A empresa de terras Radar, que tem como sócios o grupo Cosan e fundos de pensão americanos, deverá concluir nas próximas semanas a compra de 15 mil a 20 mil hectares de propriedades agrícolas voltadas para a produção de grãos na região Centro-Oeste do País. Com mais essa aquisição, a companhia, criada há um ano, totaliza cerca de 80 mil hectares de terras, com cerca de R$ 700 milhões investidos.
A meta da empresa é expandir seus negócios nos próximos meses em regiões com forte tradição no plantio de grãos. “A Radar não pretende ser uma operadora agrícola. As aquisições destas propriedades são para fazer arrendamento para grandes produtores”, afirmou ao Valor Marcelo Martins, vice-presidente financeiro e relações com o mercado da Cosan.
O “modus operandi” da Radar difere do da SLC Agrícola, principal empresa desse segmento no País e referência nesse mercado. A SLC, com 217,8 mil hectares adquiridos nos últimos anos, assume também o risco da cultura, uma vez que além de ser proprietária das terras, é produtora agrícola. Em suas propriedades rurais, a empresa cultiva algodão, soja e milho.
Idealizada por Martins, quando o executivo, egresso do mercado financeiro, foi convidado há dois anos para trabalhar na Cosan para atuar na divisão de M&A (fusões e aquisições) e novas estratégias de negócios, a Radar foi constituída para avançar em territórios agrícolas voltados para culturas lucrativas. Com a saída do executivo Paulo Diniz da companhia este ano, Martins assumiu a vice-presidência financeira e de relações com o mercado da Cosan. O executivo Ricardo Mussa foi contratado no ano passado para ser diretor-presidente da Radar.
Embora a Cosan tenha perfil sucroalcooleiro, a Radar não deverá focar seus negócios em compras de propriedades voltadas para plantio de cana. A razão é simples: cana já não é mais tão lucrativa como há dois anos. Nestes primeiros meses de atuação da Radar, cerca de 80% das terras da empresa estão arrendadas para cana, inclusive para a própria Cosan. “Mas isto está mudando”, afirmou Mussa.
Segundo ele, a companhia ficou alguns meses fora do mercado por conta da crise financeira global, mas agora está retomando seu apetite por aquisições. “Achava que os preços das terras estariam mais baixos, mas não mudaram muito se comparados com antes da crise.” O foco da empresa é adquirir terras na região do Centro-Oeste, sobretudo Mato Grosso, e também no oeste baiano.
Com um ano de operação no Brasil, a Radar não quer explorar regiões com pouca tradição agrícola. “Queremos manter um portfólio de baixo risco, com propriedades agrícolas com alta possibilidade de lucro. Nada de fronteiras que ainda não deslancharam”, afirma Mussa. Em julho, a empresa concluiu a compra de cerca de 12 mil hectares na área de soja.
O mercado de terras agrícolas tem despertado o interesse de grupos e fundos estrangeiros no País. Mas a partir do segundo semestre do ano passado, os negócios estagnaram por conta da turbulência global. Aos poucos voltam a ocorrer negócios.
Os preços médios das terras agrícolas no Brasil ficaram em R$ 4.446 por hectare no bimestre maio/junho, com alta de 1,2% sobre o bimestre anterior e de 2,6% em relação ao mesmo período um ano antes, segundo o último relatório da consultoria AgraFNP. Esse patamar é considerado recorde (em valor absoluto).
Mussa disse que a Radar não tirou proveito dos preços baixos durante a crise para comprar terras agrícolas. O foco da companhia é adquirir propriedades em regiões com produção agrícola já consolidada e as terras na região do Centro-Oeste e oeste baiano não costumam ser uma pechincha.