Redação (25/02/2009)- A crise instalada no mundo nos últimos meses deixa apreensivos vários setores da economia brasileira, apesar de ninguém estimar quais os reais efeitos da turbulência nos negócios. Mas a preocupação é real e provoca a retração de algumas atividades. No agronegócio, por exemplo, o temor da crise se soma aos problemas climáticos que afetaram a última safra.
Apesar das inúmeras notícias de fechamento de unidades e da concessão de férias coletivas em agroindústrias no país, no Paraná a apreensão não se traduz em demissões. Neste momento, fala-se em cautela e até em redução da produção, mas os empregos, de acordo com os dirigentes de cooperativas agroindustriais, não serão reduzidos. ‘‘As criações animais terão que continuar sendo alimentadas e as pessoas não param de comer’’, disse à FOLHA esta semana o presidente da Coamo, José Aroldo Gallassini.
O presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do estado do Paraná, Ademir Mueller, não demonstra tanto otimismo. Segundo ele, os cortes de vagas de emprego já estão chegando ao campo. Tudo por conta da redução da demanda externa e das perdas provocadas pela estiagem. ‘‘Já estamos sentindo os reflexos da crise’’, diz. A entidade representa 300 sindicatos do estado.
De acordo com o dirigente, a apreensão no campo não é mera expectativa e as demissões já começaram. ‘‘Segundo dados do MTE (Ministério do Trabalho e Emprego) existe um déficit de 3,4% na balança de postos de trabalho no campo’’, diz. A comparação entre os meses de setembro e outubro de 2008 mostra que houve 8 mil desligamentos e 5 mil admissões.
De acordo com a Fetaep, a agricultura emprega no Paraná 420 mil pessoas. Dessas, apenas 120 mil têm emprego fixo – na pecuária e cultura do café, por exemplo – e o restante se divide entre o trabalho temporário no estado e em outras regiões do país.
Mueller afirma que as demissões daqui por diante vão ocorrer em função do aumento dos custos de produção, sobretudo o aumento dos insumos importados, da redução drástica dos preços pagos aos produtores e ainda dos juros mais altos. ‘‘A balança comercial também já registra déficit. Com a queda no consumo no exterior, as nossas exportações diminuem’’, diz. A situação não tem reflexos apenas momentâneos na vida do trabalhador rural. ‘‘Ao negociarmos as condições de salário e trabalho o empresário rural sempre vai colocar essas dificuldades na discussão’’, afirma.
O emprego no campo também vai sofrer os efeitos da queda na produção da safra de verão, estimada em 30%. A conta é simples: com menos produto na lavoura, diminui a necessidade de mão-de-obra. ‘‘Haverá menos emprego na lavoura, no manuseio e transporte dos produtos. É uma reação em cadeia que vai atingir também comércio e indústria’’, avalia Carlos Augusto Albuquerque, assessor da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep).
Albuquerque afirma que com a restrição na demanda a tendência é de redução das atividades na agroindústria.‘‘Grandes empresas estão diminuindo o ritmo nas indústrias’’, diz. Tanto que as entidades que representam os avicultores orientam a redução de 20% no alojamento de frangos de corte. Em todo o país, empresas concedem férias coletivas e fecham unidades.