Quem visita a granja de Valter Takagashi, em Mairinque, sudeste de São Paulo, encontra instalações antigas e construções mais recentes. A família está no ramo há mais de 30 anos e utiliza os métodos tradicionais de produção de ovos. Nos galpões mais antigos, são duas galinhas por gaiola. Nos mais novos, as instalações são automatizadas e oito aves dividem o espaço, onde só quatro podem comer por vez. “Essa gaiola é funda em relação às mais antigas, então quatro comem e quatro ficam no fundo esperando. Tem que haver um rodízio das aves para todas se alimentarem”, diz Valter.
Outra prática é cortar a ponta dos bicos das galinhas para evitar o canibalismo e a escolha da ração.
A União Europeia deve adotar, a partir de 2012, novas regras para a avicultura de postura e esse tipo de gaiola pode mudar. Valter acha que vai ser complicado se adaptar às novas regras. “Algumas são difíceis de ser executadas. Ficaria não só caro, mas impraticável”, opina.
No Brasil, já tem gente que usa sistemas alternativos na produção de ovos, como em uma granja em Ipeúna, na região central do estado de São Paulo. Em vez de gaiolas, as aves são criadas soltas no galpão, com puleiros e lugar para botar os ovos.
O gerente industrial da granja, Luis Carlos Ematê, explica que a ideia é dar mais liberdade às galinhas. A filosofia é que o bem-estar das aves é transmitido para a qualidade do ovo. “Quando um animal é criado sobre condições de stress menores e com um bem-estar maior, entendemos que isso seja benéfico na medida em que nos alimentamos desses produtos”, diz.
As aves também não recebem, na ração, ingredientes de origem animal, como farinha de vísceras, sangue e ossos. Produtos naturais são colocados na ração, como extratos essenciais e óleos extraídos de plantas, além de um produto com cheiro de erva doce, para simular algo que a ave encontraria na natureza. “Essas substâncias contribuem no equilíbrio da digestão dos animais. Entendemos que isso é um aspecto fundamental quando abordamos a questão do bem-estar do animal”, diz Luis Carlos.
Tratamento parecido recebe o frango orgânico que a empresa engorda. As aves, desde o seu primeiro dia de vida, são criadas num manejo diferenciado e, a partir do 25º dia, ganham liberdade nos piquetes. É uma espécie de semi-confinamento que visa produzir carne de melhor qualidade. “É fundamental que os animais estejam bem, que eles não estejam sob estresse constante. O estresse crônico faz com que o sistema de defesa dos animais fique baixo e, consequentemente, eles ficam mais vulneráveis a doenças”, explica Luis Carlos.
Com esse sistema, o custo de produção do ovo aumenta 25% em relação ao preço do convencional. Já no frango, o gasto é maior: para produzir um quilo de carne, o custo é o dobro.
Em outra granja, em Porto Feliz (SP), as aves podem subir no tronco das árvores, passear pelo pasto e ciscar à vontade. Já se passaram 20 anos desde que o empresário Cláudio Rodrigues trouxe da França as galinhas que cria e um sistema diferente de manejo. “Aqui é o verdadeiro deita e rola. Elas ciscam, tomam banho de sol, comem verde, ficam à vontade para fazer o que quiserem”, conta.
As galinhas dessa granja podem passear à vontade no piquete durante o dia e entrar no barracão quando quiserem comer ou botar ovos. Para produzir o ovo orgânico, a granja utiliza, ainda, uma alimentação natural para as aves, soja, milho, trigo, sais minerais e calcário, tudo orgânico.”O benefício é um ovo mais saudável, um ovo com a gema mais vermelha A gente cuida do bem-estar animal, então as aves ficam livres e sem estresse”, diz Cláudio.