Redação SI (02/07/08) –
Caio Abércio da Silva1 ; Piero da Silva Agostini 2
Nos últimos anos, a suinocultura brasileira tem passado por constantes períodos de instabilidade, principalmente pelo baixo preço do produto associado aos custos elevados de produção. A nutrição representa em torno de 70% dos custos totais, sendo que o milho e o farelo de soja são tidos como os principais ingredientes. Em virtude da alimentação de suínos sustentar-se basicamente desses insumos, qualquer variação na composição dos custos desses produtos refletirá diretamente na margem de lucros do suinocultor (TRINDADE NETO et al., 1995)
Com isso, tem se buscado formas que possam diminuir os custos, onde as alternativas representam uma das melhores oportunidades.
Dentre os diversos produtos que podem substituir o milho e o farelo de soja está os subprodutos derivados do girassol. Nos últimos anos o cultivo do girassol tem se expandido significativamente principalmente na região Centro-Oeste do Brasil onde também tem se dado o crescimento paralelo da suinocultura.
Segundo CASTRO et al., (1996), o girassol apresenta características importantes, como maior tolerância a seca, ao frio e ao calor quando comparado a maioria das espécies normalmente cultivadas no Brasil.
ROSSI (1998) afirma que mais de 90% da produção mundial de girassol destinam-se a elaboração de óleo comestível, e a maior parte dos 10% restantes, para a alimentação de pássaros e para consumo humano direto.
Em média, para cada tonelada de grão são produzidos 400kg de óleo, 250kg de casca, 350kg de torta, sendo este subproduto, basicamente, aproveitado na produção de ração, em misturas com outras fontes de proteína (CASTRO et al., 1996).
Atualmente existem dois processos para a extração do óleo de girassol, o primeiro e mais eficiente utiliza solventes químicos (hexano) associado a altas temperaturas onde obtém-se como subproduto o farelo de girassol (produto mais disponível no mercado), o segundo e com menor grau de eficiência é obtido pelo uso da prensagem a frio onde o subproduto resultante é a torta de girassol. Pela maior eficiência do primeiro processo o farelo contém baixo teor de gordura, que gira em torno de 0,5 a 5 %, em contrapartida, a torta contém altos níveis de gordura devido a ineficiência no processo de extração que está em torno de 18 % e pouco mais de 20 % de proteína bruta (OLIVEIRA, 2003).
A torta apresenta características nutricionais intermediárias entre o grão e o farelo de girassol. Segundo SILVA et al., (2002 a), os valores da composição da torta gorda de girassol, expressos na matéria natural, foram de 7,57% de umidade, 22,19% de proteína bruta, 22,15% de extrato etéreo, 4,68% de matéria mineral, 0,35% de cálcio, 0,70% de fósforo e 23,28% de fibra bruta e, em um ensaio de digestibilidade em suínos, encontraram valores de energia digestível e metabolizável de 3421 e 3247 Kcal/kg, respectivamente, indicando ser este um ingrediente de perfil energético e de nível protéico intermediário, mas com elevado nível de fibra bruta.
Quanto ao uso da torta de girassol, os trabalhos são escassos, SILVA et al., (2004) utilizaram 4 níveis de inclusão (0, 5, 10 e 15%) deste ingrediente em substituição parcial ao milho e ao farelo de soja em rações de suínos em fase de crescimento e terminação e observaram que os índices de desempenho e as características de carcaça não sofreram nenhuma influencia (P>0,05) negativa para qualquer dos níveis utilizados. Quanto aos custos, os autores verificaram que os melhores resultados foram obtidos para a inclusão máxima de 15% de torta de girassol.
No entanto, a composição bromatológica da torta pode variar por diversos fatores como o tipo de solo, a variedade do grão utilizado e o tipo de prensa bem como sua regulagem.
Portanto, verifica-se que existe uma ampla opção de uso do girassol e de seus co-produtos na alimentação animal, sendo que a escolha do produto mais adequado está relacionada com as características sócio-economicas da região, à presença de uma indústria de óleo próxima as áreas produtoras de girassol, às oportunidades de mercado (venda ou utilização direta do grão nas rações), entre outras.
Preservadas estas particularidades, o conhecimento das características nutricionais e potencialidades de cada produto para uso como ingrediente nas rações é fundamental para a otimização dos resultados produtivos e econômicos da suinocultura.
1 Professor Doutor Departamento de Zootecnia da Universidade Estadual de Londrina (UEL)
2 Mestrando em Ciência Animal da Universidade Estadual de Londrina (UEL)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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CASTRO, C. de; CASTIGLIONI, V.B.R.; BALLA, A.; LEITE, R.M.V.B.de C.; KARAM, D.; MELLO, H.C.; GUEDES, L.C.A.; FARIAS, J.R.B. A cultura do girassol. Londrina: EMBRAPA-CNPSo, 38p. (EMBRAPA-CNPSo. Circular Técnica, 13), 1998.
OLIVEIRA, M.D.S. Torta da prensagem a frio na alimentação de bovinos. In: SIMPÓSIO NACIONAL XV REUNIÃO NACIONAL DA CULTURA DE GIRASSOL, 3., 2003, Ribeirão Preto. Anais… Ribeirão Preto, (CD ROM), 2003.
ROSSI, R.O. Girassol. Curitiba: Tecnoagro. 333p. 1998.
SILVA, C.A.; PINHEIRO, J.W.; FONSECA, N.A.F. et al. Digestibilidade da torta de girassol para suínos na fase de crescimento. In: Congresso Latino Americano de Suinocultura, 1., 2002, Foz do Iguaçu. Anais… Concórdia: Embrapa Suínos e Aves, p.219-220. (CD-ROM), 2002a.
SILVA, C.A.; PINHEIRO, J.W.; COSTA, M.C.R.; BRIDI, A. M.; BELLE, J.C.; AGOSTINI, P.S. Utilização da torta de girassol na alimentação de suínos em fases de crescimento e terminação: efeitos no desempenho e nas características de carcaça. In: II Congresso Latino Americano de Suinocultura, Foz do Iguaçu, p.247, 2004.
TRINDADE NETO, M.A.; LIMA, J.A.F.; FIALHO, E.T. et al. Farelo de glúten de milho (FGM) para suínos em crescimento e terminação (desenvolvimento). Revista da Sociedade Brasileira de Zootecnia, v.24, n.1, p.108-116, 1995.