A seis semanas do início do plantio de verão no Paraná, as estimativas de safra começam a pipocar e apontam em uma mesma direção: a soja cresce enquanto grande aposta da agricultura brasileira em 2010/11. Essa expansão acontece sobre uma área de cultivo já ampliada em 2009/10, quando as vantagens da cultura reduziram as plantações de milho.
O setor produtivo confirma as estimativas técnicas, apesar de ainda não endossar números. “No Paraná, resta saber se haverá espaço para aumentar tanto o cultivo de soja. Mas, com certeza, o plantio tende a aumentar novamente, em detrimento do milho”, afirma o analista técnico-econômico da Organização das Cooperativas (Ocepar), Robson Mafioletti.
Para a Safras & Mercado, a soja terá área 2,2% maior no Brasil, com 3% de avanço no Paraná. Os técnicos da empresa estimam que o milho vai recuar 5,6% e 7,7%, respectivamente. Principal motivo: a lucratividade oferecida pela oleaginosa e o desânimo em relação ao milho.
No Paraná, os produtores que gastaram R$ 1,3 mil por hectare de soja conseguem cerca de R$ 1,8 mil vendendo a produção pelas cotações atuais – que vão de R$ 36 a 41 a saca, dependendo da região. Apesar da combinação de fatores que limitou os preços internos, a margem é bem mais atrativa que a do milho. O cereal tem custo médio colado na cotação de R$ 13,75 a saca.
A AgRural aposta em aumento de 4,3% na área da soja no Paraná e de 3% para a nacional. No milho, reduções de 15% e 6,5%, respectivamente. Apesar das variações maiores, a tendência observada pela empresa é a mesma, com o Paraná puxando o aumento na oleaginosa e a redução no cereal.
Mato Grosso apresenta variações menores para a soja de verão nas avaliações das consultorias. Maior produtor nacional de soja e com pouca área de milho no verão, o estado do Centro-Oeste deve apostar também no algodão, outra cultura em alta no mercado internacional. Mesmo assim, a soja pode ocupar 6,3 milhões de hectares em Mato Grosso – e 4,7 milhões no Paraná –, estimam a Safras & Mercado e a AgRural.
Com dados da Celeres em mãos, a presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a senadora Kátia Abreu (DEM-TO), disse que a soja vai ganhar área e o milho terá retração na próxima safra por causa dos preços. A CNA afirma que o cereal dá prejuízo. Dois municípios do Paraná foram incluídos na pesquisa da confederação: Londrina e Campo Mourão. A perda por saca foi calculada em R$ 4,29 e R$ 3,77 para quem vender a colheita agora, com cotações abaixo de R$ 14.
As tendências apontadas pelas consultorias neste momento devem ser revistas até o final do plantio. Os reajustes, que seguem dados do mercado e informações dos produtores, foram comuns ano passado. A área de soja da Safras & Mercado, por exemplo, passou de 22,6 milhões para 23,3 milhões de hectares.
A tendência de aposta na oleaginosa cresceu durante o próprio plantio em 2009, constatou a Expedição Safra RPC, sondagem realizada anualmente pela Rede Paranaense de Comunicação com visitas às principais regiões produtoras do País, em 12 estados. Na comparação com 2008/09, o plantio cresceu 9% no Paraná e 4,5% em Mato Grosso. O avanço foi de 5% em todo o País, com um recuo de 12,9% no milho.
Na época, a tendência foi puxada pelo aumento da área de soja matogrossense (de 4,5%, para 6,09 milhões de hectares) e pela redução das lavouras de milho paranaenses (de 29%, para 940 hectares). A Expedição Safra RPC volta a campo entre final de setembro e novembro. Esses números foram consolidados em março deste ano.
As estimativas oficiais sobre a intenção de plantio da safra de verão 2010/11 devem sair a partir de setembro. O Departamento de Economia Rural (Deral) do Paraná e a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) ainda trabalham com números da safra 2009/10, encerrada em junho.
Os técnicos concordam com a avaliação de conjuntura que vem sendo feita pelas consultorias privadas. O agrônomo Otmar Hübner, do Deral, cita, no entanto, a rotação de culturas como fator limitante à expansão da soja. Para que a tendência geral mude, considera que são necessários fatos improváveis, como a melhora repentina do mercado do milho.