Com a colheita de grãos atrasada, os Estados Unidos esperam com grande expectativa o relatório de oferta e demanda do departamento de agricultura (USDA), previsto para esta sexta-feira. A Expedição Safra da Rede Paranaense de Comunicação (RPC), que chegou terça-feira aos EUA para conferir as tendências do agronegócio na região líder na produção de milho e soja, encontrou o principal centro de referência das cotações agrícolas do mundo, a Bolsa de Chicago, mais vazia do que o normal. O compasso é de espera: no campo por causa das chuvas e no mercado devido à falta de números expressivos.
A expectativa dos produtores norte-americanos também é compartilhada no Brasil, onde avança o plantio da safra de verão. Os primeiros levantamentos revelam uma aposta menor no milho, cuja área migra principalmente para a soja. A explicação está nos preços deprimidos do cereal, embora a cotação da oleaginosa também não esteja tão interessante. A diferença está na maior liquidez da soja em comparação ao milho. A considerar os dados que serão divulgados amanhã pelo USDA, nas regiões onde o plantio ocorre mais tarde, ainda existe tempo de rever a destinação de área para o milho ou à soja.
O motivo principal da apatia do mercado são os preços pouco atraentes tanto para venda quanto para compra. Mas o ritmo de espera na Bolsa de Chicago deve-se em boa parte à falta de uma referência clara sobre o tamanho da oferta, incógnita ainda nas mãos do USDA. As estimativas a serem reveladas tendem a destravar os negócios nos EUA e também a deflagrar o plantio no Brasil. Se os preços estiverem melhores para a soja, a redução no cultivo de milho, anunciada pelos órgãos de pesquisa brasileiros, deverá se confirmar nas lavouras.
Nos Estados Unidos, a colheita está apenas começando nos 32 milhões de hectares de milho e 31 milhões de hectares de soja. Segundo o USDA, se não fossem as chuvas e as geadas (há inclusive previsão de neve para algumas regiões nesta semana) a tarefa poderia estar 25% cumprida no milho e 36% na soja. No entanto, esses índices estão em 10% e 15%. Com tanta umidade, o rendimento pode cair. Por enquanto, contudo, o que pesa no mercado são as previsões de safra cheia – 88 milhões de toneladas de soja e 329 milhões de toneladas de milho.
“O volume de negócios envolvendo commodities agrícolas está 15% abaixo do observado nesta mesma época ano passado”, afirma David Lehman, diretor de Pesquisa de Commodities da Bolsa de Chicago. “Sempre que a volatilidade aumenta, crescem os negócios. Quando não há picos, há menos interesse de compra e de venda”, complementa. Segundo Lehman, tudo pode mudar na sexta-feira, para melhor ou pior, a depender dos números do USDA.
Para acelerar os negócios, vale tudo no mercado. Os preços das commodities teriam permitido inclusive exportação de etanol de milho dos EUA para o Brasil, exportador de etanol de cana. Lehman não confirma a informação, mas relata que a notícia foi suficiente para agitar os negócios na bolsa, dando certa empolgação e recuperando o habitual nervosismo dos 500 brokers concentrados no local.