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Novas tecnologias para melhorar a eficiência das rações avícolas

O Brasil está entre os maiores fabricantes de rações e suplementos para a nutrição animal do mundo.

Humberto Pena Couto – Universidade Estadual do Norte Fluminense – RJ

Marcos Fábio de Lima – RICA – Reginaves Ind. e Com. de Aves – RJ

Sílvio Rogério.Ramos Ferreira – Guaraves  Alimentos – PB

 

 

No mundo atual, globalizado e altamente competitivo, a busca contínua pelo alto padrão de qualidade e pela minimização dos custos de produção, na indústria avícola, são os principais fatores para se alcançar e manter a competitividade. As inovações tecnológicas têm sido um dos instrumentos efetivos para que o sistema de produção alcance altos índices zootécnicos e econômicos e para que a produção avícola seja de alta qualidade e menos onerosa para a alimentação humana.


O Brasil está entre os maiores fabricantes de rações e suplementos para a nutrição animal do mundo. A perspectiva para a próxima década é de um elevado crescimento, dada a necessidade de alimentação de rebanhos cada vez maior
es, impulsionada pelo aumento do consumo interno de produtos de origem animal e pelas crescentes exportações. Atualmente, a produção brasileira de rações alcançou níveis acima de 50 milhões de toneladas, sendo a avicultura o segmento com o maior consumo (56%).

        
Durante décadas, temos assistido a uma revolução na indústria avícola, onde o melhoramento genético alcança, cada vez mais, altas taxas de crescimento, melhores conversões alimentares e alto rendimento e qualidade de carcaças e cortes. A evolução constante nas áreas de fisiologia, nutrição, manejo e ambiência está pressionando as indústrias de rações a reverem seus procedimentos de produção e a renovarem suas tecnologias. 


Nesse ramo de negócio, as empresas e propriedades que processam alimentos para animais precisam estar atentas à competitividade, cada vez mais acirrada, que reduz preços e margens de lucros. Novas tecnologias e novos produtos comerciais surgem a cada momento com o objetivo de satisfazer seus clientes na redução de custos e na qualidade de seus produtos.


A discussão sobre a proibição de alguns aditivos alimentares, na alimentação animal, tem pressionado os fabricantes a se adaptarem à utilização de novos produtos, principalmente líquidos: enzimas, ácidos orgânicos, suplementos vitamínicos etc. Preocupações com a segurança alimentar também sugerem a higienização ou, até mesmo, a esterilização das rações, dada a sua importância na saúde pública. Até mesmo as micotoxinas, uma das vilãs mais temidas da atualidade, deverão que ser controladas e segregadas para minimizar sua ingestão via alimentos.


A preocupação ambiental sugere várias práticas para reduzir as contaminações do ar, da água e do solo. Os processamentos, como moagem, peletização, extrusão, dentre outros podem contribuir muito para o melhor o aproveitamento dos nutrientes e conseqüentemente reduzir suas excreções. 


A conscientização da população mundial quanto à necessidade de se consumir alimentos seguros é o clímax da revolução alimentar a que temos assistido, principalmente nos países do primeiro mundo. Os técnicos da área de produção animal não devem medir esforços para conquistar a credibilidade do consumidor, que, cada vez mais, está se preocupando com sua saúde e seu bem-estar.


A produção de alimentos seguros será o objetivo principal das indústrias de rações do futuro. A otimização de um sistema de rastreabilidade, que permitirá acompanhar os ingredientes por todo o sistema de produção, bem como a revisão das condições dos produtos em cada etapa, já estão sendo desenvolvidos. As informações sobre a origem, os processos de produção realizados e a qualidade dos produtos entregues nos seus destinos estarão disponíveis para garantir a maximização do desempenho dos animais e a segurança alimentar.


E atualmente, o emprego de grãos cereais e oleaginosos na produção de biocombustíveis (etanol e biodiesel) está pressionando os preços dos alimentos (milho, soja, etc.) e aumentando os custos dos produtos avícolas. Eventuais colapso na oferta e disponibilidade destes alimentos provocarão sérios problemas na produção e produtividade da avicultura nacional.


