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Bons preços provocam safrinha de milho recorde

<p>Exportações e baixos estoques mundiais levam produtores a ampliar área plantada. Primeiras estimativas de plantio indicam aumento médio de 10% nas principais regiões produtoras; no Paraná, área deve subir 13%.</p>

Redação (18/12/2007)- O mercado brasileiro de milho está mudando. Os bons preços no mercado interno, a abertura externa ao produto e os baixos estoques mundiais provocados pela utilização do grão na produção de bioenergia nos Estados Unidos fizeram o agricultor acreditar ainda mais no produto no próximo ano.

Para aproveitar melhor essa abertura do mercado e a recuperação dos preços, o produtor está ampliando a área de plantio e buscando sementes de qualidade. Maior área e produtividade maior poderiam ser um alívio para o mercado interno, tão conturbado nesta entressafra.

Alguns analistas afirmam, no entanto, que as dificuldades internas de abastecimento, provocadas pelas exportações superiores a 11 milhões de toneladas neste ano, podem continuar no próximo ano. Os norte-americanos, maiores exportadores mundiais de milho, vão plantar menos -e parte da demanda externa pode ser novamente suprida pelo Brasil.

Essa demanda externa está provocando uma mudança no mercado brasileiro de milho, que caminha para ser uma commodity como a soja. Ou seja, um mercado com maior liquidez de produto, tanto para o mercado interno como para o externo.

As primeiras estimativas de plantio na safrinha -período de inverno- indicam crescimento médio de 10% nas principais regiões produtoras. Só no Paraná, principal Estado produtor, a área semeada na safrinha subirá para 1,65 milhão de hectares, 13% acima da deste ano e 69% acima da de 2006.

Os dados fazem parte da primeira estimativa de safrinha da Agência Rural, de Curitiba, que prevê, pela primeira vez, área superior a 4,6 milhões de hectares na região centro-sul.

"O próximo ano, assim como está sendo 2007, volta a ser mais um ano do milho." A afirmação é de Fernando Muraro, diretor da AgRural. Mudanças no cenário norte-americano -que se voltará mais para o plantio de soja do que para o do milho- colocarão o Brasil de novo na rota das importações.

Os importadores gostaram do produto brasileiro e já fazem contratos de compra para 2008. Mas, segundo Leonardo Sologuren, da consultoria Céleres, os produtores estão fazendo antecipações de vendas em número menor neste ano devido à valorização dos preços.

Estoque menor
Há alguns fatores básicos para a redução da área de milho nos Estados Unidos, segundo Muraro: os preços da soja correspondem a 2,5 vezes os do milho; os custos dos fertilizantes nitrogenados tornam mais elevados os custos de produção do milho; e após aumentar em 6,3 milhões de hectares a área plantada com milho no ano passado, os norte-americanos voltam a fazer a "rotação" de cultura em 2008 -e plantam mais soja. Com isso, os estoques de milho voltam a ficar críticos, sustentando os preços.

Sologuren diz que o cenário está favorável para o crescimento de área e que a Céleres deve divulgar dados sobre a safrinha na primeira quinzena de janeiro. Aproveitando os preços favoráveis, o produtor está interessado no plantio de milho, mesmo após o atraso no cultivo da soja, devido à seca. Prova disso são as diversas práticas para acelerar a semeadura do cereal.

Entre elas, Sologuren cita maior uso de máquinas; adubação a lanço (anterior ao plantio; em geral é feita ao mesmo tempo), compra de sementes tratadas e dessecagem de soja para antecipação de colheita objetivando deixar o terreno limpo o mais rápido possível.

Essa opção do produtor brasileiro pelo milho pode encontrar dois obstáculos, segundo Muraro: clima e falta de sementes de qualidade. Há dois anos, poucos pensavam em sementes de alta tecnologia no plantio de milho. Devido à grande procura, o produtor já encontra dificuldades em adquirir sementes, diz o diretor da AgRural. Sologuren cita outro empecilho para ao produtor: a dificuldade na liberação de crédito.

Investir em sementes
José Pitoli, da Copermibra (Cooperativa Mista Agropecuária do Brasil), cooperativa no noroeste do Paraná, confirma o maior plantio de milho na safrinha. Na avaliação de Pitoli, a área deve crescer cerca de 15% no Paraná. Ele diz também que algumas variedades de semente já não estão mais disponíveis no mercado.

Ricardo Ribeiro, diretor da Syngenta, uma das produtoras de sementes de alta tecnologia no Brasil, diz que realmente está havendo uma mudança de comportamento dos produtores nos últimos dois anos, após o boom do álcool de milho nos Estados Unidos. A indústria de sementes, no entanto, está preparada para essa demanda.

Esse novo interesse dos produtores por sementes de qualidade faz com que as indústrias também invistam mais no setor. A Syngenta tem programados investimentos de US$ 30 milhões nos próximos cinco anos apenas no setor de milho.

Ribeiro diz que cada vez mais os produtores usam sementes com alto desenvolvimento tecnológico, o que aumenta a produtividade para 9.000 quilos por hectare e a rentabilidade para 40% a 60%, dependendo dos preços finais do produto.

Pitoli diz que, a exemplo do ano passado, os produtores vão ganhar dinheiro com o milho. Os custos com insumos na safrinha devem ficar em 22 sacas por hectare. Acrescidos os demais custos, somam 40 sacas, mas a produtividade deve ficar em 55 sacas por hectare.