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USDA e dólar motivam alta de preços de grãos

Produtores americanos deverão reservar uma área maior para soja e menor para milho e trigo no novo ciclo.

Redação (01/04/2009)- O primeiro levantamento do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) sobre as intenções de plantio no país na safra 2009/10, divulgado ontem, confirmou que os produtores americanos deverão reservar uma área maior para soja e menor para milho e trigo no novo ciclo. Mas, ainda que previsível nas direções gerais, o relatório trouxe pelo menos uma surpresa que deixou reflexos nos preços de soja, milho e trigo , as commodities agrícolas mais negociadas no mundo.

O que surpreendeu os analistas foi a área projetada para a soja. Conforme o USDA, serão 30,8 milhões de hectares, ante 30,6 milhões em 2008/09. Trata-se de um novo recorde histórico, mas que ficou bem abaixo da expectativa predominante. Pesquisa realizada pela Dow Jones na semana passada com 17 empresas americanas, entre as quais Alaron, Citigroup, Fortis, Linn Group e Newedge, mostrou que se esperava, em média, 32,1 milhões de hectares, a partir de um intervalo de previsões que ficou entre 30,7 milhões e 33 milhões de hectares.

"Foi a grande surpresa", confirmou, em Chicago, Dan Basse, presidente da AgResource. Mesmo assim a colheita poderá crescer significativamente, ainda que quase 5 milhões de toneladas a menos do que seria de se esperar com a área média prevista na pesquisa da Dow Jones. Segundo Renato Sayeg, da Tetras Corretora, de São Paulo, com a área projetada pelo USDA e a produtividade média das últimas cinco safras, os EUA poderão colher 85,3 milhões de toneladas de soja em 2009/10, ante 80,54 milhões em 2008/09, que teve produtividade abaixo da média.

Em Porto Alegre, Antonio Sartori, da corretora Brasoja, não se surpreendeu com o tímido aumento da área de soja projetada pelo USDA. Segundo ele, apesar de a atual relação de preços entre soja e milho favorecer a soja – com a ressalva de que o ponto de equilíbrio varia conforme a região de plantio -, o compromisso de Washington em promover um maior uso de biocombustíveis nos EUA nos próximos anos é um estímulo importante para o plantio de milho, uma vez que, por lá, o etanol é basicamente produzido a partir do grão.

Mas, por desafiar a média das projeções, a área prevista pelo USDA para a soja colaborou para elevar as cotações ontem na bolsa de Chicago, principal referência global para os preços dos grãos. Com a ajuda da queda dos estoques americanos em 1º de março, como mostrou outro relatório do USDA, e da desvalorização do dólar, os contratos futuros com vencimento em julho, que atualmente ocupam a segunda posição de entrega no mercado (normalmente a de maior liquidez), fecharam a US$ 9,5050 por bushel, em alta de 48,50 centavos de dólar.

No caso do milho, o levantamento do USDA teve reflexo mais moderado em Chicago, uma vez que a projeção divulgada (34,4 milhões de hectares, 1,1% menor que a de 2008/09) ficou mais ou menos em linha com a média das expectativas do mercado (34,2 milhões de hectares, conforme a pesquisa da Dow Jones). Sob a influência das oscilações da soja e do dólar, os papéis para julho (segunda posição) encerraram a sessão a US$ 4,1475 por bushel, ganho de 18 centavos. Os estoques americanos do grão em 1º de março, maiores que na mesma época do ano passado, ficaram abaixo das estimativas e colaboraram para a alta.

Para o trigo também não houve surpresas. O USDA previu uma área plantada total de 23,7 milhões de hectares em 2009/10, 3,3% menos que no ciclo passado e apenas 100 mil hectares abaixo da média das projeções captadas pela pesquisa da Dow Jones. Neste caso, os estoques divulgados também ficaram dentro das expectativas e tiveram pouca influência sobre as cotações em Chicago, sob a influência de dólar, soja e milho, subiram. Julho (segunda posição) fechou a US$ 5,4525 por bushel, um salto de 20 centavos.

Ainda que o USDA deixe claro que a soja avançará sobre áreas de milho e trigo no novo ciclo – e que, somadas, as áreas das três commodities apresentam redução de 2,1 milhões de hectares sobre 2008/09 -, nenhuma outra cultura sofreu tanto, proporcionalmente, quando o algodão. A pesquisa prevê 3,6 milhões de hectares, 7% menos que em 2008/09 e menor área plantada desde a temporada 1983/84. O número ficou acima das expectativas, e as cotações subiram na bolsa de Nova York. Julho (segunda posição) fechou a 47,35 por libra-peso, alta de 191 pontos.