Depois de enfrentar, nos últimos dois anos, a pior crise de sua história, a suinocultura norte-americana começa a dar sinais de retomada. Os lucros voltaram. Hoje, a maioria dos suinocultores do país já consegue operar com lucratividade. Os investimentos também. Produtores e agroindústrias já começaram a ampliar os seus plantéis.
Os recentes aumentos dos preços do milho e da soja, no entanto, serviram para diminuir a empolgação dos suinocultores norte-americanos. “Os produtores ainda estão bem desconfiados depois de tudo que passaram”, afirma Robert Taubert, sócio-gerente da New Horizon Farms, uma das mais eficientes companhias suinícolas dos Estados Unidos.
Para Taubert, a suinocultura norte-americana tem todas as condições de reencontrar o caminho da estabilidade econômica – a demanda interna está aquecida e as exportações são crescentes. O especialista pondera, entretanto, que ainda é cedo para afirmar que todas as perspectivas otimistas irão realmente se concretizar. A volatilidade dos preços dos insumos para ração e a dificuldade que o suinocultor ainda encontra para contratar crédito estão entre os entraves que podem comprometer a recuperação do setor suinícola naquele país. “Os produtores têm a possibilidade de alcançarem margens muito boas para o balanço de 2010 e para todo o ano de 2011. Mas a questão é, será que vão?”, indaga.
Conhecer, observar e aprender – A suinocultura norte-americana estará no foco das discussões do 9º Seminário Internacional Agroceres de Suinocultura, que acontece de 4 a 6 de agosto em Porto de Galinhas (PE). O assunto será o tema da palestra de Taubert, que além de sócio-gerente da New Horizon Farms é engenheiro civil.
Em sua apresentação, o especialista traçará um panorama da atual situação da suinocultura norte-americana, comentará os impactos que a crise gerou na atividade e as estratégias usadas pelo setor para superar as dificuldades.
Taubert falará também sobre questões importantes para a suinocultura mundial, como as tendências para as áreas ambiental e de bem-estar animal, e se a política energética dos Estados Unidos vai continuar pressionando o preço do milho no mercado internacional. Na entrevista a seguir, Taubert dá uma ligeira prévia dos assuntos que abordará no Seminário da Agroceres. Confira.
Qual a situação da suinocultura nos Estados Unidos atualmente?
Robert Taubert – Hoje, a maioria dos produtores nos Estados Unidos está conseguindo trabalhar com lucro. Eu diria que uma granja de médio porte está conseguindo lucrar cerca de 15 a 20 dólares por cabeça, talvez um pouco mais no verão. Vai levar um certo tempo para que os produtores recuperem o patrimônio que perderam durante a crise e até que vejamos grandes expansões, mas algumas granjas já estão começando a aumentar o número de matrizes. A JBS, por exemplo, está repovoando algumas de suas granjas na Costa Leste, e outras granjas pequenas de 1000 a 1500 cabeças também estão aumentando seus plantéis. Houve um aumento recente nos mercados de milho e soja e parte daquela empolgação sobre o potencial de lucros caiu devido à alta nos preços. Os produtores ainda estão bem desconfiados depois de tudo que passaram. O crédito também está difícil, a não ser para empresas mais sólidas. Os produtores têm a possibilidade de alcançarem margens muito boas para o balanço de 2010 e para todo o ano de 2011. Mas a questão é, será que vão?
Apesar da forte crise, a suinocultura norte-americana encolheu pouco. Qual o papel do governo e dos bancos no auxílio ao setor de suínos durante a crise?
Taubert – De primeiro de junho de 2008 a primeiro de junho de 2010, o plantel reprodutivo americano e o rebanho total foram reduzidos em quase 5%. O governo praticamente não fez nada para ajudar a indústria. Ele comprou carne suína algumas vezes para programas como merendas escolares e ajuda para a população, mas na verdade não tomou nenhuma medida significativa que pudesse ser considerada como um esforço para manter a suinocultura viva no país. Os bancos, por outro lado, foram forçados a usar a criatividade para manterem suas operações e seus portfólios de empréstimos solventes. Incluem-se nisso o aumento nas taxas das operações futuras de animais e ativos de curto prazo, refinanciamentos e aumentos nos prazos de pagamentos para dívidas a termo fixo, e em alguns casos, com os bancos aceitando receber apenas os juros por um período de tempo, etc. Considerando que os ativos fixos das granjas são muito específicos para a produção de suínos, vários bancos preferiram trabalhar junto com os produtores que eles acreditavam que seriam capazes de superar a crise e tomar apenas aqueles que não conseguiriam. Os bancos comerciais que em sua maioria não tinham foco de atividade voltado para agropecuária foram muito mais duros com os produtores.
Mudando de assunto, quais as tendências para a área de bem-estar animal? De que forma essas novas exigências vão influenciar a suinocultura?
