A Alemanha proibiu ontem o plantio de uma variedade de milho transgênico produzida pela multinacional americana Monsanto, medida que ameaça desencadear uma retaliação comercial da parte dos Estados Unidos.
A proibição diz respeito ao milho MON810, uma variedade da Monsanto resistente a lagartas. A Alemanha une-se, dessa forma, ao grupo de cinco países no continente que optaram por uma decisão similar: Luxemburgo, França, Áustria, Hungria e Grécia. A medida foi comemorada por grupos ambientalistas.
“Cheguei à conclusão de que existem motivos legítimos para aceitar que o milho geneticamente modificado MON810 constitui um perigo real para o meio ambiente”, afirmou, ontem, a ministra da Agricultura da Alemanha, Ilse Aigner.
A ação contrária ao milho geneticamente modificado por alguns governos da Europa é também um golpe contra a Comissão Europeia – o órgão regulador da União Europeia -, para quem as medidas para barrar o produto eram injustificadas. O órgão baseia-se na conclusão de cientistas de que o produto é seguro para os consumidores e o ambiente e preferiu não revelar se vai tentar derrubar a proibição alemã.
Em nota, a Monsanto afirmou que “a autorização para cultivo, importação e uso para alimentação e ração animal na União Europeia não foi afetada pelo anúncio na Alemanha” e acrescentou que “irá analisar as opções existentes para garantir aos agricultores alemães o direito de desfrutar dos benefícios do cultivo da variedade na safra deste ano naquele país”. A multinacional americana declarou ainda que “a justificativa para a decisão não está na segurança do produto”.
A medida alemã deverá inflamar ainda mais as relações com Washington. Numa ação movida pelos Estados Unidos, Canadá e Argentina, a Organização Mundial de Comércio (OMC) determinou em 2006 que a moratória declarada pela UE sobre novos produtos transgênicos, que se estendeu de 1998 a 2004, era ilegal. Desde então, os EUA vêm manifestando preocupação com a continuidade das barreiras ao mercado impostas pela UE.
Para o grupo ambientalista Greenpeace Brasil, uma das maiores vozes contra os produtos geneticamente modificados, “enquanto a Europa fecha suas portas ao milho da Monsanto, o Brasil ignora os riscos evidentes”.
“Lá, a resistência do consumidor é um grande fator de influência, enquanto aqui, a maioria ainda está distante deste debate”, afirmou Rafael Cruz, coordenador da campanha de transgênicos do Greenpeace Brasil.
O MON 810 é resistente à Lagarta-do-Cartucho (Spodoptera frugiperda), Lagarta da Espiga (Helicoverpa zea) e Broca do Colmo (Diatraea saccharalis). A variedade foi aprovada em 19 países, além da UE. No Brasil, o plantio é permitido desde fevereiro.
Um relatório divulgado ontem apontou que sementes transgênicas de milho e soja têm pouco efeito na alta da produtividade agrícola. Segundo a União dos Cientistas Preocupados (UCS, em inglês) elas promovendo a proliferação de ervas daninhas resistentes a herbicidas que reduzem a produção.