Poucos produtos de exportação do agronegócio conseguiram sustentar preços no mercado internacional neste primeiro trimestre. A maior parte está com desempenho abaixo de igual período do ano passado, com algumas exceções, como açúcar e fumo. Apesar da queda nos preços em dólar, o real valorizado deve continuar amortecendo parte do impacto e fazer com que 2009 seja ainda um ano bom em receita agrícola, provavelmente o segundo melhor da década.
No primeiro trimestre do ano, os embarques do agronegócio somaram US$ 12,595 bilhões, queda de 9,4% em relação ao mesmo período de 2008. O complexo carnes (-21,2%) liderou a queda em receita, mas a soja também teve seu preço médio afetado, com retração de 15,4% para US$ 378 por tonelada. O primeiro trimestre ruim já era esperado por especialistas. Mas, a retomada, já percebida no final de março e início de abril, traz perspectiva, senão de superação de 2008, pelo menos, de uma queda menos acentuada.
Citando dados do Ministério da Agricultura, elaborados pelo especialista José Garcia Gasques, o professor de Economia Agrícola da Faculdade de Economia e Administração da (FEA) Universidade de São Paulo (USP), Fernando Homem de Melo, acredita que o câmbio vai amortecer a queda dos preços em dólar e ajudar a minimizar o impacto da retração em volumes. A projeção é que a renda agrícola em 2009 seja de R$ 153,8 bilhões, recuo de 4,5%, ante as R$ 161 milhões de 2008. “Essa queda virá, principalmente, da redução na produção. Será a segunda maior renda da década”, avalia Homem de Melo.
Para ele, a situação não é fácil, mas também não é tão grave quanto se pensava no final do ano passado. “As exportações estão começando a se recuperar. Os preços da soja, por exemplo, estão mais altos que no mesmo período do ano passado”, cita.
Mesmo com a recuperação já percebida no final de março e início de abril, a Tendências Consultoria mantém sua previsão inicial de retração de 14,3% na receita de 2009 de exportação dos produtos básicos do agronegócio (soja, farelo, carne, café, milho, algodão bruto, entre outros). “O começo do terceiro trimestre foi pior do que tínhamos previsto”, justifica Amaryllis Romano, economista da consultoria. A projeção para a receita com semi-manufaturados (óleo de soja, açúcar, couro, etc) está mantida em queda de 5,58% e a de manufaturados (suco, açúcar refinado, fumo manufaturado, etc), em retração de 6,85%.
“Em carnes, esperamos uma recuperação mais rápida em aves e suínos, e mais lenta, em bovinos”, acrescenta Amaryllis.
A RC Consultores também, por enquanto, mantém a previsão de queda de 26% nas exportações do agronegócio para uma receita de US$ 44,8 bilhões. O desempenho ruim deve se justificar pela retração, principalmente, dos complexos carnes (- 27%) e soja (- 39%). A vendas externas de açúcar, cujo crescimento é esperado na casa dos 11%, é que devem impedir uma queda mais acentuada, segundo Fábio Silveira, economista da RC Consultores.
A manutenção do cenário mais pessimista, mesmo com a recente recuperação nas cotações das commodities, se deve ao fato de essa retomada ser especulativa. “O governo americano dobrou sua base monetária do ano passado para este e está provocando a formação de uma nova bolha de preços. Mas, essa bolha vem acompanhada de uma perda real de massa salarial nos Estados Unidos, que equivale a US$ 15 bilhões por mês”, justifica Silveira.
Retomada distante
O setor de carne bovina, que foi um dos mais afetados pela queda das exportações, só deve voltar aos mesmos patamares de volume de vendas externas do ano passado, no segundo semestre, segundo Otávio Cançado, diretor-executivo da Associação Brasileira dos Exportadores de Carne (Abiec).
A retomada dos preços também é incerta. Atualmente em US$ 2,6 mil a tonelada, os preços médios da carne bovina, dificilmente atingem os níveis anteriores à crise, de US$ 4,5 mil, na avaliação de Cançado. Entre as razões para esse ritmo estão a demora na reabertura do mercado chileno e o processo moroso de negociação com a União Europeia, da qual se espera flexibilização das regras de rastreamento bovino. “Tínhamos expectativa de que o Chile voltaria a comprar no primeiro trimestre, mas o chefe do serviço de inspeção do país deixou o cargo e ainda não há substituto com o qual se possa continuar as negociações”, explica Cançado.
No primeiro trimestre do ano, o Brasil embarcou 284 mil toneladas de carne bovina, 17,2% menos que em igual período de 2008. Os preços médios também recuaram 11% no período para US$ 3,037 mil a tonelada. “Alguns cortes de exportação ainda geram prejuízo, mas outros mais rentáveis compensam a perda. Além disso, o dólar valorizado está ajudando a sustentar a receita das indústrias exportadoras”, acrescenta o diretor.
A exportação de fumo foi uma das mais rentáveis neste primeiro trimestre entre os produtos da balança do agronegócio. Os preços do produto embarcado subiram 52% de janeiro a março na comparação com igual série de 2008.
Iro Schünke, presidente do Sindicato da Indústria do Fumo (SindiTabaco), explica que a carga embarcada no início do ano já teve preço negociado no ano passado, que já foi 26% maior que em 2007. Ele acredita que o desempenho ainda melhor pode ser explicado por embarque maior de lâmina de fumo, que chega a custar de quatro a cinco vezes mais que o talo. “Pode também ter coincidido de as exportações terem sido feitas aos países que mais pagam pelo produto, como os Estados Unidos e alguns na União Europeia”, acrescenta Schünke.
Apesar do preço médio mais elevado, as exportações de fumo no primeiro trimestre foram 25% menores em volume. Schünke acredita que os embarques vão continuar retraídos em quantidade neste ano. Neste momento, em que as indústrias instaladas no Brasil estão negociando os contratos para o ano todo, há forte pressão dos importadores por recuo nos preços em dólar, diante do câmbio mais favoravel aos exportadores brasileiros. “Os clientes estão fazendo pressão por queda nos preços. A expectativa e que se consiga manter o mesmo nível de preços em dólar do ano passado”, diz o presidente do SindiTabaco. O Brasil é o maior exportador de fumo do mundo, seguido de China, Índia e Estados Unidos (em volume). Neste ano, o Brasil deve produzir 715 toneladas de fumo, volume semelhante às 720 registradas em 2008.