Os produtores brasileiros devem cultivar uma área maior de de grãos, fibras e cereais na safra 2010/11, cujo plantio já foi iniciado no Centro-Oeste. Mas a seca trazida ao país pelo fenômeno “La Niña” deve afetar o volume global da produção ao reduzir a produtividade das lavouras, diagnosticou a primeira estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a nova temporada.
Em compensação, a colheita deverá gerar aos produtores liquidez e renda suficientes para pagar as contas e fechar o ciclo no azul em quase todas as principais regiões agrícolas. Os bons preços no mercado internacional, a demanda externa em alta sustentada e o tamanho da eventual quebra no Sul do país podem levar a uma pressão extra sobre os índices de inflação de alimentos e o abastecimento interno do milho usado como ração para os rebanhos nacionais.
A Conab aponta uma colheita de até 147,94 milhões de toneladas em uma área de 47,99 milhões de hectares. Na safra anterior, os produtores colheram 148,83 milhões de toneladas de grãos em, no máximo, 47,38 milhões de hectares. “Mas podemos chegar 150 milhões de toneladas se o clima ajudar e mantive a produtividade na média”, afirmou o diretor de Política Agrícola da Conab, Silvio Porto.
Para fazer a primeira estimativa de produção, a Conab usou médias de produtividade dos últimos cinco anos, excluindo variações extremas e fora do padrão. “Como teremos ‘La Niña’, haverá ajustes porque a seca vai influenciar no Sul. Teremos problemas de produtividade porque dificilmente repetiremos ano tão bom quanto 2009”, acredita Porto.
Os preços das commodities devem animar os produtores. O governo estima que as cotações em bolsas internacionais devem se manter em alta. A ocorrência de “La Niña”, por exemplo, funciona como pressão e motivo para alimentar o chamado “mercado climático”. “A expectativa de boa renda é fruto também das políticas públicas. Saímos de R$ 800 milhões em 2003 para R$ 5,2 bilhões neste ano nas operações da Conab. Houve uma transferência real de renda para o setor”, disse Porto.
Dados do Ministério da Agricultura mostram que os preços da soja na bolsa de Chicago aumentaram 15% em dólar nos últimos 12 meses. As cotações do milho subiram 36,8% e o algodão, 67%. No trigo, a elevação somou 46,8% desde outubro de 2009. “Isso dá força ao milho também. Mas o produtor reclama que já vendeu a produção e não realizou esses preços”, ressalvou o secretário interino de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, José Maria dos Anjos.
O levantamento da Conab mostra indícios de ampliação nas áreas cultivadas de soja, algodão e feijão. As lavouras de milho devem registrar uma significativa redução de área. O avanço dessas áreas de soja e algodão devem se dar em regiões ocupadas pelo milho.
No caso do algodão, cuja produção cresceria de 1,19 milhão para até 2,57 milhões de toneladas (40%), o governo estima uma “recuperação de preços” e elevação da produção nos principais Estados. Para o arroz, que deve ter produção de até 12,26 milhões (+9%) ante 11,226 milhões de toneladas, a Conab acredita que, mesmo com problemas climáticos no Rio Grande do Sul, a colheita pode superar 13 milhões de toneladas.
No feijão, cuja colheita total pode aumentar de 3,26 milhões para 3,42 milhões de toneladas, o governo estima uma “produção excelente” no Paraná. Para o milho, base da alimentação animal de bovinos, frangos e suínos, o levantamento projeta redução global de até 3,64 milhões de toneladas – 3 milhões na safra de verão e outros quase 700 milhões na safrinha de inverno. “A concorrência com a soja vai reduzir a área. E o plantio tardio da soja no Centro-Oeste pode prejudicar ainda mais os produtores”, prevê Silvio Porto.
Para a soja, a estatal projeta mais liquidez estimulada pelos preços. A produção deve subir no Centro-Oeste, mas ficará menor no Rio Grande do Sul. No total, o país colheria até 68,9 milhões de toneladas, ante 68,8 milhões em 2009/10.