O grupo francês Bonduelle anunciou ontem (07/09), em evento paralelo ao encontro empresarial franco-brasileiro, investimentos de R$ 115 milhões em uma fábrica de legumes em conserva no município de Cristalina (GO), a 140 quilômetros de Brasília.
Líder mundial no processamento de vegetais, a Bonduelle planeja produzir 120 mil toneladas anuais de ervilha, milho verde, brócolis, couve-flor, cenoura e beterraba até 2018. Em operação comercial desde 1994 no Brasil, o grupo prevê inaugurar a nova indústria até abril de 2010 com os primeiros embarques à Argentina. A Bonduelle terá foco no mercado interno e usará as novas instalações como plataforma de exportações para América Latina e EUA. A meta inicial é dominar 10% do mercado doméstico e gerar 5% do volume de produção global do grupo.
“Na Europa, produzimos em apenas 100 dias do ano. Em Goiás, teremos produção o ano todo”, diz o diretor do projeto brasileiro, João Alves Neto. “Já fizemos os primeiros ensaios com diversas sementes e a integração com produtores”. A empresa prevê encerrar o próximo ano com faturamento de R$ 150 milhões.
Na primeira fase do investimento, a Bonduelle, que atua em 80 países, desembolsará R$ 40 milhões para erguer o complexo de 15 mil metros quadrados em uma região que conta com uma área irrigada de 20 mil hectares por mais de 200 pivôs centrais. As vantagens naturais são o principal atrativo do projeto goiano. “Estamos no meio desses pivôs todos, temos produtores muito tecnificados e terras de alta produtividade”, diz Alves Neto. “E ainda vamos comprar a produção em um raio de 10 quilômetros da porta da fábrica”. Nos países onde atua (Europa, Rússia e Canadá), a empresa compra legumes de cerca de 4,6 mil produtores espalhados por 110 mil hectares.
A tecnologia francesa de embalagem à vácuo permitirá, segundo a Bonduelle, uma redução de 40% nos custos de transporte. “Faremos a conserva a vapor, o que reduzirá de 100 para 15 gramas a água por lata. O caminhão levará uma caixa de seis quilos em vez dos dez atuais”, revela o diretor brasileiro. A empresa aposta, ainda, na finalização da ferrovia Norte-Sul até 2012 para embarcar sua produção ao Hemisfério Norte pelo porto de Itaqui, no Maranhão. “Neste caso, o frete e o tempo de entrega devem cair pela metade”, diz Alves Neto, ex-executivo da concorrente Brasfrigo, do grupo financeiro BMG.
Os planos da Bonduelle, que emprega 8 mil funcionários e tem 37 fábricas em 18 países, incluem elevar a produção a 70 mil toneladas até 2015. A fábrica será ampliada para 32 mil metros quadrados. Nesta segunda fase, serão produzidos legumes resfriados, congelados e enlatados. A receita deve chegar a R$ 250 milhões. Na terceira etapa do projeto, a produção chegará a 120 mil toneladas e as vendas, a R$ 320 milhões.
Em estágio avançado, as obras de terraplanagem em Cristalina devem ser concluídas em breve. A Brasmon, segundo Alves Neto, deve iniciar a montagem dos galpões industriais em outubro. A opção da Bonduelle por Goiás incluiu a cessão de um terreno de 75 hectares em Cristalina, que detém a maior área irrigada por pivôs centrais da América Latina, e o financiamento do ICMS por 15 anos a juros de 2,4% ao ano. “No fim, vamos pagar entre 10% a 20% do imposto devido”, diz João Alves Neto.