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Cooperativas

Cosuel faz do crédito um escudo contra concorrência

<p>A Cosuel, cooperativa gaúcha, usa crédito como defesa para garantir matéria-prima para crescer.</p>

A cooperativa Cosuel, de Encantado (RS), a 150 quilômetros de Porto Alegre, encontrou em um modelo de operação à disposição desde meados dos anos 90 o caminho para enfrentar, hoje, a acirrada competição por matérias-primas e os critérios mais rígidos adotados pelos bancos na liberação de financiamentos.

O sistema é baseado em convênios de auxílio financeiro firmados com a cooperativa de crédito Sicredi na região e os associados das duas instituições. Segundo o diretor-presidente da Cosuel, Gilberto Piccinini, esses convênios garantem desde investimentos e custeio no campo até a realização de grandes projetos, como a planta de leite em pó que começará a operar no início de 2011.

O modelo assegura, na prática, cooperados fiéis em tempos de forte competição com indústrias da área de lácteos que oferecem vantagens aos produtores quando necessitam de maior suprimento de leite. Conforme Piccinini, que também é vice-presidente do Sicredi local, 45% do faturamento da Cosuel vem da produção de leite longa vida e creme de leite da marca Dália. A venda de carne suína responde por outros 45%, enquanto insumos, material genético e operações de varejo são responsáveis pelos 10% restantes.

No segmento de suínos, como observa Piccinini, o tradicional sistema de integração já funciona como uma importante blindagem contra o assédio da concorrência sobre os associados.

A Cosuel reúne 3,3 mil produtores nos cerca de 70 municípios em que opera, sendo 18 na região de Encantado, onde 2 mil cooperados participam dos convênios com o Sicredi. No ano passado, faturou R$ 335 milhões, 88% no mercado interno e 12% com exportações de carne para mercados como Mercosul, Rússia e Hong Kong – o frigorífico acaba de ser habilitado a vender diretamente para a China.

Para 2009 a previsão é de uma receita da ordem de R$ 400 milhões, com incrementos de 12% no processamento de leite, para 109,5 milhões de litros, e de 15,5% no abate de suínos, para 359,2 mil cabeças. Segundo Piccinini, os níveis de endividamento da Cosuel são “baixíssimos”.

Conforme presidente do Sicredi em Encantado, Ricardo Cé, os convênios permitem acelerar a liberação de linhas como Pronaf, Proger (voltados especificamente para os pequenos agricultores), Moderagro e Moderinfra.

Os produtores recebem os recursos e se comprometem a entregar a produção resultante do investimento ou do custeio para a Cosuel, que faz os pagamentos por intermédio do Sicredi e permite que a cooperativa de crédito debite automaticamente os valores correspondentes às parcelas devidas pelos cooperados. O desenvolvimento de todos os projetos é acompanhado por técnicos das duas instituições.

Para o executivo, a garantia de suprimento de matéria-prima pesou na aprovação do financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que vai cobrir, com juros de 2% ao ano, 80% do aporte de R$ 55 milhões na fábrica de leite em pó em Arroio do Meio, município vizinho a Encantado.

A planta vai exportar 100% da produção e poderá processar 460 mil litros de leite por dia, elevando a capacidade instalada total da cooperativa para 900 mil litros diários. O volume adicional será alcançado gradativamente até 2015 com o apoio de investimentos adicionais de R$ 50 milhões nas propriedades dos associados.

A cooperativa também está investindo R$ 25 milhões neste biênio 2008-2009 para aumentar em 67% a produção de carne suína, segundo Piccinini. Desse total, cerca de 45% será destinado à expansão da capacidade de abate do frigorífico em Encantado, das atuais 1,5 mil para 2,5 mil cabeças de suínos por dia. O restante será empregado na ampliação das granjas próprias para a produção de leitões que são distribuídos aos associados para engorda.

Mas, além da agilidade na liberação dos financiamentos, os convênios também têm outras vantagens para os agricultores, como a aquisição de rações e medicamentos veterinários a preço de custo, afirma Piccinini.

No caso dos produtores de leite, o pagamento é feito todo dia 10, quando os associados recebem pelo fornecimento da matéria-prima, que oscila de R$ 0,66 a R$ 0,85 o litro (ante a média estadual de R$ 0,72), explica o diretor-presidente. Já os suinocultores integrados pagam pelos leitões e pelos insumos na entrega dos lotes de animais.

“Todos saem ganhando”, afirma o produtor Luiz Bonfanti. Segundo ele, que a cada 105 dias entrega lotes de 1,5 mil suínos para a Cosuel, os insumos mais baratos chegam a garantir custos de produção até 30% menores. O produtor também está começando a fazer a recria de matrizes de gado leiteiro e já mantém 28 animais na propriedade. Ele diz que na relação com a cooperativa de crédito, os benefícios incluem taxas e tarifas reduzidas em comparação com o mercado.

Para o Sicredi, os convênios geram maior volume de negócios com riscos reduzidos de inadimplência em função do casamento entre as liquidações dos créditos e os pagamentos da Cosuel aos produtores, explica o gerente regional Roberto Scorsatto. De acordo com ele, o volume anual de operações dentro desse modelo alcança aproximadamente R$ 30 milhões, divididos meio a meio entre investimentos e custeio. Já o nível de inadimplência é de apenas 0,1%.