidades superiores às do ano passado.

Com essa incerteza, os preços no mercado internacional continuam altos e permanecendo em patamares superiores a US$ 5,00 nas últimas semanas

Situação Interna

Com a safra brasileira já fechada, agora resta o problema da comercialização e o exercício das previsões sobre o comportamento dos agricultores em relação ao plantio da safra 2010/2011.

O primeiro levantamento da safra de 2010/2011, da Conab, indica uma pequena redução na área plantada com milho na safra de verão (ao redor de 3,0%), com a maior redução esperada para o estado do Paraná (cerca de 14%).

Nos outros estados da região Sul, o início da safra vem dentro da normalidade, com uma expectativa de redução (menor no RS) da área plantada, o que ainda pode ser modificado no Paraná em função da reação dos preços internos. O problema passa a ser o rendimento das lavouras, que dificilmente atingirão os níveis de 2009/2010, podendo colocar dificuldades no abastecimento interno destes estados no próximo ano, principalmente no caso do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. A opção seria os estoques existentes e a importação do Paraguai e da Argentina.

Nos outros estados do Sudeste e Centro-Oeste, esta reação dos preços ainda pode influenciar o plantio e evitar grandes reduções na área plantada, como as esperadas durante a fase de preços deprimidos no primeiro semestre. Com as contínuas reduções de área no Paraná, o abastecimento do Sudeste passa a ficar cada vez mais dependente da safra de Minas Gerais, que por sua vez também é um grande consumidor. Mais uma vez a salvação fica por conta dos estoques.

No caso da safrinha, o atraso no plantio da soja no Centro-Oeste poderá afetar a área disponível para plantio do milho nas épocas mais favoráveis de janeiro e fevereiro. Informações do Imea (Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária) indicam que a quantidade disponível para comercialização em Mato Grosso está em cerca de 550 mil toneladas, menos do que 10% da quantidade colhida na safrinha de 2010; entretanto, o setor público ainda tem em seus armazéns cerca de três milhões de toneladas de safras anteriores.       

João Carlos Garcia e Jason de Oliveira Duarte

Pesquisadores da área de economia agrícola da Embrapa Milho e Sorgo