Suínos confinados em ambientes de criação intensiva respondem com elevados níveis de ruídos quando expostos a condições térmicas desconfortantes. A constatação está numa pesquisa realizada na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz (Esalq), da USP de Piracicaba, pela engenheira agrícola Giselle Borges. Os resultados do estudo apontam uma correlação entre o ruído dos animais e a situação do ambiente em que estão inseridos.
O trabalho foi realizado durante o mestrado de Giselle no programa de pós-graduação em Física do Ambiente Agrícola, sob orientação da professora Késia Oliveira da Silva Miranda. “Por meio dos níveis de ruído emitidos pelos suínos confinados em ambiente de produção intensiva foi obtido um novo indicativo de bem-estar como resposta a variação ambiental”, afirma. O estudo levou em conta a variação da temperatura e umidade relativa no interior da instalação.
Na primeira parte do trabalho, cinco leitões foram submetidos a um experimento em câmara climática, expostos a temperaturas desde a condição inicial de conforto (20°C), até temperaturas superiores a de estresse térmico por calor (38°C). “Os animais apresentaram sinais críticos de estresse térmico por calor a partir de 30°C, caracterizado por prostração e apatia dos animais e, conseqüentemente, menor emissão de ruídos”, conta a engenheira agrícola, pesquisadora do Núcleo de Pesquisa em Ambiência (Nupea) da Esalq.
A etapa seguinte aconteceu no galpão de uma granja comercial de suínos em Monte Mor (interior de São Paulo), com o acompanhamento dos animais durante o período de 21 a 53 dias de idade. “Sensores de temperatura e umidade relativa armazenaram os dados das variáveis ambientais no interior da instalação enquanto três decibelímetros fizeram a captação do ruído animal”, diz Giselle. “Constatou-se que o nível de ruído emitido pelos suínos apresentou-se mais elevado com o aumento da temperatura no interior do ambiente no qual os leitões estavam confinados.”
Resultados
Os níveis de ruído registrados no experimento de campo variaram entre 52 e 60 decibéis. “Na faixa considerada de conforto para os suínos, de 20ºC a 22°C, o limite máximo foi de 55 decibéis”, relata a pesquisadora. “Na faixa de alerta, entre 24ºC e 30°C, o ruído chegou a 60 decibéis.”
Com os dados da pesquisa foi possível montar um banco de dados dos níveis sonoros dos suínos, o qual futuramente deverá subsidiar a produção de um software para aquisição e análise das informações fornecidas pelos próprios animais. “Assim, os produtores terão em mãos um auxiliar na tomada de decisão, proporcionando condições ideais e necessárias, atendendo às exigências das normas de bem-estar animal e conseqüente redução de perdas na produtividade”, conclui a pesquisadora.
Segundo Giselle, os resultados encontrados em ambos os estudos, apesar de divergentes entre si, servem para ilustrar que, quando se trabalha com pesquisas envolvendo animais de produção, com o objetivo de caracterizar suas condições de bem estar, a mudança de ambiente exerce grande influência nas respostas, sejam elas comportamentais (incluindo as sonoras), fisiológicas e muitas vezes produtivas.
“Como o nível de ruído é uma variável que depende somente dos animais e do ambiente no qual estão confinados, a comparação entre os resultados é uma tarefa árdua, com soluções complicadas, que dependem hoje de softwares de transformação de sinais e o estabelecimento de condições padrões de ‘sons’ característicos de cada situação”, ressalta. “Apesar de ser uma área inovadora, existem poucos profissionais atuantes nessa linha de pesquisa no Brasil”.