As operações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para os maiores grupos econômicos estão em desaceleração. De janeiro a julho de 2010, tanto os desembolsos de recursos quanto as contratações de novos financiamentos para essas empresas mostram uma perda de fôlego em relação ao mesmo período do ano passado. Além da queda em valores absolutos, também há um recuo da participação relativa desses grupos no total de operações do banco de fomento.
Nos primeiros sete meses deste ano, os desembolsos para os 30 grandes grupos atingiram R$ 16,5 bilhões, 15,8% abaixo dos R$ 19,6 bilhões de igual período de 2009 – excluindo a operação de R$ 25 bilhões para a Petrobras. Se ela for incluída, os desembolsos de janeiro a julho de 2009 somam R$ 44,6 bilhões. Na comparação com esse valor, o desembolso aos grandes grupos neste ano é 63% menor.
A trajetória dos desembolsos e das contratações não representa queda no ritmo dos investimentos no País, mas pode indicar que a demanda desses grupos, com projetos engatilhados, foi atendida recentemente pela instituição, no ano anterior, ou está sendo atendida por outras fontes. O mercado externo, por exemplo, reabriu, voltando a garantir funding às empresas brasileiras, ainda que as condições não sejam tão favoráveis como no pré-crise. A expectativa dos analistas é de que o total investido na construção e em máquinas equipamentos – a formação bruta de capital fixo – vai crescer cerca de 20% neste ano, quase três vezes mais que a expansão na casa de 7% esperada para o Produto Interno Bruto (PIB).
As estatísticas do BNDES revelam que a fatia dos 30 grandes grupos correspondeu a 23% do total de desembolsos feitos pelo banco nos primeiros sete meses de 2010. Essa participação é um pouco maior que os 20% observados em igual período de 2009 se não for incluída a megaoperação para a Petrobras. Com ela, o percentual sobe para 44%.
Criado em julho de 2009, um programa emergencial – o Plano de Sustentação do Investimento (PSI) – ajuda a explicar a desconcentração de operações. Com a retomada dos investimentos na economia, um número maior de empresas tem recorrido ao banco, aproveitando as taxas de juros atraentes do PSI.
O programa também tem sido alvo dos grandes grupos. As operações do PSI para os 30 maiores totalizaram R$ 6,2 bilhões de janeiro a julho. No mesmo intervalo de 2009, a parcela do PSI para os 30 maiores foi de R$ 2,1 bilhões, mas o programa começou apenas em julho. O limite de exposição do BNDES nessa linha de crédito é de R$ 1 bilhão por grupo econômico.
A queda das contratações para os 30 maiores grupos neste ano foi mais intensa que a dos desembolsos. Nos primeiros sete meses do ano, elas foram de R$ 21,5 bilhões, 31,7% menores do que os R$ 31,5 bilhões de igual período de 2009, excluindo a operação da Petrobras. Se incluída, o total dos primeiros sete meses de 2009 vai a R$ 56,2 bilhões. Em relação a esse valor, as contratações de janeiro a julho de 2010 são 61,7% menores.
Com a retomada dos negócios nos mercados internacionais, grandes tomadores no BNDES em 2009 já captaram recursos neste ano, o que pode ajudar a entender a desaceleração nas contratações. Vale, Votorantim, Petrobras, Marfrig, Braskem, JBS e OSX já tomaram cerca de US$ 6,7 bilhões no mercado externo com emissão de bônus, empréstimos ou pré-pagamento de exportação. Esse montante chega a quase R$ 12 bilhões.
O frigorífico Marfrig, que contou com investimento em capital pelo BNDES em 2008 e 2009, captou US$ 500 milhões no mercado externo com emissão de bônus com prazo de dez anos em operação concluída no primeiro semestre deste ano. Ricardo Florence, diretor de Planejamento e de Relações com Investidores da Marfrig, informa que a companhia não tomou financiamentos no banco de fomento, mas considera o BNDES “uma fonte de recursos importante no desenvolvimento da indústria brasileira e sempre deve ser considerado como alternativa para o financiamento de novos projetos”.
Sinal de que o mercado segue favorável, no fim de agosto, a Braskem confirmou estudos para uma emissão de títulos perpétuos ainda este ano para refinanciar papéis emitidos em 2005 com juros de 9,75%. O objetivo da nova emissão seria reduzir o custo da dívida, de US$ 150 milhões, aproveitando as condições de mercado e a opção de recompra que a empresa tem em dezembro deste ano, além de manter o relacionamento com os investidores desse tipo de bônus.
Para o diretor de Planejamento do BNDES, João Carlos Ferraz, os grandes grupos permanecem importantes nas operações do banco, ainda que tenham perdido participação relativa. O investimento continua a crescer, ampliando o número de empresas que participam desse processo, diz Ferraz. “Isso não significa que os grandes grupos não estão investindo, ao contrário. A participação relativa no total é que diminui.” Segundo ele, 2009 mostra uma forte concentração em grande parte devido à operação para a Petrobras.
As contratações refletem mais a intenção de investimento das empresas, enquanto os desembolsos correspondem ao dinheiro que chega efetivamente ao caixa das companhias. “O desembolso espelha melhor o esforço do investimento físico das empresas”, diz o economista Marcelo Miterhof, do BNDES.