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Crédito das tradings começa a se normalizar

<p>Crise fez oferta cair na safra passada. Cargill amplia recursos para financiar a soja e Bunge mantém.</p>

A partir do recrudescimento da crise financeira global, no último trimestre de 2008, ganhou corpo na agricultura o receio com a possibilidade de escassez de recursos para financiar a safra 2009/10. Preocupava, em especial, o declínio da atuação das tradings, que já haviam diminuído sua participação no financiamento da safra 2008/09. No momento, contudo, há evidências de que, mesmo que ocorra, a queda não será tão drástica como inicialmente se supunha.

A Bunge Alimentos deverá manter, em 2009, o mesmo nível de financiamento ao produtor por meio de compras antecipadas. Segundo Sérgio Roberto Waldrich, presidente da multinacional, em 2008 foram cerca de US$ 700 milhões, mais do que a média dos três anos anteriores. “O crédito era crescente, mas a safra de soja também era crescente. Sabemos que o produtor precisa de financiamento”.

Em entrevista recente ao Valor, Kenneth Geld, presidente da Louis Dreyfus Commodities, afirmou que a companhia também não diminuiu o volume de crédito em 2008 e não o fará em 2009. A Cargill já informou que desembolsará entre US$ 500 milhões e US$ 550 milhões em operações de financiamento aos produtores na safra que começará oficialmente em julho, montante superior aos US$ 400 milhões da temporada 2008/09.

 
Há empresas que argumentam que, em lugar de diminuição dos recursos para financiar os agricultores, há uma “percepção” de que os desembolsos são menores. Em outras palavras, os recursos podem até ser os mesmos da temporada anterior, mas com a alta do preço da soja, o volume físico a ser financiado é menor. Foi o que ocorreu na temporada 2008/09, afirma Waldrich, da Bunge.

Na bolsa de Chicago, referência internacional para a formação de preços agrícolas, o grão tem sido negociado em patamar superior a US$ 11 por bushel, praticamente o dobro da média histórica, registrada até 2007, de US$ 6 por bushel. “O argumento [sobre a percepção de queda da participação das tradings] perde um pouco de força se a comparação for feita apenas com os dados de 2008, quando a soja chegou a US$ 16 por bushel, mas faz todo o sentido se compararmos com a média histórica”, diz Seneri Paludo, superintendente do Instituto Mato-Grossense de Economia Agrícola (Imea).

A percepção de que a atuação das tradings no financiamento aos agricultores diminuiu mais do que efetivamente ocorreu não tem relação apenas com o aumento do preço das commodities agrícolas em geral e com o da soja em particular. Por problemas financeiros, empresas com participação relevante nessa frente – em especial em Mato Grosso, principal produtor de soja do país e mais dependente dos recursos ofertados pelas tradings – deixaram de atuar. Foi o caso da Agrenco em 2008, é o da Viana Trading neste ano. Endividadas, ambas entraram em recuperação judicial.

Também há que se levar em conta que, ainda que se mantenham em patamares elevados em comparação com o que se verificava até 2007, os custos de produção caíram nos últimos 12 meses. “Estamos percebendo que as tradings estão atuando um pouco mais este ano”, diz Glauber Silveira, presidente da Associação dos Produtores de Soja do Estado de Mato Grosso (Aprosoja). “No ano passado”, afirma ele, “O custo estava em US$ 1 mil por hectare, e neste ano está em torno de US$ 600, US$ 680. Mesmo que ocorra, a redução do crédito está sendo neutralizada pela queda do custo de produção”.

O Imea ainda não concluiu o estudo que mostrará a composição das fontes de recursos para a safra 2009/10 em Mato Grosso. A Agroconsult pretende apresentar novo levantamento sobre o tema. No mais recente, divulgado pela consultoria há três meses, a previsão era que seriam utilizados R$ 6,520 bilhões para financiar o cultivo de soja no Estado em 2009/10 – no ciclo anterior, foram R$ 6,870 bilhões. A participação das tradings, de acordo com o levantamento, deveria variar de 25% para 24% entre uma safra e outra.