As chuvas chegaram antes do previsto ao Centro-Oeste e em quantidade maior que a habitual, o que estimulou a aceleração do plantio de soja na região. Benéfica para a semeadura, essa umidade adicional tem, por outro lado, cobrado seu preço. Os focos de ferrugem asiática, uma das doenças mais danosas para a cultura, também têm sido registrados muito antes do que seria razoável supor.
Até ontem, o Consórcio Antiferrugem – uma reunião de entidades públicas e empresas privadas da qual fazem parte, entre outros, a Embrapa Soja e fabricantes de defensivos agrícolas – já havia registrado dez focos da doença, em três diferentes Estados. Além de Goiás e Mato Grosso do Sul, no Centro-Oeste, também houve registro no nortista Tocantins.
Em Ponta Porã (MS) foi registrado o primeiro foco da safra 2009/10. Foi em uma planta nascida de forma espontânea, conhecida como soja “guaxa” ou “tiguera”. É comum que o grão que dá origem a essas plantas – caído no solo durante sua colheita ou transporte – germine, mas não que elas sejam atacadas tão cedo pelo fungo causador da doença.
Especialmente se for levado em consideração que em Mato Grosso do Sul ainda não terminou o chamado vazio sanitário, intervalo durante o qual o cultivo da oleaginosa é proibido. A ferramenta foi criada justamente para controlar a disseminação da doença. No Estado, o vazio vai se estender até esta quinta-feira.
Na safra 2008/09, os primeiros registros de ferrugem asiática em plantas nascidas espontaneamente ocorreram em meados do mês de novembro. “Nas lavouras de soja comercial, a ferrugem só foi encontrada em dezembro”, diz Cláudia Godoy, pesquisadora da Embrapa Soja em Londrina (PR). “No ano passado, com o tempo mais seco, a doença demorou mais para aparecer. Neste ano, a chuva veio antes e a ferrugem também”.
Com a chegada antecipada dos primeiros focos da doença, é de se supor que ela vá também se alastrar antes do que o de costume, o que preocupa os técnicos. Ao ser detectada, a doença exige aplicação imediata de fungicidas, medida que, em última instância, pode aumentar o número de aplicações ao longo da temporada – e, com isso, engordar a conta dos prejuízos que a doença já causou ao agronegócio nacional.
Desde a safra 2001/02, quando se formalizou o acompanhamento da ação da ferrugem nas lavouras brasileiras, a doença já causou perdas de US$ 11,6 bilhões, de acordo com o Consórcio Antiferrugem. Os dados – nominais, não atualizados – levam em conta os gastos com fungicidas para o controle da doença e, em alguns anos, também a perda com arrecadação causada pelo fungo. Em 2008/09, o prejuízo foi de US$ 1,5 bilhão.
Em Tocantins e Goiás, os registros recentes ocorreram em áreas irrigadas, liberadas do vazio sanitário para que nelas se possa produzir sementes. Há ainda o temor de perdas adicionais com um veranico. Este é um ano de El Niño, fenômeno de aquecimento das águas do Oceano Pacífico que causa tempo seco no centro do País.