Neste contexto, um amplo projeto de pesquisa está sendo desenvolvido na UENF – Universidade Estadual do Norte Fluminense, localizada em  Campos dos Goytacazes – RJ, em que se procura avaliar as novas tecnologias da produção de rações objetivando melhorar a sua qualidade, como a estratificação de grãos cereais pela mesa densimétrica e a utilização do expander para melhorar a qualidade das rações peletizadas, bem como aumentar a digestibilidade da energia e nutrientes.


A mesa densimétrica ou gravimétrica é um equipamento selecionador e classificador de grãos através de seu peso específico (Figura 1). Sua função é a segregação de impurezas, grãos avariados, mal formados, quebrados etc., o que permite sua utilização separadamente na produção diferenciada de rações para diferentes espécies e categorias animais.


Na Tabela 1, são apresentados os dados de classificação de grãos de milho, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, de frações obtidas através de uma mesa densimétrica (FAD – Fração de alta densidade; FDI – Fração de intermediária densidade e FDB – Fração de baixa densidade). Observa-se grande diferença entre as frações, principalmente quanto aos percentuais de impurezas e materiais estranhos segregados.


Os resultados do valor nutricional são apresentados na Tabela 2. Os níveis de energia metabolizável aparente corrigida (EMAn) foram obtidos em ensaios de metabolismo com frangos de corte em duas idades. Outras análises bromatológicas foram obtidas por análises laboratoriais.

 

Tabela 1 – Classificação de milho de frações obtidas da mesa densimétrica

CLASSIFICAÇÃO

FDA

 FDI

 FDB

Quebrados (%)

8,45

44,09

57,89

Ardidos (%)

2,33

 6,95

6,80

Carunchados (%)

3,25

 0,78

1,04

Chochos (%)

0,88

3,08

5,74

Impureza / fragmento (%)

1,52

3,83

9,24

Material estranho (%)

0,00

0,28

9,61

FAD;FDI e FDB – Milho de alta, intermediária e baixa densidade.

Tabela 2 – Valor nutricional das frações de milho obtidas da mesa densimétrica

Valor Nutricional

Unidade

FAD

FDI

FDB

EMAn – (15 a 19 dias)

kcal/kg

3.308

3.121

2.937

EMAn – (33 a 37 dias)

kcal/kg

3.413

3.362

3.174

Umidade

%

13,55

13,14

12,87

Proteína Bruta

%

8,38

8,63

9,00

Extrato Etéreo

%

4,35

4,37

5,08

Fibra Bruta

%

2,17

2,20

5,67

Matéria Mineral

%

1,05

1,10

1,60

Cálcio

%

0,06

0,07

0,06

Fósforo

%

0,23

0,23

0,29

FAD;FDI e FDB – Milho de alta, intermediária e baixa densidade.

EMAn – Energia metabolizável aparente corrigida pelo balanço de nitrogênio.

 

A Tabela 3 apresenta os resultados de análises de micotoxinas presentes nas diferentes frações de milho segregadas pela mesa densimétrica. Como pode ser observado, o milho de mais baixo peso específico apresentou os maiores níveis de aflatoxinas e tricotecenos (T2). A fração de melhor qualidade apresentou-se com baixos níveis de ambas as micotoxinas, o que demonstra a possibilidade da produção de rações de melhor qualidade, principalmente para os animais na fase inicial de crescimento.

 

Tabela 3 – Níveis de micotoxinas (ppb) das frações de milho

obtidas através da mesa densimétrica

 

   Frações

Aflatoxinas

Tricotecenos

FAD

      0,0

26,4

FDI

    79,0

61,5

FDB

   115,5

98,5

FAD;FDI e FDB – Milho de alta, intermediária e baixa densidade.

 

 
Os expanders são condicionadores que operam no sistema HTST (High-temperature-short-time), ou seja, em altas temperaturas a um curto período de tempo. O sistema é capaz de processar a ração com temperatura e umidade e também adicionar grandes quantidades de líquidos no farelado. A temperatura de condicionamento alcança de 100 a 150ºC, entretanto, o tempo de exposição é de apenas 2-3 segundos.


