Redação (26/11/2007)- A indústria avícola não só vai reduzir o alojamento dos animais no início do ano que vem – em pelo menos 30% – como também pode ter de abater frangos com peso menor por falta de milho para alimentá-los, descartar de matrizes e frear os investimentos até a entrada da nova safra. A exportação recorde do produto – que pode bater 11,5 milhões de toneladas em 2007 – deixou o mercado desabastecido e o preço do produto a valores acima dos históricos: R$ 32 a saca (60 quilos), em São Paulo, com aumento de mais de 30% nos últimos três meses.
Diante deste quadro, os produtores de aves pedem a intervenção do governo. Eles querem que as importações do cereal transgênico sejam liberadas e as exportações limitadas. "Se o mercado é livre para exportação, tem de ser livre para importar também", afirma Érico Pozzer, presidente da União Brasileira de Avicultura (UBA). Segundo ele, o setor pediu um limite nas remessas do grão – 8 milhões de toneladas – que não foi atendido e a importação do cereal. No entanto, a compra externa depende da liberação da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio).
"Não adianta mais nada. É uma conseqüência reduzir o consumo", afirma Paulo Molinari, da Safras & Mercado. Pelas suas projeções, antes de janeiro não será mais possível adquirir o produto de outro país e, como as empresas não reduziram o alojamento para o final do ano – época em que a demanda aumenta – a estimativa é que falte alimento para os animais e, com isso, sejam levados ao abate menos pesados. Em média, para o mercado interno, o frango é abatido com 2,4 quilos. "Vai ter de reduzir o peso médio e matar pintinho", acredita o analista. Na prática, segundo o presidente da UBA, o consumidor brasileiro pagará mais caro por um frango mais leve. "Teremos de repassar o aumento de custo e, muito provavelmente abater os animais mais cedo", afirma Pozzer. De acordo com ele, as empresas estão com dificuldades de adquirir milho devido ao preço.
Pozzer diz que o pouco milho do mercado interno está nas mãos de atravessadores, que estariam especulando . Na sua avaliação, o preço chegou ao limite. Opinião contrária tem Molinari: "Não sabemos até que valor pode chegar". Para o analista Leonardo Sologuren, da Céleres, a limitação da venda externa é uma solução de curto prazo que não resolve o problema. "A plataforma de exportação estimula o preço e, conseqüentemente o aumento de área, gerando um equilíbrio futuro, como ocorre na soja", diz.
"O setor não tem certeza de nada. Não sabemos o quanto de estoque há nas mãos da Conab e das cooperativas. Por isso é melhor se precaver agora porque há previsão realmente de que em fevereiro falte milho no mercado brasileiro", argumentou o presidente do Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Paraná (Sindiavipar), Domingos Martins. Segundo ele, mais uma vez o setor pediu a liberação da importação de milho da Argentina e do Paraguai. O produto dos países vizinhos chegaria ao Paraná a R$ 28 a saca. "Nós estamos recomendando ao produtor que quebre os ovos na máquina ou mesmo mate os pintinhos para não aumentar a produção e que cumpra somente os contratos já assumidos até março", disse.
Em Mato Grosso, segundo Alécio Domênico, presidente do Fórum Avicultura do estado, os produtores pedem que o governo siga ofertando seus estoques até março para que tenham alimento aos animais até a entrada da safrinha. "A indústria e produtor não têm dinheiro para estocar e pode entrar em colapso", afirma. Segundo ele, 80% da safra local foi exportada e, por isso, se o governo não mantiver os leilões, haverá redução de plantel de frango e de poedeiras.
Apesar da crise momentânea, ainda tem empresas investindo. A Cooperativa Agroindustrial de São João (Coasul), anunciou R$ 80 milhões na instalação de um abatedouro de aves no município de São João, no Sudoeste do Paraná. Segundo seu presidente, Paulino Capelin Fachin, a unidade industrial terá capacidade para abater 100 mil aves por dia. Na primeira fase , o projeto vai beneficiar cerca de 330 produtores rurais cooperados e suas famílias.
Fachin diz que a indústria deverá entrar em funcionamento no primeiro semestre de 2009. Deverão ser produzidas 90 mil toneladas de carnes de aves por ano, sendo que 70% para a exportação . "O projeto é fundamental para a cooperativa, que agora vai atuar com mais força na agroindústria, buscando agregar valor à produção dos cooperados", disse o presidente da Coasul.