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Bem-estar norueguês

<p>Pesquisadora da Noruega apresenta programa de bem-estar aplicado na suinocultura de seu país e destaca que Brasil precisa se preparar para o momento em que esta questão se tornar relevante para os seus consumidores.</p>

Redação SI (19/10/2007) – A suinocultura na Noruega é uma dos menores do mundo. O seu plantel possui 80 mil matrizes, com um abate anual de 1,5 milhão por ano. A sua localização e características geográficas contribuem para que possua um elevado nível sanitário, sem Doença de Aujeszky, PRRS e com incidência positiva menor que 0,05% para salmonela. Os noruegueses não exportam. A sua produção atende somente ao mercado interno. Entre os desafios de sua suinocultura está o alto custo de produção, mão-de-obra e construções. No entanto, o país pode se tornar uma importância referência ao Brasil dentro das discussões ligadas ao bem-estar animal. O país possui um programa de adesão voluntária que certifica granjas que atendam às exigências de bem-estar. "Não é um programa a ser integralmente copiado porque nossas características são bem diferentes da realidade brasileira, mas pode ser um importante ponto de partida nas discussões visando o desenvolvimento de um programa por aqui", comenta Elisiv Tolo, pesquisadora do Animália, instituto norueguês, no qual trabalha com esta temática.

O programa foi implementado há quatro anos. A pesquisadora conta estas mudanças se deram após uma reportagem em que um programa de tevê local apresentou como eram feitas as castrações em granjas, as quais não se utilizam de anestésicos. A matéria gerou uma grande repercussão junto à população e aos políticos, culminando com a criação de uma lei que proíbe a castração de suínos a partir de 2009. Até lá, o procedimento só poderá ser feito por veterinários e com o uso de anestésicos. A castração tem sido feita até a quarta semana de vida do leitão e gerou um custo adicional de 30 coroas, correspondente a algo próximo de R$ 10 por leitegada. Mas isto é apenas um dos pontos deste programa, que por enquanto é de adesão voluntária no País.

Com ele, foi criado um manual. Cada capítulo possui de 3 e 13 pontos críticos de controle, com uma pontuação final de 1 a 4 para cada um deles, sendo a 4 como inaceitável. O produtor passa por um treinamento e caso consiga atender aos requisitos, recebe uma certificação. Elisiv explica que o objetivo por enquanto é o de sensibilizar o suinocultor para a necessidade de bem-estar, motivando-o a adotar estas práticas. As adequações são custeadas pelo próprio suinocultor. Não há subsídios governamentais. No entanto, o consumidor norueguês tem se mostrado apto a pagar mais caro pelos produtos oriundos de sistemas produtivos que respeitem o bem-estar.

 

Conceito – Gerar a possibilidade de o animal expressar o seu comportamento natural em sistemas intensivos está dentro do conceito de bem-estar. Isto é um dos principais desafios, mas tem que estar atrelado a condições nas quais ele não sinta dor, medo e tenha conforto condizente à sua espécie. Elisiv aponta que na chamada "produção verde", se cria estas condições, no entanto, é muito mais difícil se otimizar a sanidade do plantel. Na produção intensiva, a biosseguridade e uso de vacinas e medicamentos, além de outros manejos, permite a eliminação de patógenos. Porém, se torna difícil ao suíno expressar seu comportamento natural. "O ideal seria conseguirmos algo intermediário entre os dois sistemas", aponta Elisiv.

Uma das principais mudanças no sistema norueguês foi a adoção de baias na maternidade ao invés de gaiolas. O tamanho indicado é 7 m2. Esta mudança tem como grande desafio o esmagamento de leitões, que ocorre em maior quantidade do que nas gaiolas. No entanto, um levantamento citado por Elisiv mostrou que não há diferença significativa entre a mortalidade totais dos leitões nos dois sistemas. Em criações em gaiolas há mais morte por outros motivos enquanto que nas baias a maior causa é mesmo o esmagamento.

Sobre o Brasil, a pesquisadora acredita que toda a cadeia produtiva deve se unir e iniciar uma discussão sobre as mudanças que as exigências por bem-estar trarão a suinocultura. "Talvez ainda pareça estranho o que estou falando aqui hoje, mas é uma tendência e quando ela chegar é bom já estar preparado e com respostas frente aos impactos que estas mudanças vão provocar na atividade", ressaltou.