Eficiência logística, associativismo e força política são os três principais pilares da agricultura desenvolvida nos Estados Unidos e que precisam ser implementadas em Mato Grosso para aumentar a competitividade da soja e do milho no mercado internacional. Os custos de produção de Mato Grosso (segundo maior produtor de grãos do Brasil) são semelhantes aos de Illinois (segundo maior produtor do país norte-americano) quando analisados da porteira para dentro.
A diferença começa quando o produto sai da propriedade, já que uma das maiores deficiências do agronegócio estadual está relacionada às dificuldades no escoamento da safra, que refletem negativamente na formação do preço do produto, achatando a rentabilidade dos produtores locais, o que limita novos investimentos nas lavouras.
No fim de agosto, uma comitiva de produtores mato-grossenses encabeçada pela Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja) esteve por 8 dias nos Estados americanos de Iowa (maior produtor daquele país) e Illinois, percorrendo propriedades que cultivam soja e milho. Lá acompanharam a rotina dos agricultores. Também tiveram a oportunidade de pontuar as diferenças e semelhanças entre os 2 produtores. A Gazeta acompanhou essa visita a convite da Aprosoja.
Levantamento realizado pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) comparando custos de produção de Illinois e de Mato Grosso mostra diferenças consideráveis entre os 2 estados, sendo que o brasileiro tem gastos totais 12% menores puxados pelos custos com sementes e operação mecânica e de transporte dentro da propriedade. Já os desembolsos com fertilizantes, defensivos, insumos, mão-de-obra e impostos são menores para os mato-grossenses.
Em números gerais, segundo o estudo, os produtores mato-grossenses gastaram US$ 1,072 mil por hectare na safra 2008/2009, enquanto os americanos desembolsaram US$ 1,222 mil/ha na mesma temporada agrícola. Apesar de os agricultores locais terem gastado menos, isso não reflete no ganho, ou seja, na rentabilidade, o que na avaliação do diretor da Aprosoja, Ricardo Arioli, está diretamente ligado ao endividamento. “Por mais que os produtores tenham gastado menos para produzir, na hora de escoar o produto encontram barreiras, reduzindo a rentabilidade do produtor mato-grossense”.
Dados obtidos junto aos produtores norte-americanos mostram a triste realidade mato-grossense com relação à falta de logística. O frete pago pelos produtores estaduais para transportar uma tonelada de soja de Sorriso até o porto de Paranaguá (PR) é 85% maior que o pago pelo agricultor de Illinois até o porto de Nova Orleans, via hidrovia pelo rio Mississipi. Enquanto o frete no Estado é de US$ 120/tonelada, em Illinois é US$ 18/t, favorecido pela logística estratégica, que inclui também ferrovias e rodovias em excelentes condições.
O que mais impressiona é o modo com que os americanos executam projetos de infraestrutura. No terminal de escoamento da ADM, que fica à beira do rio Mississipi, em Illinois, há a possibilidade de transportar a produção pelo rio. A carga chega à ADM por este meio ou pelas rodovias em caminhões pequenos e descarregam. Depois a carga é colocada em barcaças e segue para Nova Orleans para o destino final, seja a indústria nacional ou exportação. Outro exemplo é visto na cooperativa West Central, que é vizinha aos trilhos de uma ferrovia.
Mas toda esta estrutura não foi conquistada da noite para o dia. O associativismo existente entre os produtores americanos é algo longe de ser vivenciado pelos mato-grossenses em curto prazo. Os produtores se juntam e articulam melhorias que vão beneficiar a todos, uma cultura que os mato-grossenses estão tentando implementar, mas que ainda é bastante inferior ao que é visto nos EUA. “Agora estamos fortalecendo as entidades representativas, nos aproximando de universidades e institutos de pesquisa e também almejando cargos políticos em prol do desenvolvimento do agronegócio”, diz Ricardo Arioli ao afirmar que os americanos têm algo que não existe no Brasil: lobby político.
“Eles se unem para eleger um deputado que possa representá-los e ajudar no que for preciso para a atividade, aplicam recursos nas campanhas. No Brasil se o produtor fizer isso ele é mal interpretado”, continua o representante da Aprosoja complementando que os planos agrícolas existentes no país também favorecem a atividade, por meio do pagamento de subsídios, seguro rural, pagamento por conservação ambiental entre outros programas.
Perdas – Produtores de algumas regiões de Iowa estão contabilizando perdas na produtividade em função das chuvas, que tem contribuído para o aparecimento de doenças como nematóides e a síndrome da morte súbita. Segundo os sojicultores, este ano as doenças estão mais graves e deve comprometer a produtividade da planta. Historicamente, 75% das plantações dos Estados Unidos enfrentam a nematóide de cisto todos os anos.
De acordo com o pesquisador do Departamento de Patologias da Universidade Estadual de Iowa, Gregory Tylka, os cistos sobrevivem por até 10 anos no solo, sem alimentação, e que quando a soja é semeada a doença se manifesta. “Há casos em que as plantas doentes ficam mais bonitas, dificultando o diagnóstico e outros em que a planta não cresce as folhas ficam amareladas”.
Para controlar o nematóide, já que não há como combater, a orientação do pesquisador é o manejo, independentemente se a doença for detectada nos Estados Unidos ou no Brasil. “Tem que percorrer a lavoura, coletar amostras do solo, já que o nematóide se concentra na raiz. E isso deve ser feito, antes de plantar, quando a soja estiver em desenvolvimento e também na colheita. É um trabalho constante”.
Em Mato Grosso, o diretor da Aprosoja, Ricardo Arioli, diz não saber precisar qual o impacto dos nematóides nas lavouras, porém afirma que a maior incidência registrada no Estado ocorreu em Sorriso. Outra orientação para reduzir a população de nematóide é a rotação de cultura, alternando o plantio de soja com o de milho.
Também neste ciclo agrícola a morte-súbita está acometendo as lavouras. O produtor Dick Blomgren, que cultiva 3 mil acres com soja e milho em Iowa, afirma que este ano choveu muito e que por isso está complicado controlar a doença que aparece de uma hora para outra, matando a planta. A síndrome da morte súbita já provocou a perda de aproximadamente 20% para ele. Outro produtor, Jim Legvold, planta 1,5 mil acres também em Iowa, e afirma que algumas áreas contabilizam perdas de até 50%, o que na avaliação dele vai resultar em mudanças no relatório da USDA divulgado este mês.
Apesar de todos os indicadores negativos quanto à produtividade, relatório mensal de oferta e demanda divulgado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), divulgado na sexta-feira (10) aponta que a área estimada para a safra 2010/2011 de soja ficou em 31,930 milhões de hectares e produção de 94,790 milhões de toneladas. A produtividade está em cerca de 50,10 sacas por hectare. Os números são acima dos projetados pelo mercado e também pelos produtores que esperavam um número inferior, na casa dos 92 milhões/t e 49 sacas/ha.