A firme demanda por alimentos e a melhora dos preços das commodities mostram que a situação da agricultura brasileira não está tão ruim, avaliou nesta segunda-feira (04) o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, ao participar em São Paulo de duas reuniões na sede da BM&FBovespa. “A agricultura está em posição de relativa firmeza, considerando o cenário de crise”, afirmou. Stephanes voltou a afirmar que o setor agrícola é um dos que têm mais capacidade para se recuperar.
O ministro lembrou que, do lado da demanda, o Brasil foi favorecido pelas compras chinesas de soja, que seguem firmes, a despeito da crise econômica global; pelo aumento das exportações de açúcar, depois da quebra da safra indiana; e pelo café, cujas vendas externas vêm se recuperando gradativamente em volume e faturamento. “Participei de cinco feiras nos últimos meses. E, à exceção da Agrishow, ninguém fala em crise”, afirmou.
Stephanes disse que outro indicativo positivo para a agricultura brasileira é a expectativa de aumento da participação de instituições privadas no financiamento da safra. Segundo ele, um representante de uma instituição privada que participou do encontrou garantiu que “vagarosamente, os recursos externos estão voltando para a área agrícola e que a oferta de crédito será melhor que no ano passado”. Quanto ao volume de recursos do governo para custeio da safra 2009/10, Stephanes afirmou que sua pasta continua batalhando por R$ 100 bilhões, mas que a decisão não depende apenas do Ministério da Agricultura.
Durante a segunda reunião, o ministro conversou com o diretor-presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto, sobre a importância a contribuição dos mercados futuros e de opções para a política agrícola. Também participaram do encontro o diretor de Commodities da bolsa, Ivan Wedekin; o presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), Pedro de Camargo Neto.
Trigo
Na primeira reunião do dia, Stephanes encontrou-se com representantes da indústria moageira, que defende a isenção da Tarifa Externa Comum (TEC) para importação de trigo de países de fora do Mercosul. Sobre a tentativa do governo de sensibilizar a indústria para comprar trigo produzido na Rússia, o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Sérgio Amaral, não descartou a possibilidade. “Importar o trigo da Rússia não é uma decisão da Abitrigo, mas uma decisão que cabe a cada moinho”, afirmou. Entretanto, ele destacou que para “viabilizar esta compra, o governo precisaria alterar alguns itens técnicos da portaria”.
Nos cálculos da indústria, haverá um déficit de 1,5 milhão de toneladas de trigo neste ano, que precisará ser compensando com importações de outros países, já que a oferta argentina será menor, em função da quebra de safra no país. Amaral disse que também alertou o ministro sobre a imprevisibilidade do fornecimento de trigo argentino e do subsídio que o governo concede à farinha de trigo, que acaba afetando a competitividade da indústria brasileira.
Segundo ele, o produto argentino já representa 9% do volume total de farinha consumido no País. “Entre 2001 e 2008, as importações de farinha de trigo cresceram 300%”, afirmou. Segundo ele, não haveria problema algum se não houvesse alíquotas diferentes na exportação – maior para o trigo em grão e menor para a farinha.