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Saúde Animal

Sem reconhecimento

Ser livre de aftosa sem vacinação ainda não traz benefícios para SC. 1º setor que poderá se beneficiar da certificação da OIE é a suinocultura.

Sem reconhecimento

Reconhecido em 2007 pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) como zona livre de febre aftosa sem vacinação, Santa Catarina é o único Estado brasileiro com esse status. Em 2000, os catarinenses vacinaram pela última vez o rebanho e de lá para cá adaptaram suas criações as normas sanitárias internacionais. Só que até agora não tiveram nenhuma vantagem econômica por causa do reconhecimento. O primeiro setor que poderá se beneficiar da certificação da OIE é a suinocultura.

O produtor Valdomiro Bevilaqua dedicou grande parte da sua vida a criação de suínos. São mais de 30 anos produzindo leitões. Depois que Santa Catarina foi reconhecido como zona livre de febre aftosa sem vacinação, ele fez algumas modificações na granja, localizada no município de Marema (SC). Ele investiu em sustentabilidade, melhorou as condições dos alojamentos dos animais e organizou o local onde ficam armazenados os remédios. Tudo para ficar de acordo com as normas da OIE.

“O produtor não precisa investir. O que ele precisa é se organizar e se conscientizar que o importante é a gente ser livre desse problema que é a febre aftosa. E também para conseguir abrir novos horizontes, novos mercados”, diz o veterinário e supervisor regional de suínos da Cooperalfa, Gelson Nardino.

A granja  é apresentada para missões internacionais como um exemplo de propriedade certificada pela Organização de Saúde Animal, e Valdomiro acredita que o seu sonho está mais próximo de ser realizado.

“É um sonho de todos os suinocultores brasileiros de exportar para a Europa”, diz Bevilaqua.

O suinocultor Leandro Gabriel recebe os leitões produzidos por Valdomiro e capricha na engorda dos suínos. Ele também segue à risca as regras sanitárias internacionais. Em uma planilha, registra todas as visitas que recebe na propriedade. Na parede do galpão, tem fixada a lista de contatos para uma situação de emergência e, além disso, mantém toda a documentação em dia. O que ele mais quer agora é ver reconhecida a qualidade de seus animais e já imagina o quanto vai ganhar com a abertura do mercado europeu.

“Por cabeça, chegando a uma média de R$ 25 é um bom valor. Hoje está em uma média de R$ 20 a R$ 22”, conta Gabriel.

Para ser aceito pelo mercado europeu, os suinocultores catarinenses terão que fazer algumas modificações no sistema de criação. A primeira delas é suspender o uso da ractopamina, uma substância promotora de crescimento usada nas rações de animais para terminação. Outra exigência dos europeus é que os animais sejam nascidos e criados em Santa Catarina e, para isso, será implantado um sistema especial de rastreabilidade, com a identificação das granjas através de tatuagens ou brincos.

A Secretaria Estadual de Agricultura garante que já está atendendo às reivindicações dos europeus.

“Em primeiro lugar, para a União Européia foi atendida a exigência de contratação de 120 médicos veterinários para fortalecer o sistema e estão sendo estabelecidas estratégias para atender a questão de não usar um determinado aditivo na alimentação e estaremos começando o processo de rastreabilidade de suínos em SC”, garante Roni Barbosa.

As indústrias, que hoje exportam 150 mil toneladas de carne suína por mês para mais de 20 países, reconhecem que a abertura de um mercado tão exigente como o europeu  pode servir como um cartão de visitas para a venda a outros países, como Estados Unidos e Japão, mas não se iludem em relação aos preços. Para o empresário Marcos Antônio Zordan, diretor do frigorífico Aurora, o investimento que terá que ser feito vai empatar com o valor que vão receber.

“Nós fizemos um estudo agora, teórico, é um estudo para ver a viabilidade e ele gira em torno de R$ 30 por animal, por carcaça, de custo a maior. É um custo relativamente grande que precisa ser bem pensado para ver se vale a pena entrar nesse mercado. E quanto que os europeus pagam a mais? Hoje cobriria o custo, sem dúvida nenhuma”, avalia Zordan.

Enquanto não são abertos novos mercados internacionais, a Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc), fica com a responsabilidade de garantir a defesa sanitária. O custo para isso não é baixo.

“Anualmente, temos um gasto com o sistema de defesa da Cidasc de R$ 30 milhões”, afirma o diretor da Cidasc, José Joni Waltrick.

A maior parte desse dinheiro vai para o controle de trânsito, já que é proibido o ingresso de bovinos vivos e também de vísceras de outros Estados. A responsabilidade de fiscalizar é dos funcionários que trabalham em postos junto às rodovias. No total, são 69 barreiras fixas, que funcionam 24 horas, nas divisas com o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, além de cinco corredores sanitários, por onde é permitido o transporte de animais e alimentos, desde que os veículos estejam lacrados.

“Dificilmente chegam animais ou produtos nas barreiras com documentação irregular ou com a intenção de burlar esse ponto de ingresso. Quando isso acontece, as barreiras móveis são acionadas e o caminhão é interceptado e o produto destruído “, diz a veterinária Luciane de Cássia Surdi.

O Estado conta também com a colaboração de produtores como Clair Eloy Dariva.

“Eu, por exemplo, estou na divisa do Rio Grande do Sul, se a gente vê qualquer coisa, que alguém quer desviar algum gado, a gente denuncia aí no posto, que é muito efetivo, é muito bom”, conta o pecuarista.

Entretanto, nem todos os criadores de gado de corte estão satisfeitos com a situação sanitária de Santa Catarina. Obrigados pela OIE a identificar o rebanho com brincos, os pecuaristas se queixam que gastaram, não tiveram vantagens comerciais e além disso vivem numa situação de isolamento.

“Ficamos ilhados e não podemos trazer genética, a não ser embriões e sêmen de outros Estados. Ficamos ilhados aqui em SC, enquanto outros Estados não passarem a essa condição de livre de aftosa sem vacina”, desabafa um pecuarista.