O novo relatório mostra a evolução do intercâmbio de bens e serviços no ano passado e contém um amplo estudo sobre o comércio num período de globalização. ””O relatório não poderia vir em momento melhor””, disse Lamy, referindo-se ao estágio decisivo das negociações da Rodada Doha. O estudo confirma os efeitos benéficos da globalização, em termos de expansão do comércio e da produção, de modernização e difusão do avanço tecnológico, de racionalização do uso de recursos e de criação de oportunidades para milhões de trabalhadores.
Doha e a globalização
<p>Um novo relatório mostra a evolução do intercâmbio de bens e serviços no ano passado e contém um amplo estudo sobre o comércio mundial num período de globalização.</p>
Redação (16/07/2008)- Os governos darão um sinal ominoso a todo o mundo, se a Rodada Doha de negociações comerciais atolar em novo impasse na conferência ministerial da próxima semana, advertiu o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, ao apresentar, ontem, o relatório anual da entidade. ””Como será preenchido o vazio deixado pela ruptura de uma negociação multilateral das dimensões e da importância da Rodada Doha?””, perguntou Lamy. A globalização, segundo ele, não vai parar. O processo continuará, movido por fatores como a inovação tecnológica, mudanças políticas e práticas empresariais em evolução. O resultado será provavelmente bem melhor, se a integração comercial prosseguir de maneira ordenada, sugeriu o diretor da OMC.
Os autores do relatório, no entanto, não mostram somente os benefícios produzidos pela crescente integração econômica da maior parte dos países. Esses benefícios, admitem, foram distribuídos de forma desigual. A abertura dos mercados, a mudança tecnológica e a redistribuição geográfica da produção, para citar só alguns fatores, produziram desequilíbrios, deixando alguns grupos de trabalhadores em desvantagem. O desajuste foi enfrentado com políticas apropriadas em vários países, mas não em todos. O relatório explora esses problemas e as soluções adotadas, mas o balanço geral é bastante positivo.
Economias emergentes, incluída a brasileira, estão na lista das grandes beneficiárias da integração econômica internacional. Estarão também, segundo outro estudo da OMC, entre as principais ganhadoras de um acordo razoável na conclusão da Rodada Doha.
O governo brasileiro sabe disso, e por esse emotivo apostou tantas fichas no sucesso da negociação multilateral. As novas cartas postas sobre a mesa, com os novos esboços de acordos sobre agricultura e indústria, são mais satisfatórias que as anteriores em vários aspectos. Mas ainda contêm armadilhas, como a possibilidade de ampliação da lista de produtos agrícolas ””sensíveis”” e sujeitos ao protecionismo. Os negociadores brasileiros deverão dedicar boa parte de seus esforços, na reunião da próxima semana, em Genebra, à tentativa de eliminar essas armadilhas. Se tiverem sucesso, haverá boas possibilidades de um acordo sobre acesso a mercados agrícolas e industriais.
Mesmo com as distorções ainda em vigor e com os efeitos da crise financeira internacional, o comércio continuou a crescer em 2007, como indica o relatório da OMC. Calculada em dólares correntes, a exportação mundial de bens cresceu 15% no ano passado. Entre 2000 e 2007, a expansão média anual foi de 12%.
As vendas brasileiras ao exterior avançaram em média 17% ao ano nesse período e mantiveram esse desempenho em 2007, alcançando US$ 161 bilhões, 1,19% do total mundial. O desempenho brasileiro foi superado pelo de uns poucos países, como a China (26%), a Índia, a África do Sul e a Alemanha (todas com 20%).
O bom resultado brasileiro foi favorecido em 2007 e continua sendo em 2008 pelos preços dos produtos agrícolas e, de modo geral, dos produtos básicos. Mas a importação cresceu ainda mais no ano passado (32%, uma das maiores taxas indicadas no relatório da OMC) e a tendência se repete em 2008. Mas a expansão das importações não deve ser motivo de preocupação, segundo Lamy, porque está sendo financiada com segurança e decorre basicamente do aumento de consumo dos pobres e das compras de máquinas e equipamentos. Os técnicos da OMC mostram maior inquietação diante da crise internacional, capaz, segundo seus cálculos, de reduzir sensivelmente o crescimento do comércio. Mais uma boa razão, segundo eles, para concluir a Rodada Doha e criar as bases para uma nova etapa de prosperidade global.