Redação (26/03/2009) – A crise financeira mundial se instalou definitivamente para o setor da bovinocultura de corte de Mato Grosso. Ontem (25), exatamente um mês depois de anunciar a suspensão dos abates nas cinco unidades em Mato Grosso, o frigorífico Independência confirmou o fechamento de uma das plantas que estavam com as atividades interrompidas desde o dia 26 de fevereiro, a de Confresa (1,16 mil quilômetros ao nordeste de Cuiabá). A unidade que a partir de agora deixa de operar tinha capacidade de abate de 1,2 mil bovinos/dia e mantinha em seu quadro funcional 434 trabalhadores. O município tem plantel de 374, 40 mil animais.
Se por um lado a oferta de animais continua a mesma, a procura pelo boi caiu drasticamente. Os pecuaristas da região de Confresa passam a estar definitivamente sem opção para comercializar seus rebanhos. O Independência era o único frigorífico do município. As alternativas, consideradas onerosas e por isso inviáveis, seriam escoar o gado até Água Boa e percorrer 430 quilômetros, sendo 300 em estrada de chão. Se aventurar dentro do Parque do Nacional do Xingu e atravessar o boi sobre balsa até chegar em Matupá, ou rodar cerca de 270 quilômetros até Santana do Araguaia, no Pará. Porém, todas as cidades citadas já têm a oferta de boi adequada à capacidade instalada. A super oferta neste locais poderá declinar ainda mais as cotações da arroba e tornar a atividade insustentável.
Conforme comunicado da Companhia, “os ajustes necessários ao atual momento”, deverão repercutir em demissões para outras unidades mato-grossenses localizadas em Pontes e Lacerda, Juína e Colíder.
Anteontem, o Independência havia confirmado o encerramento das atividades de uma unidade em Senador Canedo (GO) e Anastácio (MS). Somente ontem, além da unidade de Confresa, outras duas plantas deixam de operar: a unidade de abate e desossa em Pires do Rio (GO) e na planta de abate e desossa em Nova Andradina (MS). Entretanto, a operação de curtume em Nova Andradina seguirá aberta. Os desdobramentos anunciados ontem, segundo o Independência, deverão resultar em mais 2,8 mil desligamentos. Somados aos cortes iniciados desde a última terça-feira o total de demissões deverá chegar a 4,8 mil funcionários. A Companhia, que está em processo de recuperação judicial desde o último dia 2 de março.
Com as informações de ontem, o mapa da atividade em Mato Grosso, o maior produtor de bovinos de corte do País, com mais de 26 milhões de cabeças, se altera e preocupa toda a cadeia que vai do pecuarista ao consumidor.
Com o arrocho da crise da pecuária no Estado, que tem como marco o mês de fevereiro, quando de fato os problemas eclodiram e vieram ecoar junto à sociedade, o Estado, conforme o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) – vinculado à Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Famato) – apresenta os primeiros reflexos: Queda de 22% dos preços recebidos pelo produtor por arroba comercializada, demissão de pelo menos 4,8 mil funcionários empregados nas indústrias frigoríficas, previsão de redução significativa de queda na arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). “Além disso, 44 mil empregos indiretos ligados ao setor poderão ser afetados. Ainda pode ocorrer um agravamento desse panorama caso não sejam tomadas providencias para evitar que as empresas que abriram processo de recuperação judicial decretem falência”, observa o analista em pecuária do Imea, Otávio Celidônio.