A quebra nas safras de trigo de Rússia, Cazaquistão e países da Europa por causa da seca deve abrir espaço para o milho brasileiro no mercado internacional. Combinado ao apoio do governo às exportações por meio dos leilões de PEP (prêmio de escoamento de produto), o novo cenário deve permitir que o Brasil alcance – ou até mesmo supere – uma exportação de 8 milhões de toneladas de milho este ano, segundo analistas.
Na Europa, o milho concorre com o trigo como matéria-prima para a ração de animais, por isso a perspectiva de menor oferta do cereal faz do produto brasileiro a principal alternativa para os importadores. “A Argentina e a Austrália têm trigo, mas do tipo duro, que não é usado para ração. Neste momento, quem pode atender a essa demanda é o Brasil”, argumenta Anderson Galvão, da consultoria Céleres. O país colhe atualmente uma de suas maiores safras de milho: 54,3 milhões de toneladas, de acordo com a Conab.
Ele lembra que em 2007, quando a produção de trigo na Europa também caiu devido a problemas climáticos, as exportações brasileiras de milho bateram recorde – quase 11 milhões de toneladas – , em parte puxadas pela demanda de países europeus. Só no segundo semestre daquele ano, as vendas (para Europa e outras regiões) totalizaram 7,7 milhões de toneladas, recorda-se Galvão.
Até o mês passado, as exportações de milho ainda não estavam convidativas por conta dos preços internacionais e do real valorizado em relação ao dólar. Entre janeiro e julho, os embarques somaram 2,344 milhões de toneladas, quase 34% abaixo das 3,540 milhões de igual período de 2009, conforme dados preliminares do Ministério do Desenvolvimento.
Mas o cenário mudou, pois a valorização do trigo no mercado internacional, reflexo da perspectiva de quebra, também puxou a cotação do milho. Do início de julho até ontem, o contrato de segunda posição do trigo na bolsa de Chicago subiu 54,87%, fechando a US$ 7,4375 por bushel, segundo Valor Data. Em igual período, o contrato de mesma posição do milho subiu 15,23%, para US$ 4,18 por bushel ontem.
Apesar da forte alta do trigo, analistas têm observado que os estoques atuais do cereal – entre 175 milhões e 178 milhões de toneladas – estão em níveis mais elevados do que as 124 milhões de toneladas da safra 2007/08, quando a safra europeia de trigo também quebrou. Hoje o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) divulga seu relatório de oferta e demanda e deve fazer ajustes na oferta de trigo pelo mundo.
Os preços do milho na exportação já refletem a alta do milho no mercado internacional. Segundo Paulo Molinari, da Safras&Mercado, no começo de julho, o milho para exportação valia R$ 16,50 a saca FOB porto de Paranaguá. Na semana passada, já havia ofertas a R$ 20,00. “Mudou o ambiente para essas commodities”, acrescenta Molinari. Diante do novo quadro e do apoio do governo ao escoamento da produção de milho do país, Molinari não tem mais dúvidas de que as exportações atingirão oito milhões de toneladas.
Ontem, o Ministério da Agricultura informou que de 11 milhões de toneladas de milho ofertadas em leilões de PEP, foram foram negociadas 9,6 milhões de toneladas, com despesas de R$ 640 milhões. Nessas operações, cujo intuito é evitar a queda dos preços, o governo paga um prêmio para empresas e cooperativas que escoarem a produção. O grão pode ser destinado tanto ao mercado interno quanto ao exterior.
Os leilões de PEP já contribuíram para um aumento de 3% a 5% nos preços do milho no mercado interno, disse ontem o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Edilson Guimarães, durante o Congresso Brasileiro do Agribusiness.
Para Molinari, a maior parte das 9,6 milhões de toneladas escoadas nos leilões de PEP devem ser destinadas ao mercado externo.