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Penas "biodegradáveis"

Penas de aves viram plásticos biodegradáveis. Cientistas portugueses desenvolvem a tecnologia e farão teste industrial.

Penas "biodegradáveis"

Os plásticos tradicionais demoram séculos para se decompor e representam ameaças em termos de contaminação dos solos. Para contrariar este cenário e ao mesmo tempo aproveitar um recurso habitualmente desvalorizado – as penas das aves – um grupo de cientistas da Escola Superior de Tecnologias de Viseu (Portugal) desenvolveu um projeto inovador para produção de bioplásticos. Depois de uma fase laboratorial, o projeto deverá conhecer nos próximos dias o primeiro teste industrial.

Anualmente, a indústria avícola portuguesa produz 20 mil toneladas de penas, um subproduto que representa custos adicionais para os produtores de aves. Assim, através do recurso a tecnologias convencionais da indústria dos plásticos, o objetivo é criar “uma alternativa nobre para a utilização destes resíduos avícolas”, e ao mesmo tempo reduzir a poluição causada pelos plásticos de origem petroquímica, explica Romeu Videira, investigador responsável pelo projeto.

Os investigadores desenvolveram em laboratório um processo que mistura penas de aves (utilizando as queratinas das penas, que são compostas por 91 por cento desta proteína) com glicerol (subproduto da indústria do biodiesel), e “um coquetel de agentes químicos para formar uma pasta de penas que pode ser utilizada para sintetizar bioplásticos por termoprensagem”, esclarece o docente, que leciona na Universidade de Trás-dos-Montes.
Em resultado, surge um produto semi-transparente, homogéneo, estável até 200 ºC, biodegradável, e com propriedades mecânicas similares às do polietileno (plástico produzido com derivados do petróleo).

Biodegradáveis e nutritivos

“Com o estado atual de desenvolvimento da tecnologia, os bioplásticos produzidos podem ser utilizados para preparar filmes e vasos para a agricultura”, garante Romeu Videira. A aplicação do bioplástico em vasos biodegradáveis, que são enterrados com as árvores no momento da plantação, pode substituir os sacos descartáveis e fornecer, através do seu processo de biodegradação, os nutrientes necessários ao desenvolvimento da planta, evitando a utilização de adubos químicos. Quanto à utilização dos bioplásticos na produção de embalagens de alimentos e sacos descartáveis, o investigador diz ainda ser necessária mais investigação.

Depois de cerca de dois anos de investigação, o próximo passo será “agregar numa unidade-piloto as metodologias para produzir, em cada ciclo, alguns Kg de bioplásticos”, e assim promover um novo tipo de indústria, adianta Romeu Videira. O docente adianta ao AmbienteOnline que tem já programado um teste industrial, numa empresa familiar de Aveiro, que «se disponibilizou a parar a produção durante 10 minutos, para podermos transformar 1 kg de penas em plástico». O teste deverá acontecer nos próximos dias.

O projeto de “Conversão de Penas de Aves em Bioplásticos” é financiado pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro, através do programa “iCentro”, com um investimento total de mais de 50 mil euros. Desta quantia, 80 por cento foi comparticipado pelo iCentro/FEDER, e 20 por cento pela ESTV.