As cenas de incêndios consumindo lavouras na Europa também podem ser vistas em alguns Estados brasileiros. Em cidades de Goiás e Mato Grosso as plantações de milho safrinha não recebem chuvas há mais de 150 dias, o que eleva o risco de incêndios, espontâneos ou causados por acidentes.
Levantamentos não oficiais realizados por alguns produtores mostram que quase 500 hectares de lavouras foram atingidos por incêndios nos últimos dias em municípios de Goiás. Um curto circuito no motor de uma colheitadeira foi suficiente para iniciar uma queimada em uma plantação de milho safrinha em Mineiros, que consumiu quase 100 hectares.
O recente incêndio no Parques Nacional das Emas, no sudoeste goiano, próximo às divisas com Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, atingiu áreas de produção já colhidas. O fogo, no entanto, consumiu apenas a palha do milho depositada sobre o solo após a colheita e que serve como base para o plantio direto da safra de verão. Por conta disso, a Federação de Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg) já espera por um aumento nos custos para o próximo ciclo de plantio, que começa a partir de setembro próximo.
“Muitas vezes o incêndio não é espontâneo, mas qualquer fagulha é suficiente para que ele tenha início por conta da baixa umidade relativa e do longo período sem chuvas”, afirma Edson Alves Novaes, gerente de estudos técnicos e econômicos da Faeg.
Em Mato Grosso, maior produtor de soja do país, mesmo com os graves problemas enfrentados no município de Macelândia, o incêndio não teve impactos sobre as áreas produtivas. O governo ainda não concluiu as perdas provocadas pelas queimadas deste ano, mas os focos registrados ocorreram após a conclusão dos trabalhos de colheita.
“Registrados uma queima em uma área coberta por palhada em Sorriso e um incêndio que matou aproximadamente 50 cabeças de gado em Juara. Fora isso as perdas foram mínimas”, afirma Rogério Romanini, diretor de relações institucionais da Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato).
Em Mato Grosso do Sul, a Federação de Agricultura e Pecuária do Estado (Famasul) informou que houve um aumento no número de focos de incêndio, mas nada suficiente para provocar perdas sobre a produção de milho. Com a safrinha praticamente colhida, a preocupação está no efeito que a falta de chuva ainda pode provocar.
O motivo para um período tão longo sem chuvas se deve ao período de transição entre os fenômenos climáticos El Niño (aquecimento das águas no oceano Pacífico) e o La Niña (esfriamento das águas do oceano Pacífico).
“Diante desse cenário, acreditamos que as chuvas devem começar mais tarde neste ano. As precipitações que geralmente têm início na segunda quinzena de setembro devem ocorrer neste ano a partir de segunda quinzena de outubro”, afirma Eduardo Gonçalves, da Somar Meteorologia.
Diante do cenário de prolongamento da estiagem, a preocupação dos produtores do Centro-Oeste é com as condições para o próximo plantio. “A previsão é de 50 milímetros de chuva para outubro, quando precisamos de pelo menos o dobro disso. Nossa safrinha já sofreu com a estiagem”, disse Romanini, da Famato.