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Negociadores aspiram por nova chance para Doha em setembro

<p>Embaixador esteve ontem na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) para explicar o chamado "fracasso" das negociações da Rodada Doha.</p>

Redação (13/08/2008)- A Rodada Doha de negociações para a liberalização do livre comércio no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC) poderá ter uma nova chance em setembro, quando os negociadores da OMC voltarem do recesso de agosto em Genebra, Suíça. "Essa será uma janela de oportunidade muito pequena", afirmou o embaixador e chefe dos negociadores brasileiros na OMC, Roberto Azevedo.

O embaixador esteve ontem na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) para explicar o chamado "fracasso" das negociações da Rodada Doha, iniciada em 2001 e cuja última tentativa de avanço em julho em Genebra acabou novamente travada desta vez pela China e pela Índia que não aceitaram as propostas colocadas na mesa devido a uma falta de consenso em relação à questão da aplicação das salvaguardas especiais para os países em desenvolvimento. Ele afirmou que as conversas não foram interrompidas e os negociadores procuram encontrar um consenso para tentar uma nova retomada da rodada, mas essa retomada dependerá, principalmente, de vontade política dos governos dos países membros.

Azevedo disse ter conversado pessoalmente com representantes de vários países, como China, Índia e EUA sobre o assunto e buscando mapear os problemas para que se avance nas discussões ou se o item das salvaguardas especiais para os países em desenvolvimento – tema criticado pela indústria brasileira – é o único tema de conflito.

"Agora a OMC se encontra em período de recesso, mas isso não quer dizer que a gente não esteja trabalhando", disse, confirmando que uma retomada com mais delegações só poderá acontecer em setembro. "Se o problema forem somente as salvaguardas especiais, o grupo de países que se reunir será menor. Mas se houver outros problemas, o número de países será maior", disse Azevedo acrescentando que o próprio Itamaraty está fazendo seu dever de casa e traçando um diagnóstico ao longo desta semana e da próxima para o mapeamento dos problemas que poderão surgir na mesa de negociação e levar a rodada para um novo impasse. Participaram da reunião cerca de 40 executivos e empresários associados à Fiesp.

Durante as negociações no mês passado em Genebra, o Brasil, como líder do G20 (grupo dos países em desenvolvimento) acabou aceitando a proposta colocada na mesa pelos países desenvolvidos. Para o diretor de negociações internacionais da Fiesp, Mario Marconini, o posicionamento do Brasil durante as negociações foi elogiado pelos membros da entidade. "O País ganhou um novo status de negociador. Ele subiu mais um patamar", disse ele, acrescentando que a indústria brasileira apóia o texto da proposta industrial, ou Nama (na sigla em inglês), como ele foi apresentado e não aceitará mudanças.

Maratona é pouco
Azevedo evitou mencionar a palavra fracasso para Doha e procurou fazer uma analogia com uma maratona sem um percurso definido e uma linha de chegada à vista. "Deram a partida e vamos continuar correndo", brincou. "Acho que a Rodada Doha só morre quando o maratonista entregar os pontos. Em julho, ele sentou na calçada, pegou uma agüinha, deu uma boa respirada e espera o pessoal voltar a retomar a correr. Agora está todo mundo caminhando. Não tem ninguém sentado na calçada. O pelotão da frente está confabulando se continua correndo ou não."

De acordo com o embaixador, o Brasil vai continuar perseguindo a oportunidade sempre que ela aparecer, pois um acordo multilateral continua sendo a prioridade da política externa do governo brasileiro. "Se houver massa crítica para essa discussão, se os principais parceiros comerciais estiverem dispostos a negociar, nós vamos participar e nos engajar", afirmou. Segundo ele, Doha continuará como prioridade porque existem assuntos que só podem ser discutidos no âmbito multilateral, como subsídios e regras de comércio.

No caso de um fracasso, Azevedo disse que medidas contra os subsídios agrícolas e tarifas sobre etanol brasileiro aplicados pelos países desenvolvidos serão tomadas no âmbito da OMC. "Há preocupação com o etanol. É evidente que esses questionamentos serão feitos se eles não forem definidos na rodada."

Tanto Azevedo quanto Marconini acreditam que o prazo está muito apertado para que se consiga fechar Doha até dezembro, como espera o diretor geral da OMC, Pascal Lamy. "A rodada deveria ser concluída agora", afirmou Azevedo. Segundo ele, os contatos que ele tem feito por telefone nos níveis de altos oficiais indicam que existe uma possibilidade para uma retomada em setembro e, no momento, os entraves estão sendo levantados. "Se a gente resolver esses problemas será possível ver as respostas para as indagações e procurar ver se há um esforço para um avanço para as próximas semanas."

Para Azevedo, com mais quatro ou cinco dias de debates em Genebra em julho, Doha teria sido concluída mas o prazo foi curto. "Há maneiras em que a gente consiga negociar um mecanismo de salvaguarda que atenda os interesses dos importadores e exportadores." De acordo com o negociador do Itamaraty, nunca houve consenso sobre salvaguardas especiais no G20. "O que se verificou é que não havia interesse ou possibilidade de convergência dentro do G20", admitiu.