Depois de intervir para escoar 10,9 milhões de toneladas de milho do mercado – quase todo o volume destinado à exportação – e de ver os preços do produto subirem mais de 30% desde julho em algumas regiões do país, o governo federal estuda fazer leilões para empresas consumidoras de milho. O objetivo é dar uma sinalização de preços ao mercado, evitando explosões de alta.
Reflexo do aumento dos preços internacionais do milho por conta da quebra da safra de trigo na Rússia e países da Europa, a alta das cotações domésticas do cereal tem preocupado as integrações de aves e suínos que consomem cerca de 32 milhões de toneladas de milho por ano como matéria-prima para a ração dos animais.
Caso os preços do milho continuem a subir, o governo fará leilões de VEP (valor de escoamento da produção). Nesse mecanismo, o governo paga aos consumidores que comprovarem a compra do milho dos estoques oficiais uma compensação do frete.
“Se o mercado se estabilizar sozinho e [o preço] começar a cair, não haverá leilão”, explica Sílvio Farnese, diretor de programas da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura. Os leilões, que ocorreriam a partir de outubro, seriam restritos às regiões onde os consumidores de milho enfrentam dificuldade para comprar, como por exemplo, o Sul do país.
A expectativa de novas altas no mercado tem feito produtores segurarem o milho. “Alguns produtores colocaram na cabeça que o milho pode chegar a R$ 30 [a saca]”, observa Farnese.
No interior do Rio Grande do Sul, a cotação do milho está na casa dos R$ 25 por saca, segundo Paulo Molinari, da Safras & Mercado, mas o mercado é nominal, isto é, não há negócios. O preço é quase 35% superior à média de julho deste ano (ver gráfico nesta página), quando começou a disparada das cotações no mercado internacional . Na bolsa de Chicago, desde o início de julho, o contrato de segunda posição do milho já subiu 41,21%, para US$ 5,1225 por bushel ontem.
“O produtor vendeu muito até junho, agora acha que os preços vão subir mais”, avalia Molinari.
De acordo com Farnese, a realização dos leilões está sendo discutida com o Ministério da Fazenda. Ele disse que os volumes a serem ofertados ainda não estão definidos. O produto seria negociado a preços de mercado.
Na avaliação do governo, o quadro atual de oferta e demanda de milho não explica as recentes altas do produto. Apesar das exportações estimadas de 9,5 milhões de toneladas de milho – 3,5 milhões foram embarcadas até agosto – , o estoque final de milho em 31 de dezembro ainda deve ficar em 12,663 milhões de toneladas (ver quadro).
As exportações de milho chegarão a esse número este ano porque o governo estimulou o escoamento por meio dos leilões de prêmio de escoamento de produto (PEP), nos quais subsidia o frete. Só puderam participar dos leilões as empresas que compraram o milho no mercado com o compromisso de escoar o produto para Norte e Nordeste e regiões fora do Sul, Centro-Oeste e Sudeste do país. Das 10,9 milhões de toneladas escoadas, ao custo de R$ 800 milhões pelo governo, apenas 900 mil toneladas foram destinadas ao Norte e Nordeste. O restante foi para a exportação.
“Já está na hora de o governo realizar leilões”, defende Francisco Turra, presidente da União Brasileira de Avicultura (Ubabef). Ele afirma que “não há motivo para desespero [em relação aos estoques]”, mas diz que está “havendo especulação” com o milho.
Para Molinari, da Safras, os preços do grão já atingiram um “limite técnico”. Em sua análise, o mercado já precificou a quebra da safra da Rússia, a menor produtividade do milho nos EUA e o projeto de aumento do percentual do etanol na gasolina naquele país.
Agora, afirma, o que vai determinar o preço no mercado internacional – e também no Brasil – é a situação da produção na América do Sul. “É a hora do weather market na América do Sul”, comenta o analista.