Taubert – Continuaremos a ser pressionados a eliminar o uso de gaiolas de gestação. Os grupos de direitos dos animais continuam tendo sucesso na aprovação de leis. Eles têm “selecionado” estados mais vulneráveis com o objetivo de conseguirem mais força para então pressionarem os estados produtores. A indústria, é claro, está lutando, e vamos chegar a um ponto onde a população americana vai ter que decidir se prefere ter alimentos produzidos dentro do país ou se vai ter que importar. Se a população continuar apoiando as leis que impedem uma produção eficiente de alimento, ficará muito mais caro produzir alimento nos EUA e teremos que importar de países como Brasil e China. No longo prazo, as pessoas vão ficar mais conscientes quanto à segurança dos alimentos e quanto à qualidade dos produtos que consomem, e é nessa hora que vão questionar as importações.
E em relação à questão ambiental?
Taubert – Quanto à questão ambiental acho que continuaremos a sofrer o mesmo tipo de pressão que recebemos das organizações de direitos dos animais. E acredito também que chegaremos à mesma posição que mencionei sobre segurança dos alimentos e o aumento no custo e nos preços como consequência do excesso de regulamentação sobre a agropecuária. Durante a crise econômica, 25% da população precisaram de ajuda de algum programa de apoio para ter alimentos. A ideia de que o preço dos alimentos poderá aumentar devido aos direitos dos animais e excesso de regulamentação sobre o meio ambiente, somados à questão da segurança dos alimentos acabará abrindo os olhos da população que buscará um meio-termo. Dito isso, com o Obama [Barack Hussein Obama, presidente dos Estados Unidos] temos o governo mais liberal dos últimos tempos, ou quem sabe até mesmo, o mais liberal da história, então qualquer coisa é possível.
Quais são as tendências para a indústria de etanol nos Estados Unidos?
Taubert – O vazamento de petróleo no golfo dará aos ambientalistas uma plataforma de apoio completamente nova, justificando por que os Estados Unidos precisam parar de explorar o petróleo e tentar buscar fontes alternativas de energia. O problema com o etanol feito de milho é que ele provocou e vai continuar provocando um aumento nos preços dos alimentos, além de custar bastante, principalmente em subsídios. E quem paga essa conta é a população. A dívida pública americana continua crescendo. Estima-se que se o Obama for eleito para um segundo mandato a dívida interna do país vai dobrar. Em outras palavras, ele terá feito mais empréstimos em nome da população do que todos os presidentes anteriores juntos. A população americana que paga impostos e que vota, de maneira geral, não aprova esse excesso de subsídios e os 6 ou 7 bilhões de dólares que a indústria americana do etanol recebe estão sendo alvo de corte de verba no orçamento da nação. O subsídio tecnicamente acaba no final de 2010 e cada vez há mais pressão para que ele não seja renovado, tanto sob o ponto de vista moral (alimento vs. combustível) quanto econômico (não temos recursos para gastar). Acredito que quando chegarmos aos 56,7 bilhões de litros de etanol de milho (15 bilhões de galões), perto de 2014, 2015, não haverá mais incentivos do governo para sua produção, então qualquer aumento acima desse valor só acontecerá se for economicamente viável para a usina. Haverá apoio, sim, para o que está sendo chamado de “segunda geração de biocombustíveis”, já que grande parte da população não considera o uso de alimento para a produção de combustível uma boa alternativa. Acredito que neste momento os Estados Unidos continuarão a buscar inovação quanto a fontes alternativas de combustível, e o etanol de milho não ultrapassará esses 56,7 bilhões de litros ou aproximadamente 1,4 bilhões de toneladas (5,5 bilhões de bushels) de milho.
Como o senhor vê esse processo de concentração no mercado mundial de proteína animal? Em sua opinião quais os reflexos que esse movimento de consolidação pode trazer?
Taubert – Acredito que o processo de consolidação e concentração da participação de mercado na produção de proteína vai continuar. A JBS continua comprando, e diversos estudiosos estão perguntando de onde vem o dinheiro. Eu não sei se isso é bom ou ruim, assim como eu não sei se o melhor para o consumidor é ter tão poucos fornecedores controlando o mercado de um determinado serviço ou commodity. Com o aumento crescente na população mundial, a maior escassez de recursos naturais e a melhora geral no poder de compra da população no mundo, o mercado de proteína atrairá muitos investimentos, o que vai acabar levando à formação dessas megaempresas.
Serviço
9º Seminário Internacional de Suinocultura
Data: 04 a 06 de agosto de 2010
Local: Resort Riu Enotel – Porto de Galinhas (PE)
Realização: Agroceres PIC e Agroceres Nutrição Animal
Site: www.agroceres.com.br
Telefone: (19) 3526-8605, com Gabriela Beloto