Atualmente, o expander está sendo utilizado na indústria de rações como condicionador de alta temperatura, como forma de melhorar a qualidade dos péletes produzidos pelo sistema de peletização. A qualidade dos péletes é um fator muito importante para se alcançar a maximização do rendimento dos animais.
Outras finalidades é a maximização do valor nutricional dos alimentos e higienização, com alta produtividade operacional.


A melhor temperatura de expansão de rações fareladas ainda não está bem estabelecida. Pesquisas na UENF com frangos de corte obtiveram resultados importantes quanto aos efeitos de diferentes temperaturas de expansão no valor nutricional das rações fareladas.


Os resultados do ensaio de metabolismo energético, para a fase inicial de 15 a 19 dias de idade, estão apresentados na Tabela 4. As energias metabolizáveis aparentes corrigidas (EMAn) para as temperaturas de expansão de 80, 100, 120 e 140ºC foram: 2.937; 2.900; 2.806 e 2.751 kcal/kg de ração, respectivamente. Observou-se uma redução linear dos níveis de EMAn com o aumento da temperatura de expansão.


Nas comparações relativas entre os valores das EMAn obtidas nas diferentes temperaturas de expansão, observou-se que as perdas entre as rações expandidas a 80 e 100ºC foram insignificantes, cerca de 37 kcal (-1,26%). Entretanto, para a expandida a 120ºC, o valor energético foi inferior em 131 kcal (4,46%), e para a de 140ºC significativamente inferior em 186 kcal (-6,33%).

Segundo os autores, estes resultados demonstram que, na fase inicial, pintos de corte maximizaram o aproveitamento energético das rações na faixa de temperatura de expansão entre 80 e 100 ºC, e que em temperaturas acima de 120ºC ocorrem altas perdas energéticas nas rações que podem comprometer a taxa de crescimento e conversão alimentar das aves nesta fase.

 

Tabela 4- Valores da energia metabolizável corrigida das rações iniciais de frangos de corte (15-19 dias) para as diferentes temperaturas de expansão

Temperatura de Expansão

Energia

Metabolizável

         Perdas / Ganhos

                Relativos 

 

ºC

kcal/kg

kcal/kg

%

 

80

2937

100

2900

-37

-1,26

120

2806

-131

-4,46

140

2751

-186

-6,33

 

Os resultados do segundo ensaio de metabolismo energético, para fase de crescimento de 31 a 35 dias de idade, estão apresentados na Tabela 5. Observou-se aumento da disponibilidade da EMAn até a temperatura de expansão de 120 ºC, com uma acentuada redução para o nível de 140 ºC .

Nas comparações relativas entre os valores das EMAn obtidas nas diferentes temperaturas de expansão, observou-se que as perdas relativas entre as rações expandidas a 80 e 100ºC foram reduzidas em apenas 14 kcal (-0,47%), enquanto para as expandidas a 120ºC foram superiores em 84 kcal (2,29%). Entretanto, para a temperatura de expansão de 140ºC, a perda energética foi de 138 kcal (-,23%), respectivamente.

Estes resultados demonstram que, na fase de crescimento (31-35 dias), os frangos de corte maximizaram o aproveitamento energético das rações na temperatura de expansão de aproximadamente 120ºC, e que em temperaturas próximas a 140ºC ocorreram altas perdas energéticas nas rações que podem comprometer o consumo, a conversão alimentar, a deposição de proteína e, conseqüentemente, trazer grandes prejuízos econômicos pelo aumento da idade de abate.

 

Tabela 5 – Valores da energia metabolizável aparente, corrigida das rações de crescimento de frangos de corte (31-35 dias) para as diferentes temperaturas de expansão

 

Temperatura de Expansão

 

Energia Metabolizável

Perdas/Ganhos

Relativos

ºC

kcal/kg

kcal/kg

%

80

3045

100

3031

-14,41

-0,47

120

3115

 84,12

 2,29

140

2977

-137,73

-2,23